Calendário sobrecarregado de shows em Pernambuco gera alerta

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17/06/24

Após as restrições da pandemia da Covid-19, o mercado de shows no Brasil enfrenta uma nova instabilidade. O cancelamento das turnês nacionais de Ludmilla e Ivete Sangalo mostra um excesso de confiança das produtoras, aliado à baixa ocupação em grandes espaços e ao aumento dos preços dos ingressos, fatores que podem estar desanimando o público. Um dos estados mais tradicionais na cena musical, Pernambuco terá um calendário cultural sobrecarregado no segundo semestre, o que pode acarretar desafios em atender a essa demanda elevada.

De acordo com dados do projeto Mapa dos Festivais, dezoito festivais foram adiados ou cancelados no Brasil em 2024, enquanto nove eventos de destaque do ano anterior permanecem sem anúncio de retorno. Já o quadro de eventos em Pernambuco traz novas adições, como Festival Turá e Funk Rec Festival, somando-se às confirmações dos tradicionais Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), Samba Recife, Guaiamum Treloso Rural, No Ar Coquetel Molotov e, o mais recente, Festival Weehoo.


“Eu acho que não há demanda suficiente, não”, alerta Jeder Janotti, professor Departamento de comunicação da UFPE e especialista em cenas musicais. Atualmente, alguns artistas decidem circular suas turnês em festivais, ao invés de realizar shows independentes. Este foi o caso do rapper Djonga, que cancelou sua apresentação do show Inocente Demotape no Clube Português, em 23 de março, devido a problemas logísticos - entretanto, ele se apresentou no Recife Trap Festival no mês seguinte. “O mercado de circulação dessas turnês de médio e de pequeno porte mudou", completa Janotti.

O Rock in Rio anunciou que os ingressos para cinco dias do festival foram esgotados em pouco mais de 1h40min. A venda de ingressos teve início cinco meses antes do evento, o que ofereceu ao público a oportunidade de se programar para parcelar a compra e adquirir as passagens com antecedência. Janotti ressalta que são poucos os eventos relevantes o bastante para que o público faça reservas financeiras antes mesmo de conhecer a programação. “Os festivais hoje são marcas culturais. Muita gente compra sem saber, inclusive, quem é que vai vir tocar. A possibilidade de estar naquele evento, de participar de um acontecimento, antes de se dedicar a um ou outro daqueles personagens que compõem o line-up”.

De acordo com pesquisa da Serasa, 59% dos entrevistados buscam opções de parcelamento sem juros. Já 56% dos entrevistados realizam planejamento financeiro para conseguir curtir seus ídolos. “Estamos enfrentando uma saturação do mercado, algo que não se restringe ao Brasil, mas é um fenômeno global. O público, principalmente a classe trabalhadora, não tem condições financeiras para bancar tantos ingressos, o que se reflete nas vendas de todos os tipos de eventos. A necessidade de parcelar o valor dos ingressos em várias vezes é um indicativo dessa dificuldade”, afirma Ana Garcia, produtora e curadora do Festival No Ar Coquetel Molotov.


Os editais de fomento à cultura em Pernambuco aliviam as finanças congestionadas dos festivais devido aos altos custos dos cachês, o que também favorece os eventos consolidados a realizar investimentos maiores e prosperar. Ana Garcia não descarta a hipótese de uma reconfiguração no formato do Molotov para se adequar à nova maneira de consumir shows. “Vejo essa situação como uma oportunidade para criar experiências mais intimistas e significativas, adaptando-nos às novas realidades e expectativas do público”.

A Festa Cheia aproveita a expertise do Samba Recife em seus novos empreendimentos, como o Festival Turá Recife, desenvolvido em parceria com a T4F, que está marcado para os dias 24 e 25 de agosto. “A situação financeira é difícil para todos, por isso que priorizamos sempre manter um calendário bem definido e organizado. Em maio, também foi a primeira edição do Rock Rec Festival, que recebeu uma excelente resposta do público, apesar de suas particularidades.”Destaco o sucesso do evento devido à escassez desses artistas se apresentarem em Pernambuco, ao contrário de outros”, pontua Augusto Acioli, produtor da Festa Cheia.

 

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