Pernambuco na rota dos presidenciáveis

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28.08.2021


O presidenciável João Doria (PSDB), governador de São Paulo, chega hoje a Pernambuco para agendas em Caruaru, com a prefeita do município, Raquel Lyra (PSDB), e Recife, onde encontrará o governador Paulo Câmara (PSB). O tucano engrossa a lista de postulantes à Presidência da República que visitaram o Estado no mês de agosto.

Antes dele, o também tucano Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul - que disputa com Doria a preferência do partido para 2022 - e o ex-presidente Lula (PT) estiveram em solo pernambucano para debater com partidos e alinhavar possíveis alianças para o próximo ano. No próximo sábado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participa de uma motociata em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste, única cidade pernambucana em que saiu vencedor nas urnas em 2018. Já em setembro, está prevista a visita ao Estado do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM), que também se coloca na disputa pelo Planalto.

No Agreste, Doria participa da oitava edição do “Encontros do PSDB pelo Brasil”, evento de reunião da militância que faz parte da preparação para as prévias do partido, previstas para novembro. Ele será recebido por Raquel Lyra, presidente estadual da sigla. Com ela, visita a Feira de Artesanato de Caruaru e o Monte do Bom Jesus, para então conceder entrevista coletiva em um shopping da cidade. O último ato em Caruaru será a assinatura de um convênio de educação. Já na Capital, ele almoça com o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, visita o Porto Digital e segue - sem Bruno - para encontro com Paulo Câmara, no Palácio das Princesas.

Encontro provoca insatisfação tucana

A última parada de Doria, inclusive, tem gerado insatisfação entre os tucanos. Nos bastidores, se fala que lideranças do partido, sobretudo no interior do Estado, não digeriram bem a ida do governador de São Paulo ao encontro do socialista.

O PSB é adversário habitual do PSDB em Pernambuco, além de ser o antigo partido de Raquel Lyra, que deixou as hostes socialistas em um rompimento atribulado. Raquel é colocada como postulante ao Governo do Estado e, caso formalize a candidatura ano que vem, terá o PSB como adversário. A insatisfação tucana também foi levada a público. O vereador de São Joaquim do Monte, Ricardo Jefferson, disse em rede social que Doria “veio se reunir com nossos adversários locais” e declarou voto em Eduardo Leite para as prévias do partido. Vereadores representam 50% do peso total de votos dados por um dos quatro grupos que votam nas prévias tucanas. Ao vir a Pernambuco, o gaúcho não se encontrou com Paulo, porém, na ocasião, o socialista estava em agenda no Sertão.

“A ideia de Doria é fazer um gesto, de dialogar com Paulo Câmara, isso sempre causa seus desconfortos, como está posto por políticos locais do PSDB. Tem muito peso você ser recebido por outro governador, teoricamente é um gesto simbólico de estado para estado, mas sabemos que em política nada é tão simples. Tem um peso discursivo”, avalia a cientista política e professora Priscila Lapa, que vê a vinda dos tucanos a Pernambuco como uma forma de tentar mudar a “cara paulista” do PSDB.

“O Nordeste passa a ser estratégico para o PSDB, principalmente na construção de uma terceira via, precisa fortalecer seus palanques”, complementa Priscila, citando Raquel como a alternativa viável para esse projeto. Arthur Leandro, cientista político e professor da UFPE, também enxerga a necessidade do PSDB, sobretudo Doria, se tornar atraente no Nordeste. “Há dificuldade de Doria na construção de um projeto nacional. Ele fala desse projeto há muito tempo, mas não consegue extrapolar São Paulo.”

Mobilização da base de apoio

Aumentar a inserção no Nordeste também é objetivo de Bolsonaro. De acordo com as últimas pesquisas eleitorais, a Região é a mais opositora ao seu governo, característica que se mantém desde as eleições de 2018. Tanto que o único município pernambucano no qual Bolsonaro venceu no segundo turno foi escolhido para sediar o início de uma motociata do presidente. Esse tipo de evento tem se tornado comum ao reunir motociclistas aliados do mandatário em diversas cidades do País, e ocorrerá pela primeira vez no Nordeste.

“Bolsonaro promove atos para tentar aumentar ou, no mínimo, consolidar sua base eleitoral. Os passeios de moto são mais um instrumento para sedimentar o bolsonarismo. A ideia então é desconstruir as repercussões negativas do seu governo”, frisa o cientista político Alex Ribeiro.

A passagem de Bolsonaro por Pernambuco começa na próximasexta, quando acompanha, no Recife, a passagem do comando da 4ª Região do Exército. O ato ocorre poucos dias antes do esperado 7 de setembro, que vem sendo vendido por apoiadores do presidente como a data crucial para mobilizações em defesa do governo. “Não só o evento em Pernambuco, como o que já ocorre em outros estados, provocam a base bolsonarista a aumentar sua participação política. E isso é um dos fatores determinantes para os atos que devem ocorrer no dia 7 de setembro”, afirma Alex, frisando que o ato é vital para “medir a temperatura do governo em relação a sua popularidade”.

Polo de articulação de presidenciáveis

O presidente e postulantes da centro-direita e esquerda passam por Pernambuco para pavimentar o caminho das urnas para 2022. Para Arthur Leandro, isso se deve à importância do Estado no contexto regional. “Pernambuco é centro do Nordeste também do ponto de vista político, essa referência representa espaço a ser conquistado ou mantido. Conquistar espaço aqui significa muito do ponto de vista de alianças regionais e também do ponto de vista simbólico. Estar bem posicionado em Pernambuco encurta distâncias com outros centros de poder do País”, sublinha Arthur, ressaltando o histórico favorável à esquerda em Pernambuco.

“Pernambuco tem muita tradição política de revelar lideranças nacionais e construir alianças locais que reverberam no contexto nacional”, acrescenta Lapa, destacando ainda o “fator PSB”, que tem o seu núcleo partidário no Estado e, portanto, torna Pernambuco local de passagem em busca de alianças.

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