Dois crimes que abalaram Pernambuco

PDF Imprimir E-mail

26/08/2021

A Hecatombe de Garanhuns aconteceu há mais de 100 anos e entrou na história dos crimes mais emblemáticos da história de Pernambuco. Aconteceu exatamente em 14 de janeiro de 1917 e está no capítulo que José Paulo Cavalcanti assinou na coletânea Os Grandes Crimes, escrita por 11 famosos advogados brasileiros. Júlio Brasileiro, um dos políticos mais importantes de Garanhuns e que tinha sido eleito prefeito da cidade, foi assassinado no Recife. Ao receber a notícia, a viúva Ana Duperron avisou que não receberia pêsames. E disse “Não derramarei nenhuma lágrima se outras não derramarem. E só vestirei luto depois que outras vestirem”. Previa que brevemente outras viúvas seriam suas companheiras de infortúnio. Poderosa, reuniu mais de 100 capangas da região. Residências e estabelecimentos comerciais de políticos opositores do falecido e lojas de opositores políticos do falecido começaram a ser atacados. Havia um cheiro de sangue por toda a cidade, conhecida como a Suíça pernambucana, pelo seu clima agradável. Diante do problema, e do perigo que representava, José Pedro de Abreu e Lima, o juiz da comarca, se reuniu com o delegado Antônio de Pádua Pimentel Moreira Lima. Conseguiram convencer aliados e familiares de Manuel Jardim, Sátiro Ivo e os irmãos Júlio e Argemiro Miranda, para a viúva os principais suspeitos da morte do marido, a se refugiarem na cadeia pública da cidade. Lá, segundo as autoridades, ficariam bem protegidos dos bandidos. Mesmo alegando não terem qualquer relação com o assassinato, aceitaram e levaram esposas e filhos. A viúva, no entanto, não estava interessada em fazer justiça. Lembrou de velhos ressentimentos e queria vingança. Para evitar confrontos, o delegado teve a infeliz ideiaf de  tirar todas as armas da delegacia. Com poucos policiais e desarmados, foi um alvo fácil para os capangas, que invadiram e literalmente trucidaram os 18 que lá estavam. Só escapou Teotônio, uma criança de oito anos, filho de Argemiro Miranda, que os criminosos se recusaram a matar. Naquela noite, finalmente a viúva Ana Duperron se vestiu de preto, fez o velório do marido e chorou. Ela e as viúvas dos que morreram na delegacia.

Alcides do Nascimento Lins, filho da catadora de lixo Maria Luiza do Nascimento, em 2007, foi aprovado em primeiro lugar entre os alunos oriundos de escolas públicas, no vestibular de Biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco, fato que teve uma grande repercussão nacional, inclusive sendo matéria no Fantástico, da Globo. Tornou-se um orgulho da Vila Santa Luzia, uma comunidade muito pobre do bairro da Torre. Aos 22 anos, poucos meses antes de se formar, sua história de superação terminou em tragédia, que chocou o estado e ganhou dimensão nacional. No dia 5 de fevereiro de 2010, duas pessoas bateram na porta da sua casa. Ele atendeu, mas não soube informar o paradeiro de morador da vizinhança que procuravam. Com raiva, João Guilherme Nunes da Costa deu um tiro no estudante. Ele era dono de uma enorme ficha criminal e tinha saído da Penitenciária Professor Barreto Campelo, em Itamaracá, há duas semanas. Estava em companhia de um menor, que foi obrigado a dar um segundo tiro na vítima. Os dois conseguiram fugir e, quando o assassinato foi divulgado, se formou uma grande campanha de solidariedade. Comandada pelo reitor da UFPE, Amaro Lins, e pelos seus colegas da turma, onde era muito querido. Pouco depois, os dois foram presos. Júri popular condenou o assassino a 25 anos de prisão. O menor, de acordo com  lei, passou apenas três anos detido numa unidade da Funase. Pela segunda vez, Alcides foi tema de matéria no Fantástico, mostrando o desespero da mãe, que depois conseguiu formar outras três filhas. Pelo seu exemplo, Alcides do Nascimento Lins foi lembrado e tem seu nome numa escola estadual de Camaragibe.

Link da matéria