31.08.16

Copa do Mundo deixa discursos antagônicos como legado


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Por Fabson Gabriel

pesquisa31.08-1A 20ª edição da Copa do Mundo, realizada em 2014 nas 12 cidades-sede selecionadas no Brasil, foi oferecida à nação brasileira como a grande chance de o país tornar-se desenvolvido, deixando esse legado para a população. Este é um dos assuntos tratados na pesquisa realizada sobre a Copa do Mundo, sob coordenação do professor André Luiz Maranhão de Souza Leão, do Programa de Pós-Graduação em Administração (Propad) da UFPE, que objetivou avaliar os argumentos que constituem os diferentes discursos acerca da realização do mundial no país.

As investigações apontam que, de forma geral, existiram dois direcionamentos antagônicos, sendo um favorável e outro contestador aos investimentos feitos na construção dos estádios e na infraestrutura das cidades. Tais posições se revelam de forma particular em cada situação investigada. A pesquisa “A Que Vem a Copa? – Uma Análise Crítica das Implicações Sociais, Econômicas e Políticas da Realização da Copa do Mundo da Fifa no Brasil” foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Concluído em 2016, o estudo faz uma análise das implicações sociais, econômicas e políticas da Copa do Mundo. “Olhando o Brasil a nível macro, tivemos uma análise geral que nos levou ao entendimento, grosso modo, de um discurso favorável e outro discurso contrário. Mas existem nuances e especificidades na forma como isso aparece em diferentes situações particulares que investigamos nas cidades-sede”, afirma o professor que, junto com outros membros da equipe, viajou para as 12 cidades-sede. 

pesquisa31.08-2A pesquisa se estruturou a partir de posições discursivas sobre o assunto encampadas pelos organizadores, pela imprensa e pela sociedade civil. Os dados foram coletados por meio de entrevistas, observação direta e documentos, e o método adotado foi a arqueologia foucaultiana e sua análise de discurso. Como lentes teóricas, abordagens pós-estruturalistas, de acordo como cada problema específico em estudo: a teoria do pós-desenvolvimento, a teoria política de Hardt e Negri, a noção de identidade política trabalhada na teoria do discurso de Laclau e Mouffe e a noção de estética da existência desenvolvida por Foucault.
 
Foram realizadas entrevistas com representantes de dois discursos, sendo um gestor público relacionado à organização da Copa, e outro, jornalistas esportivos ligados à cobertura do mundial. Ainda alguns moradores das cidades-sede foram consultados e abordados de forma diversificada, sendo 157 entrevistas, numa média superior a 13 pessoas por cidade-sede. Foram feitas coletas de dados documentais referentes à fiscalização da organização do evento. O levantamento das informações também se deu a partir da observação direta das regiões circunvizinhas dos estádios construídos ou reformados para a Copa, como também nos pontos referentes às obras de infraestrutura das cidades-sede. De todas as posições discursivas apuradas, foram coletados 1.465 documentos, publicados de janeiro de 2010 a junho de 2015. 

“Percebemos um lado que diz que a Copa traria benefícios para o Brasil. Essa é a primeira promessa, sendo o grande discurso para justificar a Copa. Nossos resultados indicam que a forma que se usou pra se legitimar a vinda da Copa do Mundo ao Brasil foi por meio de uma busca de legitimar as despesas por meio do legado. Foi assim que o discurso oficial tentou fazer. Isso está presente tanto por parte do Governo quanto da Fifa mas, principalmente, por parte do Governo. Pois o Governo precisa dar satisfação à sociedade”, comenta o docente. O primeiro trabalho resultante da pesquisa foi publicado, recentemente, na Revista de Administração Pública, o principal periódico brasileiro da área. O artigo analisa os diferentes discursos acerca da construção da Arena das Dunas, em Natal (RN).

pesquisa31.08-1Segundo o professor, é importante entender que o que sustentou a candidatura do Brasil foi a promessa desenvolvimentista do país. “Todo álibi, digamos assim, para sustentar o Brasil ser o país sede foi a promessa desenvolvimentista. O Brasil que vai ter a infraestrutura que não tinha antes; o Brasil vai ser um país de primeiro mundo porque sediará a Copa; ou seja, o caminho do desenvolvimento. Além da evidência de que não foi bem assim, o que discuto é que a lógica de desenvolvimento prometida é uma lógica que não necessariamente é compatível com a necessidade de desenvolvimento do Brasil. É uma lógica que toma como referência os países desenvolvidos, no caso específico, a Europa”, enfatiza.

O professor, por fim, questiona se o modelo de estádio implantado aqui no Brasil foi viável. “Será que é esse modelo de arena que o Brasil precisa? Ninguém parou para pensar adequadamente nisso. Eu não estou dizendo que não seja. Estou dizendo que ninguém parou para pensar nisso como deveria. Apenas se assumiu que se é bom para eles [Europa] é bom para nós.”

Mais informações

Programa de Pós-Graduação em Administração 
(81) 2126.8880
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Professor André Luiz Maranhão de Souza Leão
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