Avanço do mar: destruição costeira se alastra no País |
18/10/2017
RIO E SÃO PAULO - A prefeitura do Rio prevê começar nesta quarta-feira, 18, as obras emergenciais de contenção do calçadão da Praia da Macumba, no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste da capital fluminense, que continua afundando. O desmoronamento provocado pela força das ondas começou há cerca de 30 dias e já atingiu 600 metros da orla. A erosão e destruição das estruturas costeiras têm se repetido em diferentes regiões do País, evidenciando os problemas estruturais e a falta de preparo para lidar com a ação natural. De acordo com a Defesa Civil fluminense, não há risco imediato para os prédios e casas da região, mas parte da ciclovia, quiosques e coqueiros já se perderam. O problema é antigo e conhecido. Em 2000, um relatório do Coordenação de Programas de Pós-graduação e Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Coppe, já alertava para os riscos e sugeria alterações. Nada foi feito. Em 2005, uma obra de ampliação do calçadão e de construção da ciclovia também não levou em conta os alertas. Agora, a prefeitura tentará reverter o desmoronamento. “Trabalhamos durante todo o feriado, viramos madrugada, refizemos o projeto e hoje estamos iniciando as obras em caráter emergencial, extremamente necessárias para finalmente conter a erosão”, disse o secretário municipal de Conservação e Meio Ambiente, Jorge Felippe Neto, que assumiu o cargo há uma semana. A obra foi orçada em R$ 14,5 milhões, informou a secretaria por nota, com contratação de empresa em caráter emergencial. Especialista em engenharia costeira da Coppe e um dos responsáveis pelo diagnóstico feito na região há 17 anos, Paulo Rosman afirmou que as obras na orla foram feitas sobre a chamada zona dinâmica da praia. Trata-se da faixa de areia que desaparece quando há ressaca, normalmente no outono e no inverno, e ressurge na primavera e no verão. Rosman explicou que, durante décadas, o canal foi drenado e a areia retirada do local levada para outros lugares em vez de ser devolvida à praia. “Isso reduziu o estoque de areia da praia, aproximando ainda mais o litoral da rua.” Guarujá O pedreiro morou a vida toda no mesmo terreno à praia do litoral de São Paulo que reúne três casas, uma das quais a atingida pela ressaca. Segundo ele, a faixa de areia do local costumava se estender por mais de 20 metros, permitindo a circulação de banhistas e dele próprio, que vendia lanches na praia até a última ressaca tomar a região. Nessa terça-feira, 17, o espaço da areia estava tão restrito, que reunia apenas surfistas. “É a força da natureza cobrando a conta”, diz Messias. Também no Guarujá, a Praia do Góes enfrenta mudanças. Morador da região desde 1969, o aposentado Valter Novas, de 67 anos, lembra que o mar costumava ficar mais distante há 30 anos. “Aqui era muito diferente, só tinha pescador, o pessoal andava de canoa, as caiçaras cortavam lenha em uma área que foi tomada pela água”, conta. Mudança Mar avançou sobre a orla da Praia do Tombo No caso da Praia do Góes, o principal motivo das mudanças, apontado por moradores, ambientalistas e pela prefeitura do Guarujá é a dragagem do Porto de Santos. “A situação está descontrolada, fora do balanço natural”, comenta o oceanógrafo e diretor do Instituto Maramar, Fabrício Gandini. A Companhia Docas não respondeu aos questionamentos da reportagem na noite desta terça-feira. No caso da Praia do Tombo, a prefeitura do Guarujá afirmou estar firmando uma parceria com universidades da região para identificar se o fenômeno é efeito da erosão Nordeste A situação preocupa no Rio Grande do Norte, onde o avanço do mar tem causado estragos e ameaçado vilas de pescadores em 60% das praias do Estado, cujo litoral se estende por 440 quilômetros. As praias de Muriú, Touros, São Miguel do Gostoso, Graçandu e Caiçara do Norte, no litoral norte do Estado, estão entre as mais atingidas pela erosão costeira. Nelas, os moradores travam duelos contra a força do mar construindo muros de pedras e concreto cada vez mais largos e altos, em uma tentativa de manter as casas de pé. Os municípios do Recife e de Olinda, em Pernambuco, tentam barrar o avanço do mar com uma linha de pedras no litoral. Mais ao norte, em Paulista, está o que o professor Pedro Pereira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) classifica como o pior exemplo da ação contra a redução da faixa de praia. A tecnologia adotada foram os bag wall: grandes sacos de cimento de secagem rápida, que construíram uma estrutura semelhante a arquibancadas. A realidade é que agora a erosão marinha foi transferida para praias mais ao norte.
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