Cooperativa de Barreiros aposta, com marca própria, no promissor mercado de biocosméticos

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18/12/2023


Uma nova atividade na área de economia sustentável, que obedece ao uso responsável de recursos, levando em consideração não apenas o lucro, mas os danos ao meio ambiente, deve impulsionar a geração de emprego e renda no município de Barreiros, na microrregião da Mata Sul pernambucana, a partir de setembro de 2024. Trata-se da extração de óleos essenciais para fabricação de biocosméticos – perfumes, cremes, maquiagens etc. formulados sem substâncias químicas agressivas, sem estabilizadores artificiais e que contam com critérios rigorosos de produção, obedecendo aos princípios de respeito ao meio ambiente, da seleção da matéria-prima à chegada ao consumidor final. A iniciativa é da Cooperativa Agrícola de Assistência Técnica e Serviços (Cooates).

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Com 24 anos de atividades, a cooperativa trabalha com extensão rural, assistência técnica, elaboração de projetos e consultoria a agricultores familiares, mas resolveu diversificar os negócios no ano passado ao entrar para o mercado de apicultura, com uma marca própria de mel e própolis vermelho. Agora, ousa de novo, partindo para o mercado de biocosméticos, tipo de produtos que surgiram há alguns anos como um alento para quem quer cuidar de si e do planeta ao mesmo tempo, a partir da crescente preocupação com as mudanças climáticas, com o desmatamento florestal e com a perda de biodiversidade, entre outros efeitos nocivos da ação humana sobre a natureza. Não causam, portanto, danos à pele ou aos cabelos dos usuários, aos animais ou à natureza.

A cooperativa conta com um viveiro florestal – área destinada à produção de mudas, permanecendo até o momento definitivo de ida ao campo – composto por 15 espécies de plantas mapeadas de Mata Atlântica e do ecossistema de manguezal – que inclui ilhas, ilhotas, estuários e restinga – para a extração dos óleos que vão servir como matéria-prima para a fabricação dos produtos. Dentre as espécies cultivadas estão aroeira pimenteira, junco, copaíba, mutamba, jatobá, além de outras com propriedades medicinais.

"A gente vai explorar a bioeconomia local por meio dos bioinsumos, que são insumos gerados pela natureza. Além de explorar o que a gente tem nos nossos biomas, também vamos explorar e plantar o que podemos extrair, as substâncias para a produção dos produtos com essências da própria natureza", detalha o presidente da Cooates, José Cláudio da Silva. Os óleos extraídos terão como destino a fabricação de produtos de marca própria, que será batizada de Biocosméticos Vale do Una – em homenagem ao Rio Una, um dos principais de Pernambuco e que corta a cidade de Barreiros.

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Os óleos também vão ser comercializadas para grandes indústrias nacionais de cosméticos, se houver demanda. “A gente vai poder usar essas essências tanto na transformação para produtos cosméticos, como para as indústrias, que podem usá-las para produção de perfumes, hidratantes, cremes faciais, xampus e condicionadores com eles”, diz Silva.

Financiamento da Adepe
O projeto conta com um financiamento de R$ 450 mil, concedido pela Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe), um investimento de R$ 850 mil da Cooates e deve gerar, na primeira fase, 15 novos empregos diretos na extração e manipulação. “A gente tem espécies aqui no estuário que possuem grandes potenciais ainda não explorados. Então, a ideia é também patentear produtos novos com matérias-primas da nossa biodiversidade, que é muito rica”, acrescenta.

O treinamento de mão de obra está sendo realizado graças a uma parceria da Cooates com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “A gente tem essa ação muito próxima da UFPE e do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), com o qual estamos também discutindo com a diretoria a formação de mão de obra para atender essa necessidade”, destaca o presidente da cooperativa.

Além das plantas, a Cooates vai processar produtos originários da abelha, como mel e própolis, na fabricação dos biocosméticos. “Nosso trabalho aqui tem uma relação direta com a sociedade, com o meio ambiente, com o Una, que é um dos grandes rios aqui da Mata Sul e tem um estuário bonito, onde a gente realiza ações de pesquisa, inovação e tecnologia”, esclarece ele.

Casarão como sede
A fábrica, que está com aproximadamente 70% das obras concluídas, vai funcionar em um prédio histórico: o casarão da Usina Central Barreiros (desativada em 1996), arrematada em leilão pela cooperativa. Nos áureos tempos da usina, o casarão hospedou figuras importantes que a visitaram.

Conta-se que o advogado e político Estácio Coimbra (1872-1937) – que implantou a usina em 1928 em sociedade com Alfredo Osório –, nutria um afeto especial pelo prédio. Político hábil, de grande prestígio e usineiro de preocupações modernizadoras, Coimbra também foi o 10º vice-presidente da República, na década de 1920, e o 16º e o 26º governador de Pernambuco.

“O cajueiro, onde Estácio Coimbra costumava ficar à sombra lendo, ainda está aqui, de pé. O casarão tem toda uma relação direta com a cidade, relação de história, de arquitetura. Tudo isso está registrado em reportagens da época. As grandes festas da usina eram realizadas também aqui, inclusive para celebrar as grandes safras. Quando ela se tornou a maior usina de açúcar, entrando para o Guiness Book, a solenidade de comemoração foi nesse espaço”, relembra Cláudio.

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Uma parte da reforma do casarão foi toda concebida em steel frame, sistema construtivo que utiliza estruturas de perfis de aço galvanizado em vez de cimento e tijolo. Na prática, isso torna a construção mais rápida, organizada e racionalizada. Além disso, dispensa a necessidade de água, o que proporciona uma construção seca, nome pelo qual o sistema também é conhecido. Segundo José Cláudio, o investimento nesse tipo de construção tem como objetivo obedecer aos princípios do ESG, sigla que une as políticas de meio-ambiente, responsabilidade social e governança em um conjunto de práticas criadas com a finalidade de orientar as empresas para ações mais sustentáveis.

Ainda de acordo com o presidente da Cooates, dentre as mais de 3 mil famílias da região, muitas são compostas de povos tradicionais, como quilombolas e ribeirinhos, que precisam ser incluídos em novos processos de expansão de geração de emprego e renda. “Essa ideia surgiu de uma grande dificuldade dos produtores e da gente, filhos de agricultores, de gerar oportunidades na Mata Sul, que, como outros municípios, sofre um apagão de oportunidades, principalmente em inovação e tecnologia”, justifica.

José Cláudio também diz que há dificuldades de fazer com que os munícipes que terminam os estudos fiquem na cidade. A maioria, ainda de acordo com ele, sai em busca de oportunidades em outros lugares. “As melhores mentes nossas têm ido embora. Apostamos em políticas de desenvolvimento sustentável para que as pessoas possam produzir, ter renda e continuar aqui ”, afirma.

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