Pandemia aumenta prática do 'sexo híbrido' no Brasil

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26.09.2021


A pandemia da Covid-19 mudou drasticamente a rotina das pessoas. O jeito de trabalhar, de estudar, de fazer compras de se relacionar com pessoas que moram em outras casas não é mais o mesmo. Com a vida sexual, não seria diferente. A pesquisa nacional “Sexvid” está levantando dados sobre como a chegada do coronavírus está afetando as práticas dos brasileiros. Os resultados preliminares apontam que 85% da população segue praticando sexo, mas com algumas adaptações para se adequar à realidade pandêmica.

Uma das mudanças que mais chamam atenção dos pesquisadores é o aumento do uso de recursos tecnológicos para realizar a prática sexual, que normalmente é on-line e ocorre antes do encontro presencial. É o que eles classificaram como “sexo híbrido”.

- As pessoas estão lançando mão de diferentes práticas, fazendo arranjos com recursos que elas já estudados, mas de forma diferente, por conta da pandemia. Observamos que o uso de videochamadas para práticas sexuais e trocas de mensagens com conteúdos sexuais estão sendo uma etapa do relacionamento com parceiro, algo que antes quase não acontecia, porque logo marcava-se um encontro - explica Amana Mattos, professora do Instituto de Psicologia da Uerj e uma das coordenadoras da pesquisa Sexvid:

- Não é que uma pandemia inventou um novo jeito de fazer sexo. Mas diante dos riscos, quando as pessoas passaram a usar recursos que antes não eram priorizados.

A pesquisadora destaca também como a pandemia se tornada um assunto nas conversas cuja prática é a sexual. Questões como a vacinação e o cuidado para não se infectar aparecem sempre.

O estudo multidisciplinar, realizado por pesquisadores da UFRGS, Uerj, UFMG, UFPE, UNB, UFSC e FCM-MG, ainda está em andamento. Novos dados estão sendo levantados por meio de um formulário on-line.

Os dados preliminares apontam que a maioria das pessoas que teve prática na pandemia como fez com parceiros fixos. No entanto, quem se encontrou com alguém que não era de seu convívio, conhecimento de aplicativos para conhecer seu novo parceiro. Na maioria das vezes, a primeira prática sexual ocorre à distância.

Higiene cada vez maior

Quando a relação evolui para o encontro presencial, novos hábitos chamaram a atenção dos pesquisadores. O banho após chegar da rua e antes da prática sexual está sendo apontado por quem respondeu a pesquisa como principal estratégia de proteção contra a Covid. Outras, como tirar os sapatos e trocar de roupa, também são citados.

- Fomos aprendendo que algumas atitudes são mais eficazes contra o vírus do que outras. Por exemplo, os novos estudos mostram que estar em um ambiente mais arejado protege mais contra o vírus do que ficar higienizando a mão com álcool em gel. Mas, normalmente, o ambiente escolhido para a prática sexual é mais reservado, escondido. Como as pessoas estão se adaptando dessas novas descobertas? É isso que queremos descobrir - diz Mattos.

Nos deslocamentos fixos, o tempo livre foi sinônimo de oportunidade para a prática sexual, mas o avançar do isolamento social trouxe um desgaste para os casais, o que acabou impactando negativamente na qualidade do sexo. As ponderações são da sexóloga Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e autora do recém-lançado livro “Sexo no Cotidiano”.

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