Avanço do mar: 'Tem que mudar a forma de utilizar o planeta como se os recursos dele fossem inesgotáveis', diz pesquisador

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15.10.2021


"A população tem que mudar a forma de utilizar o planeta, que não pode mais ser da mesma maneira, como se os recursos dele fossem inesgotáveis, mas não são". A declaração é do professor e pesquisador Roberto Montezuma, do departamento de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em entrevista, nesta sexta (15), à TV Globo (veja vídeo acima).

Ele coordena o Fórum Internacional Recife Exchange Netherlands (RXN), que ocorre até esta sexta-feira (15), com o tema "Aguas como patrimônio: visões e estratégias sobre o aumento do nível do mar no Recife e Países Baixos", para discutir as mudanças climáticas e suas consequências.

A cidade é a capital brasileira mais ameaçada pelo aumento do nível do mar. Segundo Montezuma, a principal causa da subida do nível do mar é o aumento da temperatura do planeta em decorrência do aquecimento global.

O relatório mais recente do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU), apontou que há estimativa de que ações humanas tenham sido responsáveis pelo acréscimo de 1,07°C na temperatura do planeta.

O relatório também apontou que o Recife está na na 16ª posição entre as cidades do planeta que correm mais risco (veja no vídeo acima). "As calotas polares estão degelando e isso vai aumentar o nível do mar, explicando de uma forma simplificada. O mar está querendo ocupar um espaço e, em tese, é o espaço dele", afirmou Montezuma.

Em relação às proposições sobre os efeitos das mudanças climáticas, o pesquisador afirmou que o olhar para as estratégias de urbanismo dentro das cidades deve ser amplo e levar em consideração diversos fatores, para além das contenções e medidas de afastamento físico.

"A gente está dentro de uma cidade que já tem construção, já tem um corpo social que está aí. A gente tem que combinar e adaptar essa proteção com maneiras da água ser permitida, porque, quando se faz isso [afastamento], acaba-se com todo o organismo vivo que está aí", declarou.

Entre as possibilidades tradicionais de manejo do avanço do mar, estão a instalação de contenções com pedras ou criação de bancos de areias.

"É um caminho a ser pensado, mas tudo temos que ver as alternativas, custo-benefício e sempre pensando conceito de proteger junto de se adaptar. Como é que eu me adapto à convivência com a água?", disse o pesquisador.

Por fim, o pesquisador ressaltou a importância de entender o caso de cada praia, de cada local, e adaptar a solução à realidade daquele espaço.

"Temos a água como paisagem e como patrimônio, mas não como inimiga, porque a água é vida. Temos que pensar como juntar a vida do planeta com a vida dos homens. [...] Existe já uma coleção de soluções, a gente precisa não simplesmente importar, mas avaliar, pensar, refletir e encontrar o caminho mais adequado para cada situação", declarou.

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