topo kambiwa

Saúde/Educação

“A educação Kambiwá começa desde que o índio nasce e vai passando de pai para filho, ensinando, orientando sobre o que é bom ou ruim”. A função da escola para os Kambiwá é “crescer dentro da realidade do seu povo, em liberdade e harmonia com a vida, com muito respeito com os mais velhos, principalmente com a religião”.

 

    A escola deve contribuir para fortalecer a cultura e aprender outros conhecimentos que vai servir ao povo inclusive na relação com o não-índio.  Na escola “nós professores indígenas devemos ensinar para os alunos o que é uma escola diferenciada, comparando com a sociedade lá fora, num movimento de crescimento da nossa identidade. A escola repassa os valores Kambiwá, para que todos os povos também valorizem e respeitem as diferenças. Pra isso é preciso um currículo próprio

   A educação indígena até os anos 80 era pautada na integração do índio a sociedade nacional, isto é havia uma teoria que apregoava que com o passar dos tempos os indígenas iriam ser assimilados a população nacional e nesse projeto a escola também desempenhou esta função.

   Com a luta das lideranças indígenas para garantir seus direitos na Constituição Federal de 1988 a educação foi um dos aspectos que avançou com a nova legislação. Direito a uma educação específica, diferenciada e intercultural foi / é um importante avanço legal para fortalecer a identidade étnica. A partir daí diversas iniciativas foram sendo forjadas de escolas indígenas no Brasil

   A temática educação e escola indígena é objeto de discussão há alguns anos dentro do movimento indígena aqui em Pernambuco. Os/as professores/as e as lideranças desde 1999 discutem em seus povos e também com outros uma concepção de educação escolar indígena que correspondam a seus projetos de sociedade, ou seja, o projeto de escola deve ser pensado em função do projeto do povo. Nesse contexto os Kambiwá também participaram desse processo e foi o primeiro povo a retomar suas escolas, isto é retiraram todos/as os/as professores/as não índios e as próprias indígenas assumiram as salas de aula.

  A luta por uma educação diferenciada fez com que todos os povos do estado passassem a se encontrar e reivindicar do estado o direito de estadualização das escolas indígenas, conforme resolução 03/99 do Conselho Nacional de Educação. Os povos juntos começaram a refletir como seria então essa educação: elaborando princípios, o perfil de professor, os conteúdos, os seus modelos de gestão, etc.

  Nesse contexto foram sendo elaborados os Projetos Políticos por povo. Tudo pensado, inspirado na pedagogia do povo. Nos Kambiwá, por exemplo, o início do ano letivo é marcado de acordo com a lua cheia, nesse período há o ritual dos praiá.

  Apesar de a escola ter sido resignificada pelas comunidades indígenas nos últimos anos há um entendimento de que a educação é algo mais amplo nas aldeias, algo que acontece no dia-a-dia da aldeia e abrangem os diversos espaços da comunidade, como os terreiros rituais, a roça, a mata, os terreiros das casas, no campinho.

  Para praticarem o ritual as/os professoras/es levam as crianças para o terreiro, os mais velhos formam um círculo grande e dentro as crianças formam outro menor, para que os passos sejam na mesma cadência.

   A educação e a saúde obedecem à organização da sociedade Kambiwá, funcionam em dois pólos com duas coordenações politicamente com autonomia em suas conduções.

  A saúde específica é oferecida pela Funasa, por equipes de saúde multidisciplinar. Nessas equipes tem índios e não-índios, geralmente os médicos, dentistas e enfermeiros são os não-indios e os agentes de saúde são da própria comunidade. Há dias marcados para cada aldeia e apesar de ter sido projetada para ter um bom funcionamento, mas na prática representa um caos, os procedimentos são demorados, insuficientes, não atende as especialidades de forma que é unânime o desgaste desta agência.

  A medicina tradicional ainda é bastante usada, isso se deve a distância entre saúde e aldeia, mesmo com a presença da Funasa com a política de remédios de farmácia a comunidade ainda costuma recorrer aos mais velhos nos seus tratamentos. Pra isso existem pajés, benzedeiras e benzedeiros. As ervas utilizadas para cura são retiradas da mata principalmente da Serra Negra onde tem uma grande diversidade da flora.

 O abastecimento de água tem suas épocas de dificuldade visto que a aldeia está na região do semi-árido pernambucano e as formas de acúmulo são insuficientes para abastecer no período de estiagem e para o consumo humano o que traz problemas a comunidade e doenças. Há urgência e é sempre uma reivindicação desse povo sanar esse problema através da água potável e saneamento básico.

  A alimentação dos Kambiwá é o fubá, o xerém, o cuzcuz, o munguzá, primam por uma plantação sem uso de agrotóxicos. Plantam fruteiras, feijão e milho.

Referências Bibliográficas

BARBOSA, Walace de Deus (2001). Um embate de ´culturas`: uma análise de processos políticos e estratégias sócio-culturais na construção das identidades Kambiwá e Pipipã. Tese (doutorado). PPGAS / Universidade Federal do Rio de Janeiro. CCLF, Caderno do Tempo. II Edição, 2006. I Edição Olinda – 2002 e II Edição _ Belo Horizonte – 2006

marcas