Estímulo à troca de saberes

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Estímulo à troca de saberes

Cidades - Página 10

15 de outubro de 2021

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COMPROMISSO Ex-aluna do IJCPM, Karla Dantas se formou em letras para retribuir o que aprendeu

Recém-formado em história pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Thiago Abercio, 22 anos, descobriu que seu futuro profissional seria numa sala de aula durante o cursinho pré-universitário oferecido pelo Instituto JCPM de Compromisso Social. Foi também lá que Karla Dantas, 27, graduada em letras, teve certeza, quando era uma das alunas, de que seguiria a carreira de professora. Para o judoca Marcílio Félix, 37 anos, o despertar para a docência aconteceu ao se tornar monitor, ainda adolescente, de um projeto realizado numa escola pública no bairro de Brasília Teimosa, Zona Sul do Recife. Neste Dia do Professor, comemorado hoje, as histórias de Thiago, Karla e Marcílio reforçam como é importante a realização de projetos sociais voltados para educação para instigar nos jovens a procura pelo magistério. E como a atuação deles, agora como docentes, ajuda a motivar outras pessoas a fazerem o mesmo.

Um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em 2018, mostrou que somente 2,4% dos alunos brasileiros de 15 anos tinham interesse em ser professores. "Foi no ambiente do IJCPM que descobri que queria ser professor. A convivência com outros colegas e a troca com os docentes contribuíram muito para que eu escolhesse a licenciatura", conta Thiago.

Ele participou do pré-vestibular do IJCPM em 2016. No ano seguinte foi aprovado em primeiro lugar, entre os cotistas, no curso de história da UFPE. Nesse mesmo ano voltou para o instituto, desta vez como mentor educacional. Ele ajuda vestibulandos numa mentoria voltada para autoconhecimento e planejamento educacional. "A curiosidade e a busca pelo conhecimento movem os professores. Fiquei feliz porque recentemente um aluno meu disse que tinha vontade de seguir o magistério", comenta Thiago.

"Quando era criança eu gostava de brincar de escolinha. Ter participado do pré-vestibular do Instituto JCPM em 2010 só confirmou meu desejo de ser professora. Projetos sociais voltados para educação são a oportunidade para que jovens como eu, que vim de um bairro simples como Brasília Teimosa, possam ter melhores perspectivas de futuro. Sou muito realizada hoje como professora e feliz por retribuir isso para a sociedade", destaca Karla. Atualmente ela é instrutora de comunicação e professora de linguagens e redação no instituto. O pré-universitário do IJCPM existe desde 2010 e já beneficiou cerca de 800 jovens do Pina e de Brasília Teimosa.

"Pratico judô desde os 6 anos. Comecei num projeto do professor Jonas Nascimento, na Escola Estadual Assis Chateubriand, em Brasília Teimosa. Ele foi a pessoa que mais me incentivou, me guiou e sempre foi fonte de inspiração. Hoje procuro fazer o mesmo com meus alunos do Pró-Criança, colocar o judô como instrumento de transformação social", diz Marcílio. "Se eles não forem grandes atletas espero ao menos que se tornem pessoas do bem. Em um mundo tão conturbado e que a educação fica em segundo plano, ajudar na formação desses jovens é algo para se exaltar", afirma Marcílio, que ensina 140 alunos com idades de 6 a 25 anos.

Entre mudanças e recomeços

Quando a retomada do ensino presencial ainda estava começando em Pernambuco, em outubro de 2020, o JC conversou com três professores para que contassem como a pandemia de covid-19 estava interferindo na rotina deles como docente. E o que, naquele momento, os inquietava. Um ano depois, eles voltam para relatar o que mudou, o que aprenderam neste período e o que pensam do futuro no contexto escolar.

ADAPTAÇÃO

Foram 18 meses distante da sala de aula. Somente na última semana de setembro deste ano Danielle Jéssica dos Santos, 29 anos, voltou a lecionar presencialmente na Escola Municipal Maria Sales de Moura, que fica na zona rural da cidade de Belém de Maria, na Zona da Mata. A última vez tinha sido em março do ano passado, quando as aulas presenciais foram suspensas no Estado.

"Durante todo esse período ficou mais evidente o quanto a participação das famílias foi fundamental para que os alunos aprendessem. Muitas, mesmo em condições difíceis de acesso à internet ou financeiras para pagar o sinal, fizeram o possível para que as crianças acompanhassem as atividades remotas", diz Danielle. "Claro que em alguns momentos eu cansei do ensino remoto. Mas nós professores nos reinventamos, buscamos estímulo e estratégias para não deixar os alunos sem aula. Aprendi que independente das dificuldades, somos capazes de nos adaptar a novas realidades", ressalta.

VÍNCULO

Para o professor de história e filosofia Fernando Chile, 51, uma das maiores alegrias, ao retornar para as aulas presenciais, foi perceber que não havia perdido o vínculo pedagógico com seus alunos do ensino médio da Escola de Referência Professor Ernesto Silva, localizada em Rio Doce, Olinda, no Grande Recife.

"A conquista principal foi a manutenção desse vínculo. Mesmo com as aulas totalmente remotas e depois divididas em remotas e presenciais, percebi que não houve estranhamento na relação de aluno e professor. A afetividade, a ligação com os alunos continuou", comenta Fernando. No primeiro momento de retorno para escola, um ano atrás, ele diz que havia o sentimento de medo e desconfiança por causa do coronavírus. Agora, com a desaceleração da pandemia, aos poucos a vida escolar vai voltando ao normal.

Embora a continuação do formato híbrido seja uma aposta entre educadores após a pandemia, Fernando acredita que as atividades remotas servem para complementar a aula presencial. "O ensino presencial é insuperável e insubstituível. Não se compara dar uma aula cara a cara, olho no olho. O remoto causa desinteresse. Pretendo permanecer usando o ambiente virtual, mas como uma ferramenta complementar."

REMOTO

Luís Carvalheira de Mendonça, 73, ainda permanece no ensino remoto. Professor de graduação e pós-graduação do curso de administração da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) há duas décadas, ele está satisfeito com as aulas virtuais. Diz que os alunos também estão pois há praticidade e ganho de tempo. Mas reconhece que o formato presencial é necessário para cursos e disciplinas mais práticas. "Não é o caso das matérias que leciono", atesta.

"Assim como o trabalho, a pandemia reforçou que a sala de aula pode ser remota. Será necessário repensar o ambiente físico das instituições de ensino", comenta Luís, que embora bem adaptado ao remoto afirma sentir falta de alguns encontros com os estudantes. "Percebo que a troca entre os alunos e os professores foi ampliada", destaca.