Adutora de Serro Azul desmatará área de preservação ambiental |
25/10/2017 Promessa de garantia de água para o Agreste pernambucano, uma das regiões mais castigadas pela seca, a construção da adutora de Serro Azul (Mata Sul) exigirá o desmatamento de uma área que, somada, equivale a três campos de futebol (um campo tem 1 hectare). O problema, alertam especialistas, é que a supressão será feita em brejos de altitude, distribuídos em Palmares, Bonito, Barra de Guarabira, Camocim de São Félix e Bezerros, municípios nos quais passarão os 68 quilômetros de extensão do canal adutor. Esse tipo de ecossistema, considerado Área de Preservação Permanente (APP) pelo Código Florestal, é essencial por prestar importantes serviços ambientais e funciona como refúgio para muitas espécies endêmicas (só encontradas lá). Algumas espécies do bioma Mata Atlântica presentes no percurso pelo qual irá passar a adutora e que estão na lista para serem suprimidas estão o araçá, carolina, embaúba, genipapo, ingá, salgueiro e ingá macaco, além de exóticas (não nativas), como o eucalipto, mangueira, jaqueira e espatódea. O edital de licitação para a construção da adutora de Serro Azul foi lançado no dia 23 pelo Governo de Pernambuco, em cerimônia no Palácio do Campo das Princesas. De acordo com o biólogo e professor do Departamento de Botânica da UFPE, Felipe Melo, a adutora de Serro Azul entra como mais um de tantos outros exemplos de obra, como o Complexo de Suape, que terá a supressão autorizada pelo legislativo sob a justificativa de que se trata de "obra de interesse público e social" - já que a legislação permite desmatamento em APPs com essa ressalva, anulando, muitas vezes, a apresentação do Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima). Para ele, o Governo de Pernambuco se utiliza dessa manobra política para passar por cima das leis que protegem a Mata Atlântica. "E fica a incerteza se essas obras de grande impacto têm suas compensações fiscalizadas pela Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH). APPs são ecossistemas bastante frágeis e uma vez desmatados, as compensações nunca substituirão os impactos causados na região que sofreu supressão", afirma. Sobre o empreendimento O canal adutor transportará, a uma vazão de 500 litros por segundo, a água da Barragem de Serro Azul - já pronta e abastecida pelo rio Una -, na Mata Sul, para 800 mil pessoas em dez cidades do Agreste. O investimento, de R$ 200 milhões, é da gestão estadual junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
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