Inimigos de várias era

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Inimigos de várias era

Zoom Pg. 04

29 de fevereiro de 2020

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 As epidemias, como o recente Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, sempre causam preocupação e pânico em boa parte da sociedade. E isso ocorre desde que o homem começou a conviver com micro-organismos fatais, principalmente bactérias e vírus, as formas de vida mais antigas do planeta.

Em diferentes momentos da história da humanidade, populações foram arrasadas por mortes em grande escala provocadas tanto por uma enfermidade antiga quanto por um novo vírus. Seja por não haver vacina ou pela dificuldade de controlar a transmissão, essas enfermidades duraram décadas e foram tão fatais quanto as grandes guerras ou fenômenos da natureza, como terremotos e furacões.

A diferença em relação às epidemias atuais é que antigamente não eram conhecidas as causas de muitas doenças e não era possível fazer um trabalho preventivo. Um bom exemplo foi a peste bubônica, considerada o maior desastre causado por uma doença. O surto ocorreu entre os anos de 1333 e 1351 na Europa e na Ásia, matando cerca de 50 milhões de pessoas.


Um caso mais recente foi a epidemia do vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que surgiu no fim de 2002, no sul da China. Esse tipo de coronavírus, assim chamado por ter forma de coroa, deixou 774 mortos, de um total de 8.096 pessoas afetadas em cerca de 30 países. Na ocasião, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a declarar um alerta de saúde internacional.

De acordo com a infectologista e superintendente do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Sylvia Lemos Hinrichsen, quando uma doença começa a ter um aumento inesperado, as pessoas passam a ter medo e, se não houver cura ou vacina, o pânico se instala, especialmente se a transmissão for por contato pessoal.

"O pânico atrapalha porque a população começa a se automedicar e criar formas mágicas de tratamento. Aumenta também o número de atendimento em hospitais, consequentemente os casos suspeitos não confirmados. É importante, então, ter bom senso e se abastecer de informações emitidas por fontes confiáveis, como órgãos de saúde, a imprensa", disse.

Ela explica ainda que diante das epidemias são observadas mudanças de atitudes como forma a prevenção, mas com o passar do tempo a sociedade vai abandonando. "Infelizmente, conhecimento não é garantia de mudança de comportamento. Por mais que seja feito um trabalho de conscientização, as pessoas tendem a largar os hábitos preventivos", disse.

Para a infectologista, não é possível comparar as epidemias e dizer que uma foi pior que a outra. "Existem as que pegam a população mais ou menos vulnerável. Existem as situações adversas contra a saúde das pessoas de acordo com a vulnerabilidade da sociedade naquele momento", justificou.

O pesquisador do Departamento de Virologia da Fiocruz-PE, Lindomar Pena, explica que o trabalho dos cientistas nesses momentos é essencial para poder responder questões-chaves sobre o vírus. "A melhor maneira de combater o inimigo é conhecê-lo bem, preenchendo as lacunas de conhecimento. No caso do Covid-19, por exemplo, já está sendo caracterizado o vírus sob o ponto de vista clínico. Já foi detectado que a gravidade da doença é menor do que outros vírus. Esta informação gerada pela ciência muito rapidamente favorece muito as estratégias de controle", comentou.

Ainda segundo o especialista, atualmente, um dos grandes problemas enfrentados no combate às epidemias é o movimento antivacinação e a circulação de fake news. "Por isso, um dos fatores-chaves no que diz respeito a estes vírus emergentes é a educação", disse.

Ele ressalta ainda que o contato do ser humano com animais silvestres é outro aspecto a ser levado em consideração, pois muitos dos vírus que afetam o homem vêm de hospedeiro animal. "É preciso haver políticas e leis que proíbam e dificultam o contato do homem com animais silvestres. Provavelmente se a gente continuar avançando e quebrando esse equilíbrio ecológico outros vírus virão", alertou.