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Território

“Território para nós é um lugar sagrado, lugar de morada do nosso povo e dos nossos encantados. É um espaço povoado por nossos mitos, conhecimentos tradicionais e saberes sagrados de nossos pajés... é também o lugar de onde tiramos nosso sustento e a matéria-prima para confeccionar nossa arte”.

    O povo Kambiwá tem seu território tradicional localizado entre os municípios de Ibimirim e Inajá, mesorregião do sertão pernambucano, distante 354 km da cidade do Recife. Os Kambiwá estão geograficamente distribuídos em cinco aldeias: Baixa da Alexandra, Nazário, Pereiro, Serra do Periquito e Barracão, ocupando uma área de 31.495 há, com uma população de aproximadamente três mil indígenas. A terra teve sua situação homologação e regularização em 1988.

   O território tradicional Kambiwá está entrecortado de serras importantes como a Serra do Periquito e a Serra Negra, esta considerada um lugar sagrado onde viviam vários povos indígenas da região Nordeste, de onde foram expulsos com o processo de conquista do sertão pernambucano, entre os séculos XVIII e XIX.

    A violência contra esses povos por parte dos fazendeiros que começavam a ocupar essa região motivou a ação de alguns missionários religiosos, os quais mantiveram contatos com esses índios para o estabelecimento de um aldeamento que mantivessem os indígenas protegidos da violência (BARBOSA 2003: 102).

   O aldeamento foi erguido no lugar denominado “Jacaré”, onde também foram acolhidas algumas famílias do povo Pipipã, também originados da Serra Negra, assim como os Xocó, os Voué e os Umã. A localização de diversos povos indígenas nesse local, bem como de negros e brancos fugidos possibilitou vários casamentos interétnicos nos quais as diferentes culturas ali presentes foram se misturando e provocando trocas culturais.

    Apesar do aldeamento desses “índios da Serra Negra” provocar uma suposta segurança contra as ações violentas dos fazendeiros, o número de aldeados foi se reduzindo paulatinamente na medida em que diversos grupos indígenas tentavam voltar a Serra Negra e eram reprimidos pelos fazendeiros, resultando na dispersão dos mesmos.

    Os registros históricos não apresentam qualquer menção ao etnômio Kambiwá, vez que esses índios eram genericamente denominados “índios da Serra Negra”. No século XX foram realizados diversos estudos lingüísticos com algumas famílias originárias da Serra Negra, os quais tentaram identificar o tronco lingüístico, mas os estudos não foram conclusivos. Por outro lado, está presente na história oral do povo, o nome Kambiwá significando retorno à Serra Negra.

   A área demarcada encontra-se já regularizada, entretanto, há necessidade por parte da população indígena de ampliação do território, inclusive há espaços retomados pelos indígenas há algum tempo.           

   Ainda carateriza-se ambientalmente por ter seu território inserido no bioma da caatinga e na Bacia do Rio São Francisco. Nesse sentido há grandes preocupações do povo quanto a implantação do projeto de transposição ameaçando a integridade do povo, pois as obras já em execução no eixo Leste e que atinge diretamente os Kambiwá.

    Além do impacto desse grande projeto no povo também a ação do Ibama em desconsiderar a serra Negra como área indígena mas sim como reserva ambiental fere a tradição e religiosidade não somente dos Kambiwá como também dos Pipipã que tem na serra o seu lugar mais sagrado, morada dos encantos e o local onde fazem seu Oricuru (ritual anual em que passam dez dias em cima da serra num período de reclusão  para prática de seus rituais).

Referências Bibliográficas

BARBOSA, Walace de Deus (2001). Um embate de ´culturas`: uma análise de processos políticos e estratégias sócio-culturais na construção das identidades Kambiwá e Pipipã. Tese (doutorado). PPGAS / Universidade Federal do Rio de Janeiro. CCLF, Caderno do Tempo. II Edição, 2006. I Edição Olinda – 2002 e II Edição _ Belo Horizonte – 2006

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