Márcia Mª G. Alcoforado de Moraes: O Agreste empreendedor e a gestão de demanda

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23/11/2017

 

Em economias de maturação da água, caracterizadas tanto pelo aumento da escassez quanto por necessidades de transferências crescentes, como é o caso das bacias pernambucanas, em especial as do Agreste, a gestão de recursos hídricos com foco na demanda torna-se estratégica. As obras de engenharia hídrica em andamento na região, que devem viabilizar e regularizar o suprimento do recurso, são extremamente necessárias, mas não suficientes. A baixa potencialidade hídrica do estado, a menor do Brasil, impõe à gestão pública o desenvolvimento de políticas que sinalizem a escassez do recurso. Explorando soluções e estratégias de governança para promover a otimização do uso da água, a efetividade da gestão de demanda depende em grande medida da credibilidade das instituições, das leis e especialmente das políticas públicas. Recente estudo liderado pela Universidade de Maryland e o Banco Inter-Americano com dados de 2011, calculou o consumo hídrico – ou “pegada” hídrica categorizando-a em água de chuva (verde), dos mananciais (azul ou de irrigação) e a necessária para diluir os poluentes (cinza) - da produção de etanol de cana nos 27 estados do Brasil, bem como os fluxos inter-estaduais dessas águas “virtuais”. Para atender as demandas internacionais de etanol, Pernambuco, dentre os estados brasileiros, aparece como o maior exportador de água “cinza” e o segundo maior de água “verde”, necessárias à produção do biocombustível, quando se leva em conta a disponibilidade hídrica local. No entanto, quase nada do valor adicionado pelo etanol exportado fica na nossa economia. Embutido também na cadeia produtiva de outros produtos de exportação, este valor concentra-se praticamente todo em São Paulo. No que se refere a demanda doméstica pelo etanol, Pernambuco ao atendê-la, passa a ser o primeiro em volume de exportações de água “verde”, mantém-se como o maior da “cinza”, e torna-se o segundo maior exportador da “azul”! Estados mais ricos e com maiores disponibilidades no Sul e Sudeste aparecem pressionando estados escassos em água, ao importar volumes consideráveis de água “azul”,“verde”, e “cinza” contidas no etanol produzido por aqui. São Paulo, mesmo sendo o maior produtor de cana e etanol do país, aparece como grande importador de água “azul”, por irrigar pouco. O estudo ainda avaliou dentro de cada estado, a competitividade de alternativas para o uso desta água “azul”, comparando o valor adicionado da produção de cana e etanol por unidade de água de irrigação, com o de outros cultivos e setores econômicos. Pernambuco figura como o único estado do Brasil onde a produção de cana irrigada mostra-se competitiva em relação às demais culturas. Ademais, no nosso estado, o setor também mostra-se vantajoso em relação à produção associada ao abastecimento humano. Importante insumo para a definição de políticas públicas de água do estado, tais resultados implicam que uma potencial ampliação da produção de cana no estado, deverá expandir a irrigação em Pernambuco, o que aumentará a competição por nossa água escassa. Através de planejamento e regulação, pode-se alterar a competitividade entre os setores. Políticas públicas, que reflitam a real escassez da região, podem fazer com que os mais intensivos em água passem a ter desvantagens, a menos que invistam em tecnologias que aumentem a eficiência no uso. Ao mesmo tempo, os menos intensivos, como os associados ao abastecimento humano, sejam mais vantajosos. A Califórnia é o mais seco dos estados americanos. Em um ambiente de alta escolaridade, aliado a uma infraestrutura hídrica e gestão de demanda adequadas, privilegiou-se uma agricultura em bases científicas e setores pouco intensivos em água como a tecnologia. Tem a maior renda per capita do país. O Agreste empreendedor já tem seu Pólo de Educação e vem abrindo espaço para a criatividade (www.armazemdacriatividade.org). Com a chegada da água, desde que gerida eficientemente, não duvidem do que podem nos ensinar!!!

 

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