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Vida Política

Um dos aspectos que compõe o cenário político em que está inserido o povo Pipipã refere-se aos impactos negativos da transposição das águas do Rio São Francisco. O projeto de transposição, que visa a Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, é apresentado pelo Estado Brasileiro como a solução definitiva para o fenômeno da seca de que é alvo não só o povo Pipipã, mas todos aqueles povos que estão localizados na região do Semi-Árido do Nordeste do país, são eles: Truká, Tumbalalá, Pankararu, Anacé, Tuxá, Kambiwá, Xocó e Kariri-Xocó, localizados nos estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe, Alagoas e Ceará. (TOMÁZ et all, s/d, p.18).

No entanto, além da construção de canais e do sistema de bombeamento da transposição passar pelo território Pipipã, e da ameaça em que é colocada a sobrevivência do Rio São Francisco, um bem simbólico e material dos povos indígenas, o projeto de transposição tem sido consolidado nos territórios indígenas a partir da violação de direitos, produzindo também uma série de impactos negativos sobre a natureza, fauna e flora, e ecossistemas de modo geral; impactos que se estendem na economia e cultura dos povos afetados.

É neste cenário que se destaca um outro aspecto desta conjuntura política: a permanente luta do povo Pipipã pelo direito à Serra Negra, enquanto território tradicional e lugar sagrado em que realizam seus rituais. Esta reivindicação teve início desde 1950, quando a Serra Negra foi instituída Reserva Biológica, motivando conflitos de interesses entre os índios e o Estado brasileiro a qual se estende até hoje. Atualmente, além dos conflitos políticos, as disputas referem-se à exploração da flora e fauna locais, ao desmatamento e a depredação ambiental provocada pela pecuária extensiva.

Na intenção de minimizar estes conflitos e executar de modo mais eficaz as políticas de preservação ambiental na Serra Negra, foi criado em 2007 o  ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação a Biodiversidade). O ICMBio é uma autarquia vinculada ao Ministério do Meio ambiente para executar as políticas de preservação dos recursos naturais da Serra Negra. O povo Pipipã têm várias críticas ao ICMBio e permanece reivindicando o direito de participar efetivamente da elaboração dessas políticas e acompanhar as ações de preservação nela desenvolvidas. Ainda reivindicam o direito de acesso à Serra Negra, pois com a restrição se sentem afetados tanto no plano material como simbólico, uma vez que suas matas, fauna, flora  são recursos  fundamentais para sua sobrevivência física e cultural.

 

Patrícia Fortes 
Graduada em Educação Física pela UPE/Esef e mestranda em Educação pela UFRN na linha Práticas pedagógicas e Currículo.

Pesquisadora nas áreas de Educação escolar indígena e Educação Física escolar. Integrante do grupo de Estudos
Etnográficos em Educação Física e Esporte (Ethnós/UPE).

Jozelito Arcanjo 
Mestre em Antropologia pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia da UFPE

Fotos Jozelito Arcanjo

Foto 1. - Vista panorâmica da Aldeia Faveleira, ao fundo o cume da Serra Negra. 
Foto 2 - Pau Ferro Grande. 
Foto 3 - Manoel Pereira, Expedito Roseno e José Joaquim do Nascimento. Lideranças em reunião na aldeia Travessão do Ouro 04.08.2001 
Foto 6 - Abastecimento de água na Faveleir

Citar o autor(a) e o Núcleo de Estudos e Pesquisa Sobre Etnicidade/ NEPE para a reprodução de textos e fotos do site

Referência Bibliográfica

ARCANJO, J. A. Toré e identidade étnica: os pipipã de kambixuru (índios da Serra Negra). 2003. 162 f. il. Dissertação (mestrado) - Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2003.

BARBOSA. W. D. O Toré (e o Praiá) entre os kambiwá e os Pipipã: performances, improvisações e disputas culturais. In: Toré: regime encantado do índio do Nordeste. Recife: Massangana, 2005.

_____________. Pedra do Encanto: dilemas culturais e disputas políticas entre os Kambiwá e os Pipipã. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria/Lacede, 2003.(Territórios Sociais nº 10) 216 p. 

Comissão de Professores indígenas de Pernambuco. Caderno do Tempo. 2 ed. Olinda, 2006. 

TOMÁZ, Alzeni et all. Povos indígenas do Nordeste impactados com a transposição do rio São Francisco. APOINME, AATR, NECTAS/UNEB, CPP e CIMI, s/d (Relatório de denúncia).

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