Morre aos 92 anos Leda Alves, atriz e ex-secretária de Cultura do Recife

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04/11/2023

Morreu, aos 92 anos, a atriz e escritora Leda Alves, que foi secretária de Cultura do Recife entre os anos de 2013 e 2020. Formada em Arte Dramática pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), fundou, junto com o marido, o teatrólogo Hermilo Borba Filho, o movimento Teatro Popular do Nordeste (TPN). Também foi diretora do Teatro Santa Isabel e presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).

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Em entrevista ao g1, Graça Nicoloff, sobrinha de Leda Alves, contou que ela morreu no fim da manhã deste sábado (4), de causas naturais, no apartamento onde morava, no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul da cidade.

"Ela sempre esteve muito próxima dos sobrinhos. Colocou a gente, desde muito cedo, em contato com a cultura popular. Nos ensinou tudo que ela tinha a nos ensinar sobre arte e política", disse Graça.
O velório acontece na tarde deste sábado, na capela central do Cemitério de Santo Amaro, no Centro do Recife. O corpo deve ser cremado no cemitério Morada da Paz, no município de Paulista, no Grande Recife, no domingo (5) à tarde - onde haverá uma homenagem de maracatus à atriz e gestora cultural.

Vida dedicada à arte e à cultura
Casada com o teatrólogo pernambucano Hermilo Borba Filho, Leda Alves fundou, junto do marido, nos anos 1960, o Teatro Popular do Nordeste (TPN). Nessa época, o grupo encenava montagens de textos com teor político e de resistência à ditadura militar.

Nas décadas seguintes, a artista se destacou como gestora cultural. Foi diretora do Teatro Santa Isabel e presidente da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).

Em 2013, foi nomeada secretária da Cultura do Recife, onde permaneceu por oito anos, até o fim da gestão do ex-prefeito Geraldo Julio (PSB), em 2020.

O professor da UFPE e estudioso das artes cênicas Luís Augusto Reis, filho do diretor teatral Carlos Reis, já falecido, conviveu com Leda e Hermilo desde a infância e falou um pouco sobre a atriz e gestora cultural.

“Leda foi uma presença muito forte da na minha vida. Papai dizia que Hermilo e Leda foram as primeiras pessoas a ir à maternidade me visitar quando eu nasci. Leda deixa uma história muito bonita, enfrentou muita dificuldade e adversidade, e deixa uma história de luta pela arte, pelo reconhecimento da cultura popular, um posicionamento político", afirmou o pesquisador.

Segundo Luís Augusto Reis, Leda era uma pessoa "muito braba e, ao mesmo tempo, muito generosa, que viveu intensamente".

"Ela nunca se ‘economizou’. Enfrentou a ditadura, enfrentou torturador, era uma mulher impressionante. E, como dizia Hermilo, tenho certeza que Leda partiu conciliada com a vida. A gente tem que festejar ter convivido com ela. Com certeza ela vai encontrar Hermilo e vai ser uma festa. [a relação deles] Foi uma linda história de amor e companheirismo”, disse Luís Augusto Reis.
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A jornalista e crítica teatral Ivana Moura lembrou a força de Leda Alves no campo da cultura e de como ela foi pioneira nos cargos de poder que assumiu durante a vida - o que também a colocou como uma figura controversa quando se fala de políticas culturais.

"Na hora que soube, tive uma crise de choro. Leda é uma figura com uma importância inegável, principalmente na questão da cultura popular, que era sua bandeira e onde fez grandes avanços. Ao mesmo tempo em que ela foi muito vanguarda, noutros momentos atuou também de forma conservadora e isso gerou algumas críticas do meio artístico. Ela sempre foi uma mulher de atitude", falou Ivana Moura.

Ivana também mencionou o legado deixado por Leda Alves. "O que fica na memória é o riso contagiante, a generosidade, a força de uma mulher que ocupou uma posição de poder numa época em que não era tão comum e uma coisa que sempre me impressionou foi a fé, algo incrível; e talvez por isso ela acreditava tanto no perdão. Leda é um patrimônio, uma memória que se vai. Aos 92 anos, sua atuação abrange várias épocas do país, é algo que não tem como mensurar", finalizou.


A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), lamentou, por meio de nota oficial, a morte da gestora cultural.

"Pernambuco perdeu hoje Leda Alves que faleceu, no Recife, deixando um importante legado em defesa da nossa cultura, como atriz e gestora pública. Em meu nome e do povo de Pernambuco expresso profunda solidariedade à família e inúmeros amigos neste momento de despedida", afirmou.

O presidente da Cepe, João Baltar Freire, também se manifestou, ressaltando que "Leda Alves dedicou sua vida às artes e a Pernambuco".

"Atriz, militante da cultura popular e gestora pública dedicada, deixou grandes contribuições por onde passou e na Cepe não foi diferente. Esteve à frente da empresa de 2008 a 2012 e, neste período, foi responsável por uma série de iniciativas modernizantes. Criou a editora e o Conselho Editorial, assegurando um padrão de qualidade até hoje refletido em nosso catálogo. Sua partida é uma grande perda para todos nós”, declarou Freire.

Recife anuncia prêmio em homenagem a Leda
Leda Alves no palco do Teatro Santa Isabel (imagem de arquivo, 2016) — Foto: Acervo/TV Globo
Leda Alves no palco do Teatro Santa Isabel (imagem de arquivo, 2016) — Foto: Acervo/TV Globo


A Prefeitura do Recife divulgou nota oficial lamentando a morte de Leda Alves e destacando sua história em defesa da cultura popular nordestina e como "sinônimo do teatro pernambucano, da cultura e do Recife".

O prefeito do Recife, João Campos (PSB), disse que Leda deixa "um sentimento de saudade" em todos que valorizam e amam a cultura e anunciou a criação do Prêmio Leda Alves de Cultura Popular.

"Ela, que era uma verdadeira referência como atriz e ativista cultural, tinha o respeito, o apreço e o carinho do meio artístico. Também foi uma mulher de fibra, que lutou pela democracia, que sempre nos inspirou. (...). Com muito orgulho e gratidão por tudo o que fez, vamos criar o Prêmio Leda Alves de Cultura Popular. Anualmente homenagearemos aqueles que engrandecem este segmento em nossa capital", disse o prefeito.

O secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello, que sucedeu a gestão de Leda Alves na prefeitura do Recife, lembrou a paixão de Leda pelas artes. "Não existe luta pela cultura sem paixão, coragem e resistência. Leda Alves, ou Dona Leda, como vale na referência a mestras, trouxe tudo isso ao longo da vida. (...) O Recife agradece, por tanto, e segue comprometido com a causa que fez de Leda Alves uma referência, com brilho que ajuda a enxergar valores e caminhos”, afirmou o secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello.


O presidente da Fundação de Cultura do Recife, Marcelo Canuto, também homenageou a atriz e gestora cultural. “Delicada e de extrema sensibilidade, era também uma mulher muito firme, indobrável na defesa de seus ideais, sempre comprometida com a cultura popular e secular nordestina. Leda viveu muitas vidas, todas elas dedicadas à cultura”, afirmou.

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