"Você gosta dessa música?"

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12/02/2024

O filósofo alemão, membro proeminente da chamada Escola de Frankfurt, Theodor Adorno (1903-1969) havia completamente desacreditado que a cultura elaborada ainda pudesse se contrapor a Zivilisation (o mundo das mercadorias e da reprodução): a chamada “cultura de massas” – domínio do “entretenimento”- absorvera a Kultur (a vida espiritual) no mercado, bloqueando nossa possibilidade de distanciamento crítico, e esta ausência de pensamento abria as portas para os regimes fascistas. Em seu pessimismo cultural, Adorno achava que a música dodecafônica (a escola vienense de Berg e Schöenberg) era, talvez, a reserva estética que nos restava capaz de manter a distância requerida entre entretenimento, alienação e possibilidade de existência da crítica à chamada “indústria cultural”.

Os professores Antonio Nigro e Flávio Medeiros, do Departamento de Música da UFPE, são os responsáveis pelo projeto de extensão ”MÚSICA NO MEMORIAL”, que entra em sua terceira temporada (Abril) com uma novidade, em que os recitalistas convidados se apresentam aos domingos às 11:00 horas da manhã, naquele Memorial de Medicina (Praça do Derby) e, antes de seus recitais, jovens alunos do Curso de Música (nas suas variadas especialidades) executam peças durante 15 minutos, sob a orientação daqueles dois professores: o objetivo do projeto é abrir espaço para que TALENTOS EMERGENTES ganhem visibilidade e, sobretudo, audibilidade! Qual a importância de uma tal iniciativa?


Voltemos a Theodor Adorno. Em uma passagem de sua “Estética” ele afirma que a pergunta – “Você gosta dessa música?” não tinha mais sentido, e isso não tinha nada a ver com a ideia de que “gosto não se discute”. Dizia respeito ao fato de que não temos mais o “ofício do gosto”, os critérios estéticos capazes de nos orientar no julgamento do gosto (Kant): a chamada Cultura de Massas havia pasteurizado, uniformizado a sensibilidade musical, introduzindo a efemeridade das produções e as “músicas de sucesso”. A chamada “Indústria Cultural” era não apenas responsável pela reprodução técnica ad infinitum da obra musical, que perdia assim a sua “aura” (W. Benjamin), seu caráter único e original, mas também por criar o que ele chamou de “semi-cultura”: aquilo que nos impede de pensar e que facilita a manipulação fascista.

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