Morre aos 90 anos a atriz Socorro Raposo, que interpretou Nossa Senhora na peça Auto da Compadecida

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24/08/2021

Morreu, aos 90 anos, a atriz Socorro Raposo, que interpretou por quase 20 anos o papel de Nossa Senhora na clássica montagem do Auto da Compadecida, do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna (veja vídeo acima). A atriz era paraibana, mas morava no Recife desde jovem. Ela faleceu em casa, na noite da segunda-feira (23).

"Ela era uma pessoa muito generosa, muito amável e carinhosa com todos, ajudava muitas pessoas em todos os sentidos [...] Foi uma vida dedicada à arte e ao teatro", relatou o ator, amigo pessoal e compadre de Socorro, Pedro Dias, de 54 anos. Segundo Pedro, Socorro teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) há alguns anos e vivia acamada, com ajuda de enfermeiros e cuidadores.

A filha do ator, Amanda Petra, de 28 anos, foi apadrinhada por Socorro, que não se casou e não teve filhos. "O casamento dela foi com o teatro", disse o amigo. Além de atriz, Socorro também era dentista e formou-se em odontologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Segundo o amigo, ao longo da vida, ela se dividiu entre a paixão pelas artes cênicas e o consultório odontológico. "Ela tinha muitos projetos solidários também, quando jovem fazia atendimentos gratuitos para artistas", contou.

Em 2004, a atriz recebeu o título de cidadã Pernambucana, concedido pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).

Relação com teatro
Nascida em 24 de junho de 1931, Socorro começou a atuar ainda criança, no colégio católico no qual estudava na Paraíba. "Ela começou a fazer teatro lá. Sempre foi uma mulher muito religiosa, era beata mesmo. Tinha muita fé. Não era coincidência que ela tenha interpretado o papel de Nossa Senhora. Era uma mulher que sabia ser justa", disse o amigo.

Foi em 1956 que aconteceu a montagem do Auto da Compadecida que projetou o escritor paraibano Suassuna como dramaturgo nacionalmente conhecido. Sob direção de Clênio Wanderley, em 1957, a peça ganhou prêmio do I Festival de Amadores Nacionais no Rio da Janeiro, no Teatro Dulcina, no Centro da capital carioca.

No Recife, no casarão de número 465 da Rua da Glória, localizado na Boa Vista, no Centro da cidade, Socorro fundou o Espaço Inácia Raposo Meira, que levou o nome em homenagem à sua mãe. No local, de grande efervescência cultural, eram oferecidas aulas, espetáculos e formações artísticas.

"Era um local procurado por todos que faziam parte do circuito das artes do Recife. Assisti espetáculos belíssimos por lá". Atualmente, o espaço foi reinventado pelo grupo teatral Magiluth, que tem como inspiração a proposta original de Socorro: espaço de criação e produção artística.

Com longo currículo, Socorro participou de encenações como “Batalha dos Guararapes” e "A Paixão de Cristo", dirigidas por José Pimentel, além de outros espetáculos como “Catarim de Cantará”, “A Comédia do Amor”, “O Menino do Dedo Verde” e “Cadeira Vazia”.

"Foi uma vida longa dedicada ao que ela mais amava. Sentiremos saudades e levaremos o legado dela conosco", declarou Pedro. O velório da atriz e enterro foram marcados para o Cemitério de Santo Amaro, na área central do Recife, nesta terça-feira (24).

Pesar
O secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello, e o presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, José Manoel Sobrinho, lamentaram a morte da atriz.

Por nota, José Manoel Sobrinho afirmou que Socorro Raposo "foi uma unanimidade pela grandeza de seu coração. Mulher, militante do teatro e da odontologia, produtora cultural e atriz. Incansável em todos os papéis. Levou nosso teatro, o do Nordeste, para todas as regiões do Brasil. Um símbolo para todas e todos da arte e da cultura".

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