Atletas e técnicos do Brasil nas Paralimpíadas são de projeto da UFPE: 'Incrível ver o esporte mudando a vida desses meninos', diz professora

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21/08/2021

Pernambuco estará bem representado nas Paralimpíadas de Tóquio, no Japão. Pelo menos nove atletas do estado podem trazer medalhas para casa após a competição, que começa na terça-feira (24) e vai até o dia 5 de setembro. O número de representantes é maior do que nas Olimpíadas, que contou com seis pessoas do estado.

Uma iniciativa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) tem grande participação nesse processo, com três atletas e três técnicos convocados.

O Projeto Paratleta surgiu exatamente a partir da necessidade de alunos que participavam do programa de esportes para pessoas com deficiência desenvolverem um trabalho de alto rendimento.

A iniciativa começou em 2004, com o paratletismo. Atualmente, são quatro modalidades e 58 atletas. "Trabalhamos com uma média de 35 pessoas no paratletismo, 12 na bocha olímpica, cinco na natação e seis no tiro com arco, introduzido em 2019", detalhou Luiz Carlos de Araújo, coordenador do Projeto Paratleta.

Luiz Carlos também integra o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) com as atletas Andreza Vitória Ferreira de Oliveira, da bocha paralímpica, Ana Cláudia Silva e Leylane Castro, do paratletismo.

Além deles, o técnico Ismael Marques (paratletismo) e a assistente esportiva Poliana Silva (bocha), que auxiliam Luiz Carlos no treinamento dos atletas paralímpicos, também foram convocados.

Superação
Aos 20 anos, Andreza tem um longo caminho a percorrer, mas já leva na bagagem diversas conquistas. Ela era criança quando foi diagnosticada com síndrome de leigh, característica da paralisia cerebral. Não imaginava onde chegaria quando passou a integrar o projeto, em 2015.

Com duas chances de medalha, ela conta com a professora de educação física Poliana Cruz, de 35 anos, sua parceira nas provas e na vida. Poliana tem dois papéis. Além de treinar Andreza, entra em quadra como assistente esportiva para jogar com a atleta da bocha paraolímpica, em busca de duas medalhas.

Andreza vai competir na modalidade individual e também em grupo. “Na bocha, eu faço o que a gente chama de apoio do atleta para a hora do jogo. Manuseio de cadeira de roda, bola, ajudo com o que a gente pode fazer para estratégia”, explicou.

A cumplicidade das duas é visível. Elas se vestem de forma parecida, usam o cabelo do mesmo jeito e conseguem se entender no olhar. Uma sintonia que vem rendendo bons frutos.

“Ela começou a jogar bocha em 2015 e, em 2016, já conquistou o segundo lugar nas Paralimpíadas Escolares, na época, na categoria BC2. Em 2018, passou por reclassificação e hoje joga como BC1. Está na seleção desde 2018 e carimbou o passaporte para Tóquio em uma competição em Portugal, em 2019”, lembrou a treinadora.

Andreza não esconde a emoção que sente desde que soube que iria participar da competição. "Foi muito emocionante (saber). Quer dizer que eu estou entre os dez melhores do mundo. Tudo porque, em 2015, uma mulher falou com a minha mãe no supermercado sobre o projeto e eu fui lá", contou.

Antes de começar a participar do projeto, a vida de Andreza era entre escola, fonoaudiólogo e fisioterapeuta. A professora ressaltou o orgulho em integrar o projeto. Segundo Poliana Cruz, um sonho que virou realidade, literalmente.

"Eu sonhei que havia duas malas e que quando abria estavam com todas as roupas do Brasil. Isso em fevereiro desse ano. Primeira vez que a gente voltou para a seleção. Isso antes da convocação, ainda em fevereiro. E quando recebemos agora, em julho, era exatamente do mesmo jeito que eu sonhei", disse.

Integrar o Projeto Paratleta é um orgulho para a professora Poliana. "É incrível ver o esporte mudando a vida desses meninos, de algumas pessoas nem saiam de casa. Entendi que demos um passo a mais quando a gente conseguiu colocar um atleta nosso na universidade, no curso de jornalismo. O nosso objetivo é oferecer muito mais do que o esporte. E a gente tem conseguido fazer isso".

Esperança
Leylane Castro, de 27 anos, é outra integrante do projeto da UFPE que está estreando em paralimpíadas. Atleta do arremesso de peso, ela também tem um currículo cheio de bons resultados.

É a atual campeã brasileira e foi medalha de prata no último Parapanamericano. “As minhas expectativas são as melhores. Para mim é uma grande honra e sinto que eu estou preparada”, disse.

Leylane tem encefalopatia crônica, consequência de uma queda em uma escada, quando ela teve uma parada cardiorrespiratória. Após o acidente, ficou com sequelas motoras, na fala e na coordenação. A pernambucana começou no esporte paralímpico como forma de tratamento para melhorar sua coordenação e postura.

Ela contou que começou a participar do projeto há cinco anos. Tentou a bocha atlética, mas não deu certo. Se encontrou no atletismo.

“Foi bem cansativo. Uma trajetória cansativa, mas para tudo na vida a gente tem que ter um pouco de foco, de força e de fé”, disse.

Depois de se doar tanto, ela só tem um pedido. “Eu peço o carinho, a torcida de vocês. Minha prova é dia 3. Assistam e torçam por mim”, lembrou.

Ana Cláudia Silva, a Lalá, de 35 anos, também vai representar o estado e o programa da UFPE. Serão duas provas: salto em distância e cem metros rasos, que é a preferida dela.

“É uma honra muito grande representar Pernambuco e o Brasil. As minhas expectativas são as melhores possíveis. Estamos bem preparadas para essa busca de medalha e resultados expressivos. Espero dar o meu melhor na pista e trazer medalhas”, afirmou.

Em sua segunda paralimpíada, ela disse que a preparação desta vez foi mais intensa e ela se sente melhor preparada fisicamente e mentalmente.

“Os treinos foram duros, árduos, sofridos, mas graças a Deus o caminho que estamos trilhando nos deixa cada vez mais perto da realização de um sonho”.

Quando tinha 6 anos, Ana Claúdia sofreu uma queda e fraturou o fêmur, o que a deixou sem andar. Aos 12 anos, ela conseguiu voltar a caminhar e, por intermédio de um professor de educação física da sua escola, começou a praticar futebol. Um tempo depois, conheceu o atletismo paralímpico e ficou encantada.

Ela reforçou a importância de projetos como o desenvolvido na UFPE. “Para mim, é uma satisfação muito grande participar desse projeto onde a gente vem com uma crescente muito grande, desde 2014, quando eu comecei. O projeto é de grande importância e mostra que o atleta pode sim estar em uma paralimpíada e conseguir o que quiser através do esporte”, disse.

Como participar
A UFPE prevê a abertura de inscrições para participar no Projeto Paratleta no início de 2022. As pessoas com algum tipo de deficiência interessadas em participar devem se dirigir a Secretaria de Gestão do Esporte e Lazer (Segel) da UFPE para realizar a inscrição.

Após o processo de inscrições, os interessados são convidados para uma avaliação na universidade do tipo e grau da deficiência.

Quem tiver dúvida pode entrar em contato com o departamento pelos telefones 2126-8462, 2126-8461 e 2126-8577.

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