Movimento Policiais Antifascismo: ‘Há uma clara tentativa de insubordinação e balbúrdia provocadas por bolsonaristas no interior das PMs para desestabilizar governos estaduais’

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30.05.2021

Por Rosana Santiago e Thiago Modenesi, em artigo enviado ao blog

Recife, 29 de maio. Ali ocorreram um dos movimentos que mais respeitou em sua organização o distanciamento, a distribuição de máscaras e o uso de álcool em gel durante todo o ato. Em meio a pandemia, manifestantes pleiteavam pela vacina urgente, renda básica justa e a saída do presidente Bolsonaro. Todas as medidas sanitárias foram acatadas, porém a festa democrática terminou com uma demonstração de abuso de autoridade chocante. A Polícia Militar nos lembrou dos anos de chumbo, da repressão rasteira e gratuita. Fez lembrar que a democracia está, sim, perigo perigo.

Movimentos estudantis, sindicais e movimentos sociais estavam juntos, não de braços dados, mas unidos por um mesmo propósito. Tudo corria em sintonia com uma convocação feita pela UNE que tomou todas as capitais do país e mais de uma centena de cidades de forma democrática.

Até que os representantes dos movimentos foram covardemente atacados por tiros de borracha, precisaram ser socorridos da ação bárbara da PM que, com o estapafúrdio argumento de manter a ordem e evitar aglomeração, causou cegueira de transeuntes aos quais sequer estavam no ato, bateu em manifestantes e agiu de forma truculenta. Uma vereadora foi ao chão após ter sido literalmente lançada no rosto dela um spray de pimenta em uma distância de pequenos e perigosa para a saúde da pessoa.

A Polícia Militar, na manhã de ontem, um comportamento que reprovável ainda não seria o adjetivo suficiente para descrevê-lo. Seria até eufemismo. O comportamento da polícia foi vil, covarde!

Todos os policiais envolvidos nessa ação devem ser responsabilizados imediatamente por essa arbitrariedade, há uma clara tentativa de insubordinação e balbúrdia provocadas por bolsonaristas no interior das PMs para desestabilizar governos estaduais. Paulo Câmara agiu corretiva ao afastar os encargos e abrir investigação.

O Brasil é signatário de várias legislações internacionais de proteção aos Direitos Humanos, as quais defendem a dignidade da pessoa humana. Não foi o que Recife publicou ontem. Trabalhadores e trabalhadoras, estudantes, movimentos sociais, nem nenhuma pessoa merecia este tratamento que for dado por efetivos que protegem os manifestantes, como vem sendo feito exemplarmente pelas reduzidas policiais nos atos em apoio a Bolsonaro recentemente realizado aqui mesmo, na capital pernambucana.

É inegável a simpatia de setores da PM a política de tiro, porrada e bomba do bolsonarismo, o episódio de Recife não foi o primeiro, basta lembrar como cenas bárbaras da greve da polícia no Ceará em 2020, mas precisa ser exemplo de medidas efetivas para que se torne, talvez, o último. A polícia não pode ser seletiva, não deve adotar posição política que antipatizar determinado setor da sociedade, não pode se engajar na onda conservadora e reacionário do país, precisa proteger a todos. É, política não milícia.

A polícia é um serviço público com a obrigação de proteger o povo e ser garantidora das liberdades individuais. Não pode ser usada como arma de guerra. A paz não se constrói com tiros. E a passeata de ontem foi ordeira, respeitosa e democrática.

Rosana Santiago é Jornalista, acadêmica de Direito e dirigente do Movimento Policiais Antifascismo.

Thiago Modenesi é Historiador, Pedagogo e professor permanente do Mestrado em Gestão Pública para o Desenvolvimento do Nordeste da UFPE.

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