Coração de Estudante e a democracia

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08/01/23

 

Coração de Estudante e a democracia

FRANCISCO DACAL

Sobre a crônica anterior, Caminhemos, com otimismo. Feliz 2024 (Folha de Pernambuco, 27/12/2023), alguns leitores fizeram comentários de diversas matizes. Os mais interessantes foram sobre a frase “bravo coração de estudante”, em referência ao artista Milton Nascimento (ganhador de cinco Grammy Awards), de onde vieram sentimentos de lembrança, de beleza da arte, de saudades, de lutas, de resignação e de visão para um futuro melhor.

A belíssima música (melodia e letra) Coração de Estudante (1983), de Wagner Tiso e Milton Nascimento, oriundos do grupo de jovens talentosos do fecundo e célebre Clube da Esquina, que emergiu em meados dos anos de 1960, na cidade de Belo Horizonte, ficou marcada como o hino do movimento das Diretas Já e da Redemocratização do Brasil, ocorrido entre 1983-1985, que mobilizou, praticamente, todos os segmentos da sociedade.

O contexto político da época, de retrocessos autoritários e muito atraso, foi a própria razão para que a música Coração de Estudante, que era um sucesso corrente, fosse adotada para animar os anseios dos brasileiros por mudanças, pois transmitia uma mensagem onde a juventude e a esperança têm um papel fundamental nos destinos da Nação, sem serem reprimidas. Combinado a isso, o experiente e qualificado senador Tancredo Neves, que era um dos principais líderes políticos de oposição à Ditadura Militar e das ações para a volta da democracia, tinha declarado, como um bom mineiro, que Coração de Estudante era sua música preferida.

Relembremos Coração de Estudante, suas estrofes estão permanentemente em dia: (1) Quero falar de uma coisa / Adivinha onde ela anda? / Deve estar dentro do peito / Ou caminha pelo ar - (2) Pode estar aqui do lado / Bem mais perto que pensamos / A folha da juventude / É o nome certo desse amor - (3) Já podaram seus momentos / Desviaram seu destino / Seu sorriso de menino / Quantas vezes se escondeu - (4) Mas renova-se a esperança / Nova aurora a cada dia / E há que se cuidar do broto / Pra que a vida nos dê flor-or e fruto - (5) Coração de estudante / Há que se cuidar da vida / Há que se cuidar do mundo / Tomar conta da amizade - (6) Alegria e muito sonho / Espalhados no caminho / Verdes planta e sentimento / Folhas, coração, juventude e fé.

E a democracia voltou. Tudo o que aconteceu, até o dia da promulgação da nova Constituição, em 1988, ficaram registradas nas páginas mais sagradas da história da nossa República. Nunca mais serão apagadas. E a juventude brasileira foi deveras importante nessa conquista. Aqueles que assistiram e participaram, em todos os níveis, devem sentir um orgulho no seu íntimo, pela contribuição dada. A voz do povo prevaleceu. Temos sempre que guardar isso, “dentro do peito”. O fato é que hoje vivenciamos o mais longo período de democracia no Brasil, e assim devemos caminhar - perdê-la, jamais.

Feliz é a geração que luta pelo seu País, por uma boa causa, do “lado certo” da História (...”mãe da verdade”, ...“exemplo e aviso do presente” - escreveu Cervantes), dentro das conformidades, para avanços humanitários e civilizatórios. Como disse o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Ayres Britto, um baluarte da Justiça brasileira, em entrevista ao Correio Brasiliense (31/12/2023), sobre o “infame 8 de janeiro” (2023), ...”A democracia veio para ficar. É ela que nos torna substantivamente um país primeiro-mundista; juridicamente primeiro-mundista; politicamente primeiro-mundista”. ...”A democracia não vence por nocaute. Vence por acúmulo de pontos ao longo de um processo que é espacial e temporal. Quem vence por nocaute é ditadura. Democracia, volto a dizer, é o regime que insuperavelmente estrutura, organiza o consenso da população e civiliza o dissenso. Fora da democracia só existe uma coisa: barbárie”.

Paz e Viva à Democracia!

*Administrador de empresas (UFPE) e membro da Asociación de Cerventistas

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