Cresce o interesse por vídeos em stop motion no Nordeste

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28.08.2021


Ao pé da letra, stop motion significa movimento parado. Técnica em que várias fotos de um mesmo objeto resultam na fluidez das cenas. Uma espécie de ‘ilusão do deslocamento’, que o cinema americano já explora há um tempo, capaz de instigar o mercado de animação muito além do sotaque gringo. Leia-se pernambucanos interessados em contar histórias a partir da junção de inúmeros frames por segundo.

É a mistura do mundo físico com o estático, já visto em trabalhos como “A noiva Cadáver”, de Tim Burton, ou em cenas de batalha exibidas em três episódios de Star Wars, que fascina produtores locais como Lorde Jimmy, 25. “Me motiva projetar emoção, por meio de personagens que são bonecos articulados, registrados em fotos colocadas em fileira”, diz ele, que está em finalização no filme em stop motion “O guia e as crianças perdidas”.

Para se ter uma ideia do desafio que é criar uma única cena, Jimmy recorda a vez em que, para ter uma vitrola rodando, precisou sequenciar 500 fotos e alcançar dois minutos de movimento. A média para um segundo de imagem é de 12 a 24 cliques.

Mercado no Nordeste

Sem saber exatamente a razão para o boom de lançamentos locais recentes, o designer e professor de Cinema da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcos Buccini lembra que este tem sido um interesse crescente. “A animação pernambucana viveu muito tempo de curta-metragens, então a gente ainda não tem nenhum longa lançado. Com o Funcultura, esses curtas, então, melhoraram a qualidade e a profissionalização, mas a maioria ainda é experimental”, resume ele, que é autor do livro “História do Cinema de Animação em Pernambuco”.

Buccini também assina produções em stop motion, como “A morte que veio do barro”, de 2005, feito com Plínio Uchôa, que concorreu a festivais fora do Estado, num trabalho que utiliza o artesanato típico da cultura nordestina: o boneco de barro. Além dele, outros nomes ajudam a criar bases para a cena local, cujo caminho foi aberto pelo cineasta Fernando Spencer, com o seu “As corocas se divertem” (1977), animado com bonecos de palha.

Nos trabalhos recentes, Nara Normande concorreu a inúmeros festivais e premiações internacionais com o seu “Guaxuma”, de 2018. Entre eles, a indicação para o Anency - considerado o Oscar da animação. “Hoje a gente tem uma qualidade mais avançada do que os stop motions antigos feitos em casa ou no estúdio pequeno”, completa Buccini.

Desafios no caminho

Como em todas as áreas, a pandemia atrapalhou muitos projetos, mas este não é o único desafio dos criadores. “São processos lentos e desgastantes para os animadores, e aqui no Recife não existe uma valorização nem um conhecimento muito grande sobre a profissão, portanto não há tanta estrutura”, destaca a animadora Marila Cantuária, que integra o “Produções Ordinária”, em Olinda.

Quem vislumbra uma carreira, ela destaca as oportunidades que estão surgindo no mundo virtual. “Para quem puder acompanhar os eventos, se capacitar por oficinas, entrar em contato com realizadores, assistir a festivais de animação como o Animage, é um bom caminho para começar a pensar nos seus próprios projetos e no desenvolvimentos de suas técnicas”, aposta.

Com vontade de criar

Por haver um mercado ainda em consolidação, é mesmo a paixão que estimula a produção de profissionais como a arquiteta Renata Claus, que enveredou por esse caminho a partir de uma oficina realizada pelo SPA das Artes. “Fui estudando através de oficinas, palestras, livros, festivais, pesquisas de internet e grupos de estudos com outros amigos animadores mais experientes”, lembra.

No seu currículo, ela já integrou a equipe de orientadores das oficinas do projeto Cine Sesi Cultural e a equipe de curadores do Festival Animage. “A paixão por essa encantadora arte, assim como as importantes políticas públicas de incentivo à cultura do estado, contribuem para preservação dessa animação artesanal. Seguimos evoluindo”, conclui.

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