A popularidade do governo Lula crescerá?

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09/12/2023

O governo Lula finda o ano de 2023 com avaliação positiva de 38% (Ótimo/bom) e avaliação negativa de 30% (Ruim/péssimo) – Pesquisa Datafolha, 05/12/2023. Na primeira era Lula, em 15/12/2003, a avaliação positiva foi de 42% e a negativa de 15%. O que chama a atenção é que a avaliação negativa do governo Lula em 2023 é expressiva, quando comparado com a avaliação de 2003. Por que a avaliação negativa do governo Lula cresceu?

Em novembro de 2007, segundo governo Lula, a avaliação positiva de Lula foi de 50% e a negativa, 14% - Instituto Datafolha. Portanto, o bolsonarismo pode explicar o aumento da avaliação negativa do governo Lula em 2023. O IPEC revela que entre os eleitores de Jair Bolsonaro em 2022, 9% avaliam positivamente o governo Lula e 61%, negativamente. No universo do lulismo, 69% avaliam positivamente o governo Lula, e 3% negativamente – Pesquisa IPEC, dezembro/2023.

Se o bolsonarismo não declinar, o governo Lula seguirá tendo avaliação negativa de razoável para alta, independente do crescimento econômico que o Brasil venha a ter. Uma outra hipótese: o crescimento econômico enfraquecerá o bolsonarismo e a avaliação negativa do governo Lula declinará. A validade das hipóteses será verificada com o tempo.

O bolsonarismo pode ser tão forte no ambiente social, que mesmo com o crescimento econômico, ele não declinará. Deste modo, o bolsonarismo é variável constante que não declina, é imune às causas, especificamente, o crescimento econômico. Não custa lembrar: o bolsonarismo é manifestação ideológica e moral. O lulismo é manifestação econômica. Assim sendo, o crescimento econômico não interfere na força do bolsonarismo. Se esta assertiva for verdadeira, concluo que o governo Lula não conseguirá diminuir a sua avaliação negativa para 15%, a qual foi observada em dezembro de 2003.

Os evangélicos são sustentáculos do bolsonarismo. A última pesquisa Datafolha revela que 38% deles avaliam negativamente o governo Lula. Entre os católicos, a avaliação negativa é de 28%. Desde a eleição de 2018, observo que as agendas moral e ideológica bolsonarista atraem os evangélicos. Segundo a Folha de São Paulo (08/12/2023), o crescimento dos templos evangélicos no Brasil foi de 228% em duas décadas. Lembro que a tendência é que os evangélicos venham a ser maioria no Brasil.

Considere as variáveis: Variável 1 – Bolsonarismo é manifestação ideológica e moral; Variável 2 – Os evangélicos são sustentáculos do bolsonarismo; Variável 3 – A tendencia é que os evangélicos sejam maioria no Brasil. Portanto, a conclusão é simples: a avaliação negativa do governo Lula tende a permanecer estável ou aumentar, caso o desempenho de razoável para bom da economia não interfira na opinião do eleitor bolsonarista, em especial, nos evangélicos.

Se a hipótese acima vier a ser verdadeira, o governo Lula está condenado a ter avaliações negativas crescentes ou estáveis, e as avaliações negativas diminutas observadas nos anos de 2003 e 2007, 15% e 14%, respectivamente, não voltarão em razão do bolsonarismo que torna a avaliação negativa uma variável constante ou com variação positiva. Neste caso, ela não declina.

A popularidade do governo Lula está numa encruzilhada? Como bem afirmei em meu último livro – Do bolsonarismo ao retorno do lulismo: Bolsonaro voltará ao poder? Editora: CRV, 2023 – será o crescimento econômico de razoável para bom que possibilitará o enfraquecimento do bolsonarismo. Caso não ocorra, o bolsonarismo chegará com chances eleitorais em 2026.

Após 7 anos e 11 meses de governo, eram 83% dos brasileiros que avaliavam positivamente o governo Lula – Pesquisa Datafolha, 20/12/2010. Será possível que esta conjuntura observada em 2010 poderá ser encontrada em dezembro de 2026? Aparentemente não, em razão do bolsonarismo.

Adriano Oliveira, doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa e Estratégias

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