NÓS FORMAMOS EMPREENDEDORES COM PROPÓSITO"

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14/06/2018


Espalhados por todo o Brasil, milhares de jovens trabalham para desenvolver o país por meio do empreendedorismo. Eles fazem parte das empresas juniores, negócios formados por estudantes de um determinado curso ou graduações de áreas correlatas.

Na empresa júnior, os alunos precisam resolver problemas reais. Até por incentivarem os jovens a colocar a mão na massa, esses negócios complementam a formação universitária. Em boa parte dos casos, as empresas prestam serviços de consultoria a companhias de pequeno porte que precisam de auxílio para resolver desafios do dia a dia ou expandir seus negócios.

Ao contrário de companhias tradicionais, as empresas juniores não têm fins lucrativos – elas só cobram o suficiente para financiar os custos dos projetos em que estão envolvidas. Atualmente, há cerca de 600 organizações do tipo e aproximadamente 20 mil empresários juniores no nosso país.

As empresas juniores trabalham por duas grandes missões: complementar a formação universitária dos jovens brasileiros e contribuir para o desenvolvimento do país com seu trabalho. A opinião é do pernambucano Iago Maciel, 24 anos. Ele é o presidente da Confederação Brasileira das Empresas Juniores (Brasil Júnior), a entidade máxima desse movimento.

Em entrevista a Pequenas Empresas & Grandes Negócios, Maciel falou sobre sua trajetória no mundo das empresas juniores, dos benefícios que os estudantes têm ao entrar em um desses negócios e dos desafios do setor. Confira.

Por que você se interessou pelas empresas juniores?
Por mais que as empresas juniores sejam uma realidade no Brasil há muitos anos, eu descobri o que eram esses negócios no exterior. Eu estudo engenharia mecânica na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e tive a chance de passar um ano na Universidade de Southampton, na Inglaterra, pelo Ciência sem Fronteiras.

Lá, fiz um amigo que estava em uma empresa júnior e comecei a conhecer o movimento. Outra coisa que me marcou é que, em Southampton, há uma mentalidade muito mais empreendedora, um ensino mais prático. Cheguei a cursar uma disciplina que ensinava a montar um modelo de negócio, algo que não existe no Brasil.

Voltei para o Brasil em setembro de 2015. O tempo foi passando e eu fui ficando incomodado com o que via. Ninguém aproveitava a experiência de estar na universidade. As pessoas respondiam a chamada e iam embora.

Alguns amigos, igualmente insatisfeitos, criaram uma empresa júnior: a Eixo Consultoria. Um tempo depois, entrei para o negócio. A empresa surgiu da vontade de termos um modelo educacional mais empreendedor, diferente, prático e com o aluno como protagonista.

E como você chegou à presidência da Brasil Júnior?
Meu trabalho na Eixo me ajudou a me tornar mais conhecido. Na empresa júnior, estruturei o nosso modelo de negócio, o que fez o negócio crescer bastante. O trabalho me credenciou para me candidatar à presidência da Federação das Empresas Juniores de Pernambuco (Fejepe).

À frente da Fejepe, o desempenho foi muito bom: contribuí para que as federação tivesse o maior resultado financeiro de sua história.

Mais uma vez, os resultados me ajudaram a buscar a previdência da Brasil Júnior. Não é muito comum que um empresário júnior comande a entidade sem ter ocupado nenhum cargo de diretoria antes. Mas mostrei que tinha garra, paixão pelo movimento e um desempenho que me tornava uma boa opção de presidente. Assumi o posto em fevereiro deste ano e fico na presidência até o fim do ano.

Você não acha que o mandato é curto demais?
Não. É o período certo para você conseguir se desafiar. E ao ter um ano só de mandato, a gestão atual e a anterior acabam se comprometendo a trabalhar com continuidade. É extremamente desafiador chegar com tudo e entender tudo, mas acredito que o mandato curto é um bom caminho para trabalhar com intensidade e fazer acontecer.

E como está a sua gestão até agora?
Bem desafiadora. É um ano bem difícil para o Brasil, por conta das crises que vêm acontecendo. A Copa do Mundo faz o país parar, o que também deve ser levado em conta. Então precisamos estimular as empresas juniores a performar bem e entregar bons números apesar do momento complicado. Para isso, fazemos eventos em todo o país. Temos parcerias com o Sebrae Nacional e várias empresas para fortalecer as nossas empresas juniores.

Estamos trabalhando para que todos os estados brasileiros tenham a sua federação de empresas juniores. Temos organizações do tipo em 25 estados – Amapá e Roraima devem ter esse órgão representativo em breve. Nas próximas semanas, queremos lançar um manifesto por um país mais empreendedor.

Em 2016, entrou em vigor a Lei da Empresa Júnior, que nasceu para incentivar o desenvolvimento desse setor. Quais são os impactos após dois anos?
A lei foi um marco muito importante para nós. O texto determina que as universidades devem ceder espaços físicos e professores para auxiliar as empresas juniores.

Há uma diferença no cenário das empresas juniores brasileiras quando se fala em antes e depois da lei. Em 2015, esses negócios tinham faturado, juntos, R$ 6,7 milhões. Em 2017, a receita chegou a R$ 21 milhões.

No entanto, as universidades têm que criar resoluções que autorizem os cursos a alterar a grade e a ceder instalações para as empresas juniores. Isso é algo feito gradualmente. É um trabalho de formiguinha. Hoje,150 universidades brasileiras já se atualizaram. Estamos trabalhando para que a mudança chegue a todas as instituições de ensino.

Quais é o principal desafio das empresas juniores brasileiras?
O nosso desafio começa no próprio modelo do ensino superior brasileiro, que não traz o empreendedorismo nem como matéria e nem como mentalidade. É tudo muito teórico. Nesse contexto, o jovem tem que conciliar a graduação com a empresa júnior, mas muitas vezes a universidade não enxerga a atividade. Não a incentiva. E aí, com o risco de se dar mal nas aulas, muitos alunos abandonam a empresa júnior.

Um dos grandes desafios que temos é dar mais legitimidade às empresas juniores, para melhorar as condições de trabalho dos empreendedores e também para os professores que nos apoiam.

O fato de os estudantes não ganharem dinheiro não atrapalha o movimento?
A falta de pagamento é um desafio, mas menor. Primeiro, porque as empresas estão crescendo. As mais maduras investem na formação de seus membros, com cursos e custeando sua participação no Encontro Nacional das Empresas Juniores (Enej), o evento mais importante do setor.

Além disso, nós formamos empreendedores com propósito, com vontade mudar o Brasil. Tornamos a universidade um lugar mais empreendedor, ajudamos outras empresas com outros serviços e formamos profissionais com potencial transformador, seja trabalhando com o próprio negócio ou como intraempreendedor.

Em agosto, haverá mais uma edição do Enej. O que haverá de novo neste ano?
O evento vai ser realizado em Ouro Preto. Neste ano, vamos ter mais participantes: 5 mil em vez dos 3,2 mil que foram a Porto Seguro (BA) no ano passado. Nós queremos um diálogo maior com a cidade nesse ano. Vamos fazer com que os participantes aproveitem mais a região e busquem oportunidades de negócio com atores da economia local e associações comerciais.

 

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