Brasil: crescimento e instituições

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Brasil: crescimento e instituições

Opiniões - Página 5

12 de outubro de 2021

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"Alcançar o crescimento econômico que o País deseja não é uma tarefa de curto prazo", disse o economista Fabio Giambiagi, em artigo recente (08/10, Estadão), cuja prosa espelha didatismo similar ao do agora nonagenário Delfim Netto. Texto que sai da clausura corporativa: é alcançável por não-economistas. Comporta o básico da fragilidade de uma economia que, há mais de 40 anos, não alça voo sustentável.

DUAS fragilidades mencionadas por Giambiagi - ao que acrescento alguns números - já dão ideia do tamanho da bronca de reconstrução da economia brasileira. UMA, que já dura quatro décadas, e bem conhecida, é a quase estagnação da produtividade - como indicador global: 'produtividade total dos fatores', capital e trabalho -, rotineiramente comparada à da Coreia do Sul: esta, ladeira acima desde meados dos anos 1960 e a brasileira capengando desde início dos anos 1980. Por outro lado, 94% das exportações coreanas eram de produtos primários e manufaturas simples em 1964 (Brasil, 97%); em 2014, Coreia 17%, Brasil 63%. E grande é a superioridade coreana na exportação de produtos de média e alta tecnologia. A OUTRA fragilidade, mais recente, assusta: a partir de 2014, o investimento anual, no País, sequer cobre a depreciação do capital. E se em 2021 for confirmado o esperado crescimento de 5,0% do PIB brasileiro, o produto ainda será "2% menor que o de 2014". Flagrante contraste com todos os períodos de recuperação pós-recessão, inclusive o pós-1930-31, quando em até 5 anos pós-crise o PIB bem mais que compensa as perdas - embora, depois de 1980, sem sustentabilidade.

A reafirmação do imperativo da perspectiva de longo prazo, neste país do "curtoprazismo", é unanimidade entre atentos economistas. E aqui vem o papel das instituições, tema recorrente nesta coluna e essencial à visão de longo prazo. O país, que há muito necessita de novas instituições - não só econômicas, claro - perde precioso tempo. Pior, chega a corroer boas instituições, p.ex., na economia, na política, em educação e ciência. Responsabilidade fiscal, improbidade administrativa, pedagogia do ensino, incentivos a retenção de talentos. Affonso Pastore, em entrevista a propósito de seu recém-publicado livro "Erros do Passado, Soluções para o Futuro", foi preciso: 'Os países crescem com instituições INCLUSIVAS' (maiúsculas minhas). Atores que buscam oferecer à sociedade - nas cruciais eleições de 2022 - alternativa racional à pobreza de ideias emanadas do atual binômio de polarização política, deveriam se inspirar nos chamamentos aqui destacados. Considerados só os danos já acrescentados nos mais de 1000 dias do atual governo, outubro de 2022 é o mais delicado e perigoso momento do País.

Tarcisio Patricio de Araujo, economista, professor aposentado (UFPE).