Morre, aos 85 anos, o professor José Luiz Mota Menezes

PDF Imprimir E-mail

06/09/2021

Profundo conhecedor do Recife, o professor e arquiteto José Luiz Mota Menezes faleceu na manhã desta segunda-feira (6), aos 85 anos. Nome importante para o urbanismo da Cidade, ele foi professor da Universidade Federal de Pernambuco, publicou inúmeros livros na área e assinou projetos de restauração em Pernambuco.

José Luiz estava internado há 63 dias, em um hospital no Recife, e teve insuficiência renal crônica. O velório será à tarde na Academia Pernambucana de Letras e o enterro ainda nesta segunda, às 16h, no Parque das Flores. Ele deixa duas filhas e 3 netos.


Pernambuco de Luto

O governador Paulo Câmara declarou luto de três dias em Pernambuco. "Profundo conhecedor das raízes e evolução do Recife como cidade, o professor José Luiz era membro da Academia Pernambucana de Letras e uma referência nacional em patrimônio e urbanismo. Estamos decretando luto oficial de três dias em sua homenagem e queremos manifestar nossa solidariedade à família e amigos", afirmou o governador.


Atuação

Apesar da dedicação ao Recife, José Luiz Mota Menezes é alagoano. Nasceu na cidade de Pilar (atual Manguaba), porém se mudou para Pernambuco aos 9 anos, em 1945. Morador da Várzea, na Zona Oeste, conseguiu ter o conhecimento empírico do território ao se deslocar para o Centro de bonde - local em que a Cidade efervescia.

Formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 1961, desempenhou sua vida profissional a estudar a cidade, a mobilidade e suas transformações.

Trabalhando no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (atual Iphan), assinou os projetos de restauração da Catedral da Sé, Igreja de Nossa Senhora da Graça, antigo Palácio do Bispo (Sítio Histórico de Olinda), Casa da Cultura, Palácio da Justiça, antiga Estação do Brum, antiga Sinagoga da Rua do Bom Jesus, sede da Associação Comercial de Pernambuco e Palacete dos Amorins, na Avenida Rui Barbosa (Recife). Também projetou o Santuário da Mãe Rainha Três Vezes Admirável (Olinda) e a Igreja Matriz do Largo da Paz (Recife), entre outros.

Professor da UFPE, duas vezes presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, membro da Academia Pernambucana de Letras (APL), José Luiz Mota defendia que a cidade fosse feita para que as pessoas vivessem tranquilamente, além de um novo modelo de mobilidade urbana.

Legado

Mesmo com o seu falecimento, seu legado continuará sendo perpetuado. Quando descobriu um câncer no intestino, ele passou seus trabalhos em um HD externo à sua sobrinha, Clarissa Fraga, que está à frente da Bureau Cultura. "Ele me deu a missão de manter a obra dele viva e continuar o seu legado. É minha obrigação cuidar bem desse acervo tão rico e dar visibilidade à obra dele”, afirmou.

Instituto Arqueológico

Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), o qual ele foi presidente e sócio benemérito, emitiu um comunicado pela manhã."Arquiteto de formação, estudou na antiga escola de Belas Artes e realizou inúmeros trabalhos em prol do Patrimônio Cultural do Brasil. Sempre na fronteira entre a História e o Urbanismo escreveu inúmeras obras de referência para entender o Recife e Pernambuco. Deixamos aqui os sinceros pêsames aos familiares e amigo", disse a nota do Instituto Arqueológico.

Secult-PE e Fundarpe lamentam

Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) lamentaram, em nota, a morte de José Luiz Mota. Ele chegou a ser dirigente da Fundarpe, em 1973, onde desempenhou um papel fundamental pela qual a instituição exerce hoje.

“Recife perde um dos maiores pensadores e conhecedores de sua história. Um grande urbanista, com uma visão moderna e atual da vida numa grande cidade. Acompanhou como poucos da sua geração as mudanças que vivemos, contribuindo muito com a construção de uma política pública para o setor. Foi dirigente da Fundarpe em 1973 e desde lá aprofundou o debate sobre o papel do Estado na preservação os bens materiais e imateriais", declarou Marcelo Canuto, presidente da Fundarpe.

O secretário de Estadual de Cultura, Gilberto Freyre Neto, lembrou do pesquisador enquanto um entendedor da Cidade. "“A história do Recife teve na pessoa de José Luiz Mota Menezes um grande observador e entendedor. Sua contribuição nas discussões sobre a cidade e a evolução da sociedade foram sempre acertivas. Sua passagem pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural trouxe um olhar muito atento ao que já vivemos e o que iremos viver no futuro breve. É um dia muito difícil para quem milita pela cultura”, comentou.

Publicações na Cepe

A Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) também emitiu uma nota ao falecimento. José Luiz também era escritor e seus últimos títulos foram publicados pela casa gráfica do Estado. "Mobilidade Urbana no Recife e seus arredores"; "Ruas sobre as águas: as pontes do Recife", além de "Recriação do paraíso: judeus e cristãos-novos em Olinda e no Recife nos séculos 16 e 17" foram lançados em 2015.

"Pernambuco deve ao professor José Luiz Mota Menezes diversos estudos sobre a sua história, mais especificamente a história urbana do Recife. Os livros que ele publicou quanto ao processo de fundação da cidade e sobre o período holandês estão entre os fundamentais para a compreensão do nosso passado. Como editora dos últimos trabalhos do professor José Luiz Mota Menezes, a Cepe lamenta profundamente o seu falecimento ", destacou o presidente da Cepe, Ricardo Leitão.

Contribuição com o CAU

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU/PE), o qual ele atuou na Comissão Especial de Política Urbana, também lamentou a morte do pesquisador. "O CAU/PE agradece toda a sua dedicação ao longo de uma respeitada trajetória profissional, sempre vislumbrando soluções para a preservação do patrimônio cultural pernambucano, defendendo a integração da memória urbana do Recife ao cotidiano de todos e todas", enfatiza o comunicado.

"Perdemos um olhar único"

Secretaria de Cultura do Recife e a Fundação de Cultura Cidade do Recife também soltaram um comunicado sobre a morte do urbanista. No texto, as instituições relembraram da medalha de Ordem do Mérito Capibaribe da Cidade do Recife - Grã Cruz, concedida a ele em 2017.

“Profundo conhecedor das paisagens, histórias e belezas recifenses, ele nos oferece, em dezenas de publicações, muitas razões a mais para cultuarmos, com tanta paixão, a nossa cidade. Perdemos um olhar único, capaz de vislumbrar transformações nas texturas, silhuetas e traçados da cidade. Ganhamos, com ele, uma obra que será sempre presente, como leitura da nossa história”, afirmou o secretário de cultura do Recife, Ricardo Mello.

Link da matéria