Bolsonaro será o candidato do centro?

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19.09.2021

Assim como fez a Lava Jato, Jair Bolsonaro estresse o sistema político. Isto significa que as instituições ficam irritadas, racham, mas não quebram. No período de 2015 a 2018, a Lava Jato tentou mudar o sistema político. Mas não conseguiu. Jair Bolsonaro, como presidente, tentou fazer o mesmo, mas também não obteve sucesso.

Ao contrário da Lava Jato, o presidente Jair Bolsonaro recua sistematicamente quando é ameaçado pelas instituições. A Lava Jato foi controlada pelas instituições. O presidente da República recebeu e foi controlado. O auge do recuo do presidente foi logo após os bolsonaristas irem às ruas em Brasília e São Paulo e escutarem dele agressões ao STF e ao ministro Alexandre de Moares. A massa bolsonarista acreditou no líder. Quem leu meu artigo neste espaço, publicado em 05 de setembro, já sabia que o sistema sofreria estresse. Mas não quebraria.

Jair Bolsonaro conversou com o sábio Michel Temer e foi convencido a recuar. Razões relevantes existiram. Dentre as quais e mais visíveis, a solidão do presidente da República, já que diversos atores estratégicos indispensáveis ​​que não embarcariam em qualquer aventura que tenha o objetivo de quebrar o sistema. O mandatário da República acertou ao desistir de enfrentar as instituições.

Ao recuar, Jair Bolsonaro chegou ao centro. Sai de cena o presidente afoito e que critica costumeiramente as instituições, e chega à arena política o Bolsonaro que dialoga e respeitando as instituições. Existe, claro, incerteza quanto à permanência do presidente da República no centro. Entretanto, se Bolsonaro lá permanecerá até 2022, ele poderá enfraquecer os candidatos do centro.

Lula e Bolsonaro estão em condições, neste instante, de disputarem o 2 ° turno da vindoura eleição. Os postulantes do centro torcem pelo enfraquecimento exacerbado do presidente ou seu impeachment. A primeira possibilidade não é remota. A segunda é. Contudo, a estratégia ótima para o presidente Bolsonaro é governar, responsabilizar a Covid-19 pela crise econômica, ampliar o Bolsa Família, reforçar o antipetismo e caminhar para o centro. Se assim o fizer, ele adquire as condições de recuperação popularidade.

O aumento da reprovação do governo, uma crise econômica e algumas ações das instituições têm o poder de incentivar Jair Bolsonaro a abandonar o centro. O retorno ao radicalismo fará com que as instituições reajam. E a solidão do presidente no exercício do poder voltará. O 07 de setembro revelou a Bolsonaro que nem todos estão para o que der e vier com ele. Inclusive, policiais e militares.

Adriano Oliveira é Cientista Político e Professor da UFPE

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