O impacto das redes sociais na educação

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25/08/2015

Como pais, professores e cidadãos, temos sido impactados, diariamente, pelas possibilidades e desafios que se apresentam com o avanço das tecnologias da informação e da comunicação na formação de nossas crianças e jovens. Novas formas de aprender, expressar-se e relacionar-se configuram o que se chama hoje de geração “neomillennial”. Geração que se traduz pela capacidade de acessar e filtrar, digitalmente, um volume imenso de informação; que não apenas consome, mas produz informação e conhecimento por meio de várias mídias; que colabora rompendo barreiras de espaço, cultura e linguagem e aproveita novas oportunidades para expressão artística, participação política e investigação digital.
Portanto, sob o aspecto da formação, em especial das novas gerações, a construção da identidade, a comunicação social, o manuseio de informação e a construção de conhecimento têm sido influenciados pelas tecnologias da informação e da comunicação. Nós, adultos, temos que nos apropriar desse universo de blogs, wikis, podcasts, redes sociais entre outros elementos, para poder interagir e refletir com nossos jovens, por exemplo, sobre como os outros devem ser tratados, quais as relações e os limites entre o público e o privado a se estabelecer nas redes, que usos um mesmo espaço pode ter, uma vez que tanto serve à prática de bullying quanto para fortalecer relações positivas de mentoria, solidariedade e novos modos de engajamento civil.
Um dos desafios que a rede apresenta é a tomada de consciência por parte do usuário do tamanho da comunidade da qual passa a fazer parte e o poder real de disseminação de informações que esse ambiente possui: aquilo que se registra na rede, seja em imagens ou palavras, atinge pessoas conhecidas e desconhecidas, em velocidade inimaginável e incontrolável; uma vez registrado, não se apaga, por mais que se busquem mecanismos para isso. Logo, algo que se publica, comenta-se ou registra-se numa determinada fase da vida permanecerá na rede por toda nossa existência (e depois dela). A percepção de crianças, jovens e até mesmo adultos sobre esse assunto é bastante frágil. Urge, portanto, trazer à tona, cada vez mais, a discussão sobre ética no ambiente virtual.
No Brasil, entre outras iniciativas, a SaferNet Brasil tem procurado estimular a reflexão e o desenvolvimento profissional de educadores no que se refere à ética no ambiente virtual, por meio de um fórum de discussão, na área de Tecnologias Educacionais do Portal do Professor do Ministério da Educação – MEC. Há, também, material orientador para pais no que se refere ao acompanhamento de seus filhos no ambiente virtual. A rede social Nética apresenta dicas, materiais, orientações e reflexões para educadores, por exemplo, os conceitos de web/cibercidadania e web/ciberdemocracia.
O Centro para Pesquisa e Inovação em Educação da OECD (CERI) desenvolve, desde 2007, o projeto Os Aprendizes do Novo Milênio (The New Millenium Learners), que procura investigar os efeitos das tecnologias digitais nos aprendizes em idade escolar, prover recomendações para instituições e subsídios para formulação de políticas do setor educacional. Essas recomendações centram-se em habilidades e competências que precisam ser desenvolvidas para que crianças e jovens construam-se como cidadãos responsáveis e economicamente ativos no mundo contemporâneo.
O relatório denominado “Encontro de mentes: um diálogo entre gerações sobre ética no ambiente virtual” sintetiza projeto realizado, em abril de 2009, nas cinco áreas de interesse do GoodPlay Project, da Universidade de Harvard: identidade, privacidade, credibilidade, autoria e propriedade e participação. Com apoio de organizações como Global Kids, Common Sense Media e o suporte financeiro da Fundação MacArthur o projeto denominado The Focus Dialogues proporcionou, durante três semanas de conversa on-line, a interação de mais de 250 pessoas, entre pais, professores e adolescentes, respondendo a cenários e questões apresentados, agregando suas percepções, reflexões e experiências sobre ética no ambiente virtual.
Segundo Howard Gardner, da Universidade de Harvard, em qualquer tipo de sociedade democrática, as coisas caminham tão melhor quanto maior é a compreensão e participação dos diferentes stakeholders na construção de normas e princípios que impactam na vida coletiva. No caso da pesquisa proposta sobre ética no ambiente virtual, foi necessário trazer pais, professores, representantes dos sistemas educacionais e alunos para se aprofundar, por exemplo, sobre as implicações de se realizar download de determinados materiais, falsificar sua própria identidade, criar perfis falsos de outras pessoas em sites e redes sociais, postar informações pessoais sobre si mesmos ou sua família ou, ainda, praticar bullying de qualquer natureza.
Dessa forma, as pessoas, não podendo se esconder atrás da ignorância sobre o assunto, deverão enfrentar as consequências de seus atos. Segundo Gardner, não é mais ou menos ético lidar com mídias digitais, pois nós nunca lidamos com uma comunidade tão grande de pessoas em toda história da humanidade. É diferente.
A cidadania ética digital não acontecerá apenas pelo comportamento prescritivo dos adultos, nem pela auto navegação ou negociação dos jovens, mas somente por meio de um intencional encontro de mentes e de gerações. Portanto, seja na sala de aula entre professores e alunos, seja em casa, entre pais e filhos, em discussões online ou em contextos comunitários mais amplos, a ética no ambiente virtual tem que ser co-criada por adultos e jovens coletivamente. Dessa forma, seremos mais assertivos para lidar com os desafios e as oportunidades que essa nova concepção de cidadania nos apresenta.


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