Um frevo da vida e à vera: cantora resgata canções de Asas de América em show

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16/02/23

Um frevo brasileiro, da vida, à vera. É a premissa de Frevo de Vera, novo projeto da cantora Lucinha Guerra, em alusão ao seu nome de batismo Vera Lúcia e à proposta de celebrar a vida no ritmo frenético e moderno do gênero pernambucano. Também é um ode ao cantor e compositor Carlos Fernando, considerado um divisor de águas do frevo. Em 2023 seria o aniversário de 85 anos do caruaruense caso estivesse vivo, além de completar dez anos da sua morte. Lucinha estreia Frevo de Vera neste domingo de carnaval (19), às 18h, no Armazém do Campo. A entrada é gratuita.

A homenagem é baseada em Asas de América (1980), um disco idealizado por Carlos Fernando inteiramente dedicado ao frevo - algo inédito para um ritmo que andava esquecido até mesmo na terra natal. A façanha se tornou maior no momento que ele reuniu um elenco estrelado da MPB: Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Jackson do Pandeiro, mais os músicos alternativos pernambucanos Marco Polo, Flaviola e o coro feminino As Sereias.

Pouco mais de 40 anos depois, Lucinha Guerra aceitou o convite da produtora Tactiana Braga para emprestar sua voz ao frevo de Carlos Fernando. No início, porém, o escopo da pesquisa era amplo e tinha direcionamento indefinido. À princípio, se tratava de uma homenagem aos 115 anos do primeiro registro de um frevo. Muitas músicas antigas foram descartadas pelo caráter preconceituoso e machista das letras, o que inviabilizou o primeiro esboço do projeto. A partir disso, surgiu a ideia de resgatar Asas de América na voz de uma mulher.

“Vamos trazer um frevo diferente, com baixo, metais e uma mistura com música pop. Um frevo para as pessoas cantarem junto, participarem e sentirmos o que é viver após tudo o que passamos. Frevo de Vera é uma comemoração à vida”, explicou Lucinha ao Viver. Chuva, Sol e Cervejas, de Caetano Veloso, e Não Existe Pecado ao Sul do Equador, de Chico Buarque, são algumas das cinco faixas que vão receber a efervescência pernambucana sob a interpretação da cantora.
Formada em Canto na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Lucinha também acumula experiências culturais como atriz. Foi diretora-assistente na Trupe Romançal de Teatro, criada por Ariano Suassuna e Romério de Andrade Lima. Em torno de 1997, seguiu carreira solo. Ela atuou nos filmes Epiderme, de Cláudio Assis, e Retratos Falados, de Castro Alves, além de outros espetáculos, como Romeu e Julieta, de Ariano. A trajetória na música veio depois, com a atual banda. “Começamos com uma mistura de samba e coco, samba e baião, um samba pernambucano. A gente deu uma parada durante a pandemia, até na gravação do CD, mas quando apareceu o convite de Tactiana para cantar frevo, falei ‘eu sou do samba’”, afirmou. Mais tarde, a paixão pela música falou mais alto.

Influenciada pela família, Lucinha começou a escutar Clara Nunes, apontada como umas das maiores intérpretes brasileiras e sua referência até hoje no samba de raiz. O primeiro disco da artista pernambucana, Mariazinha, é de samba - assim como o próximo lançamento, Sambas de Canção, atualmente em pré-produção. “Por ter uma formação erudita, tento trazer o ‘canto’ em tudo o que faço na música, apesar de ser uma pessoa popular. Não digo que as outras pessoas não cantam, mas tem muitas propostas musicais e a minha é fazer excelência em tudo”, destacou.

Nos palcos da folia recifense há 24 anos, Lucinha não encara o frevo como um ritmo inusitado. Pelo contrário, faz parte do seu repertório musical. Ela refuta a tese de ser uma ‘sambista’. “Eu não diria que sou uma sambista, nem gosto desse título. Tenho show de música francesa, toco Jackson do Pandeiro, canto frevo e outras coisas. Não sou criada na roda de samba do morro, mas tenho o samba de raíz dentro de mim por opção e de família. Quando falam que sou sambista também estão me limitando. Samba é o que há mais forte em mim, sim, mas eu quero estar sempre com a possibilidade aberta para novos horizontes”, afirmou.

“Novidade é cantar frevo com uma formação de banda de frevo. A gente tem baixo, bateria, guitarra, naipe de metais - é outro timing. Eu entendi o que significa a palavra frevo: fervo, é uma coisa que ferve, não dá tempo para você respirar e perder uma entrada. É meio tenso, inclusive”. Paulo Nascimento (saxofone, direção musical e arranjos);Rafael Gonçalves (guitarra); Ismael Silva (baixo); Bira da Batera (bateria); Daniel Alves (trompete); e Karine Alves (trombone) acompanham a artista nos ensaios desde dezembro e vão animar o público neste domingo.

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