Projeto faz resgate histórico da vegetação na Mata Norte pernambucana |
25/11/17 Um resgate histórico na área onde hoje está instalado o polo automotivo Jeep, em Goiana (Mata Norte, a 62 km do Recife), revelou a existência, em séculos passados, de 618 espécies de flora da Mata Atlântica nordestina na região. O levantamento, feito por pesquisadores das universidades Federal e Rural de Pernambuco (UFPE e UFRPE), inclui dados bibliográficos da literatura científica datados do início do século 19. Porém, ao comparar com as características atuais, os estudiosos perceberam uma perda de 70% da biodiversidade, ou seja, apenas 188 espécies nativas ainda resistem nos fragmentados remanescentes florestais do entorno da fábrica. Tal realidade veio à tona após o levantamento, encomendado pela Fiat Chrysler Automobiles (FCA) - grupo proprietário da Jeep -, às instituições de ensino. A intenção foi entender o tipo de vegetação que havia e o nível de regeneração natural para, assim, traçar técnicas que devolvessem as características iniciais do ambiente antes de qualquer intervenção humana. A introdução de espécies exóticas invasoras, a exemplo de mangueiras, mamonas, espada-de-são-jorge e jaqueiras, e o processo de desmatamento foram os principais motivos que levaram a esse prejuízo ambiental. Os estudiosos encontraram plantios de banana, macaxeira e até bambu, utilizado em meados de 1985 para a fabricação de celulose. Também consideradas invasoras, essas espécies, ao encontrarem condições favoráveis, dominam o solo a ponto de “sufocar” o desenvolvimento de espécies nativas. A bióloga e doutora em botânica pela UFRPE, Tássia Pinheiro, esteve entre os estudiosos que contribuíram com o estudo florístico da área. É lá, nesse espaço de área aproximada a um campo de futebol, que 88 mil mudas são produzidas por ano. São, ao todo, 289 espécies, sendo algumas ameaçadas de extinção como o pau-brasil. A ideia é chegar a um acervo total de 310. Nos últimos dois anos, mais de 60 mil mudas foram introduzidas na região. “Até 2024 queremos chegar a 208 mil mudas plantadas”, almeja o gerente de Meio Ambiente do Grupo FCA, Cristiano Félix. Fauna Ciclo de vida Ictiofauna No rio Guariba, o peixe beré se caracteriza por ser oportunista e adaptar-se bem em ambientes pobres em recursos naturais, ou seja, indicou, desta forma, a baixa qualidade ambiental do rio. Das dez espécies registradas no relatório elaborado pela pesquisadora da UFRPE, apenas uma foi classificada como “vulnerável”, a beta, peixe de pequeno porte muito procurado para aquários domésticos por sua beleza . Ela foi considerada, naquela região, como ameaçada por conta da degradação do ambiente. Herpetofauna Os répteis identificados foram iguana, calango-verde, tejú e lagartixa. Já entre os anfíbios, destacaram-se a rã-chorona, rã-pimenta, sapo-cururu, perereca-de-banheiro e perereca-verde. Embora os répteis e anfíbios registrados possuam ampla distribuição, ocorrendo em grande parte do Nordeste, as populações encontradas estavam isoladas e em pouca quantidade, mas que num passado distante estariam conectadas porque as matas estavam conservadas. Além disso, a pesquisa revelou a inexistência de cágados e jacarés porque não há matas ciliares às margens dos espelhos d’água. Avifauna Dessas, as que ocorrem com frequência na borda da floresta estão a ariramba-de-cauda-ruiva, bico-chato-amarelo, anu-preto e a andorinha-serradora. Das aves endêmicas e ameaçadas, os pesquisadores avistaram o pica-pau-anão-de-pintas-amarelas, bico-virado-miúdo e o sangue-de-boi. Por conta do estágio avançado de desmatamento, sugeriu-se a implantação de corredores ecológicos para interligar as matas e, assim, garantir o ciclo de vida das aves. Mastofauna Além disso, os roedores também sofrem com a redução das florestas e são caçadas para consumo, a exemplo do coelho-do-mato, preá-do-mato e a cutia. Entre outros bichos que ocorrem na área da fábrica, destacam-se o cachorro-do-mato, jaguatirica, sagui-do-nordeste e o tamanduá-mirim. O estudo, como os demais, aponta para a necessidade de conservação e reflorestamento a fim de garantir a sobrevivência da fauna silvestre da região.
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