Universidade Federal de Pernambuco - Agência de Notícias - Clipping
Mulheres relatam casos chocantes de assédio em ônibus do Grande Recife PDF Imprimir E-mail

09/05/2017

 

Naquele dia, a estudante de nutrição Maria Eduarda Galvão, de 20 anos, havia saído da casa do namorado mais cedo, por volta das 16h, porque ainda estava claro e, por isto, "era mais tranquilo voltar sozinha". Ele a deixou na parada e ela embarcou em um ônibus da linha 20 - Candeias/TI Tancredo Neves, onde se sentou ao lado de uma menina. Aos poucos, o coletivo foi ficando cheio, coisa comum para o horário, segundo Eduarda. Um homem ficou em pé na sua frente.

Quando o ônibus chegou em Piedade, em Jabotão dos Guararapes, a garota que estava ao lado pediu parada."Como estava muito apertado, tive que me levantar. O rapaz colocou o braço de um lado e do outro e eu senti que ele estava encostando demais em mim. Além do necessário. Respirando no meu ouvido e eu tentando sair, pedindo licença", relata a estudante. Depois de ignorar os pedidos, o rapaz foi chamadon atenção por um outro passageiro do coletivo, mas também não deu ouvidos. Eduarda deu uma cotovelada no homem que a encurralava.

"Não surtiu muito efeito, por causa do movimento do ônibus. Foi quando o outro passageiro, indignado, segurou ele e todos no ônibus começaram a gritar, dizendo que tinha um tarado. Ele ficava me xingando e me chamando de mentirosa", diz Eduarda. No momento, o motorista parou o coletivo e chamou uma viatura da polícia que passava pelo local. A estudante, então, fez a denúncia pelo telefone, com a ajuda do policial. "Chorei muito, principalmente quando ele começou a me xingar. Fiquei com medo de pegar o ônibus novamente com ele. É indignante. Eu já ia voltar pra casa mais cedo por causa disto. É bem indignante", acrescenta.

A então estudante Beatriz Morais*, de 22 anos, embarcou no coletivo da linha 60 - TI Tancredo Neves/TI Macaxeira, às 8h, em direção à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde estudava, em 2014. Horário de pico, empurra-empurra. De costas para o corredor, ela notou algo fora do comum quando um homem começou a olhar para ela fixamente, com o rosto abismado. "Foi quando senti um cara encostando em mim. Quando olhei, ele tinha tirado a roupa e estava de masturbando atrás de mim, encostado. Eu não tinha percebido porque o ônibus estava muito lotado, imaginei que fossem as pessoas passando, se mexendo", afirmou Beatriz.

O homem ainda a puxou pelo braço. "Eu não consegui fazer nada, nem gritar. Apenas chorar. E ninguém fez nada. Como alguém pediu parada, ele saiu correndo e desceu do ônibus". Consolada por outros passageiros, Beatriz foi à delegacia de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. "O delegado não se importou nada. Só fez o registro e disse que iria averiguar, mas que sem o número do veículo, seria difícil conseguir. Ele disse também que ia tentar ver as câmeras, mas que dependia da empresa liberar ou não", conta. Beatriz comenta que chegou a ver o homem outra vez no terminal. "Liguei para o meu pai e ele disse que tentou falar com a delegacia, mas não tinha ninguém".

*Nome fictício. A personagem preferiu preservar sua identidade

"Assédio incomoda, invade. É uma violência sim"

Para a militante feminista e especialista em gênero, desenvolvimento e políticas públicas, Paty Sampaio, na cultura patriarcal brasileira, os diversos tipos de violência contra mulheres são bastante naturalizados e, às vezes, nem elas percebem que estão sendo vítimas. Ela reforça que ainda existe despreparo para tratar do assunto no poder público, resultante da naturalização da violência de gênero. "É comum percebermos jargões que se popularizam como se fossem verdades, como o que diz 'as mulheres gostam'. Quando as ouvimos, percebemos que não é bem assim. Assédio incomoda, invade", comenta

Sobre a culpa que muitas mulheres vítimas enfrentam, mesmo não sendo culpadas de nada, Paty declara que faz parte da cultura do estupro. "Ao invés de ensinarem os meninos a não assediarem, as pessoas se preocupam muito mais em doutrinar as meninas a terem comportamentos e movimentação física bastante reprimidos. Daí, os meninos vão introjetando a ideia de que podem invadir o corpo das mulheres e elas de que, se alguma coisa falhou, foi porque ela 'não se comportou direito'". Paty defende que, para mudar esta realidade, é necessária uma educação doméstica igualitária, criando meninas e meninos da mesma forma, seja nas brincadeiras, nos brinquedos, como também na movimentação física, sem distinção de gênero.

Denuncie

Mulheres que sofrerem assédio em transporte público podem entrar em contato pelo telefone 0800.281.8187 com a Ouvidoria das Mulheres/Cidadã Pernambucana. A mulher deve informar as características físicas e vestimenta do agressor, linha e número de ordem do ônibus (numeração geralmente com três dígitos), data e horário em que ocorreu o fato e imediações em que o transporte passava no momento. Além disto, é importante que a pessoa vá à delegacia mais próxima (ou à Delegacia da Mulher) para fazer o Boletim de Ocorrência.

O Vagão Rosa do metrô do Recife

O Vagão Rosa entrou em funcionamento em janeiro deste ano no metrô do Recife. A medida foi realizada para que diminuísse o número de assédio contra mulheres que, segundo os últimos dados divulgados pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos do Recife (CBTU), do ano de 2007, corresponde a 56% dos usuários dos trens. Apesar do vagão funcionar nos horários de pico, da segunda-feira à sexta-feira, entre 6h e 8h30, pela manhã, e das 16h30 às 19h30, à noite, a medida tem sido criticada por falhas no sistema.

Segundo Paty Sampaio, a separação entre homens e mulheres não é a melhor solução para resolver o problema do assédio no transporte público. "O foco precisa ser o agressor, a certeza da punição, e, nas mulheres, o foco precisa ser o estímulo às denúncias, além de aumento na segurança dentro dos vagões. O assediador precisa entender que assédio sexual é violência e que ele, se cometer essa violência, será punido com o rigor da lei", relatou Sampaio.

Ela ainda argumenta que o foco do problema deve ser na raiz dele, o machismo institucionalizado. "Sem a associação com estas medidas educativas e punitivas, o vagão rosa não vai servir para nada, porque a mulher vai sair do metrô e vai continuar sendo assediada na rua ou dentro do ônibus", afirmou a especialista em gênero, desenvolvimento e políticas públicas.

Além dos problemas do vagão enquanto política pública, há muita reclamação quanto à fiscalização e efetivação da medida. De acordo com usuários do metrô, muitos homens acabam entrando no vagão que é destinado às mulheres nos horários de pico. Um desses flagrantes foi feito pelo usuário Cristiano César, enviado pelo Comuniq, que nos relatou que homens estavam entrando no vagão rosa às 6h, em um dos trens que seguiam para o itinerário Jaboatão, na Estação Joana Bezerra. Segundo ele, não havia segurança no local.

Confira a íntegra da nota da CBTU:

A CBTU Recife informa que o vagão rosa é exclusivo para mulheres de segunda à sexta e nos horários de pico, das 6h às 8h30 e das 16h30 às 19h30. Nos demais horários, é livre a entrada de passageiros do sexo masculino. Caso algum homem tente utilizar o vagão rosa no horário de pico, será convidado a se retirar pela segurança. As passageiras também podem ajudar a denunciar, ligando para a Ouvidoria (2102-8580).

 

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A nova geração conservadora PDF Imprimir E-mail

07/05/2017


"Criou-se a ideia de que educação é um direito de toda criança. Engano." Para defender o ponto de vista de que a educação universal era um pensamento absurdo, um aluno do professor de redação Alex Inácio escreveu este posicionamento em um de seus textos. A frase colocou o professor em um dos momentos mais desaadores da carreira. Com sete anos de sala de aula ensinando técnicas da escrita para mais de mil alunos em três municípios diferentes (Recife, Olinda e Caruaru), o educador foi frontalmente questionado pelo aluno, que duvidou da capacidade de correção e o acusou de ter tido uma posição ideológica.

O caso descrito não é isolado e tem acendido um sinal de alerta na rotina de professores que lidam com jovens do Ensino Médio. Na análise de quem precisa enfrentar a sala de aula e transmitir conteúdos mais atuais, principalmente ligados à política, direitos sociais e humanos, nota-se um misto de intolerância e extremismo quando a discussão é em torno de temas sociais, pela associação que alguns alunos fazem com as políticas de esquerda.

"Lembro que disse ao aluno que sua opinião era uma agressão aos Direitos Humanos, o que poderia levar à nota zero. Ele discordou alegando que era a posição dele, e que a ideia construída era de que a criança tem o dever de procurar se educar", contou Alex. O tema da redação era Educação no Brasil.

Para o professor de redação, o temor não é pela discordância, mas pelo radicalismo. "O Enem quer a reexão sobre novos conitos que vão surgindo, mas muitos se recusam a fazer por acharem que os temas são tendenciosos ou esquerdistas", explica.

A "BOLHA SOCIAL"

O professor de História Luiz Neto avalia que a "bolha" criada pelas redes sociais ajuda a estimular o extremo. Os alunos, segundo ele, consomem muitos dados, mas não há filtros ou tratamento nas informações, o que gera pontos de vista muitas vezes equivocados.

O jovem de 15 a 19 anos vive hoje a primeira frustração política da vida, frisa o educador para avaliar o radicalismo em certos temas. "A nossa história conservadora diz mais sobre a gente doque pensamos. Aquele menino de classe média hoje que é contra os direitos humanos e defende o fim do politicamente
correto, não viveu o regime da ditadura militar. Viveu um estado de constante liberdade", argumenta o professor de História, que leciona em escolas particulares e cursos de isolada no Recife.

Ano passado, lembra, houve um mal-estar na sala de aula porque durante uma aula de Redação e História ele sugeriu debater o tema "Novo conceito de família do século 21". Na argumentação, disse ele, coloquei que o conceito não é mais contratual e sim pela questão afetiva, o que cabe outros tipos de união. "Na hora, os alunos ligaram diretamente a ideia de que eu estava estimulando o casamento homoafetivo", conta.

A geração que cresceu na era das redes sociais também tem perdido a capacidade de se solidarizar com o meio social, avalia o professor de História Ivan Lima, que leciona na Escola do Recife. "Houve um processo de inclusão social rápido, mas que não foi forte. Então, incluiu mas não se preparou para receber a informação", analisa. Segundo Ivan, o fato de terem acesso fácil às redes ajuda no encontro das informações, mas falta a leitura de conjuntura, importante para entender os cenários.

Partindo de uma análise menos imediata e mais analítica, Luiz Neto avalia que o tensionamento faz parte do percurso da história. "Ela não é feita de consenso, mas de oposição, por isso é normal que existam as dualidades", afirma. "A onda de conservadorismo é processo histórico identificado no mundo, não é só um fenômeno brasileiro", observa.

NAS REDES E NAS RUAS

Num passado recente, se "declarar de direita" no Brasil era cercado de estigmas e de uma forte patrulha ideológica. Mas, após ter se apequenado durante os 13 anos dos governos mais à esquerda, o grupo político viu no tamanho das manifestações em favor do impeachment, no antipetismo, na indignação com os escândalos de corrupção a chance de se soerguer. Por isso, jovens que se identifcam com a direita mais conservadora e tradicionalista "saíram do armário" e têm travado batalhas nas ruas e nas redes sociais.

Dados da última pesquisa Datafolha apontam que a intenção de votos para nomes como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) alcança os 20% entre jovens de 16 a 24 anos. No Recife, de acordo com o Instituto de Pesquisa Uninassau, feito entre os dias 17 e 18 de abril, o deputado federal tem 6% das intenções entre eleitores da mesma idade, ficando atrás apenas do ex-presidente Lula (31%).

Estudante de Letras da UFPE, Raul Nascimento Holderf, 19 anos, se considera um jovem de direita e conservador. Evangélico, ele é ativo nas redes sociais e mantém dois perfis no Twitter, um para falar de política (@conexaopolitica) e outro com cunho mais evangelizador (@conexaocristao). "Quando acontece alguma votação, a mídia ou STF começam a cair em cima de Bolsonaro, a gente faz um tuitaço. Já conseguimos chegar às 23 hashtags mais comentadas do Brasil", explica.

Raul teve contato com as ideias do parlamentar em 2011, quando fez um trabalho para o colégio e precisava estudar políticos do Sudeste. Os discursos virulentos e, muitas vezes violentos do deputado federal especialmente no âmbito da segurança despertaram a curiosidade. Do ano passado para cá, a casa do universitário já foi assaltada cinco vezes, a última delas no dia 31 de dezembro, quando ele viu a irmã e o cunhado serem seguidos pelos assaltantes. "Ele é militar, conhece como funciona o sistema e a segurança tem sido o ponto principal dele nos discursos", diz. Bolsonaro defende pontos como castração química para estupradores e redução da maioridade penal.

Na capa do perfil no Twitter, Raul traz uma foto com a tríade - Bolsonaro, Trump e Marine Le Pen - e diz que sua ideologia política é de direita e conservadora. Mas, adverte, que, por ser cristão, evita entrar em brigas. "Sempre procuro respeitar todo mundo, evito levar o debate para o baixo nível" disse.

Questionado se acredita e defende os pontos da declaração universal dos Direitos Humanos, Raul afirma que o tema é "essencial" e emenda que "o questionamento que temos que fazer é: ?Direitos Humanos para quem? Não é ele (Bolsonaro) que está errado, é a forma que ele se expressa que dá a entender que está errado", argumenta o jovem. O caso entre Bolsonaro e a deputada federal Maria do Rosário é visto como "deturpação da mídia". Em 7 de março, o STF manteve a ação contra o parlamentar por incitação ao estupro ao ofender a deputada. A tag #BolsonaroReidoMundo circulou por três dias.

PESQUISA

Em abril, entre os dias 17 e 18, o Instituto Uninassau foi às ruas para ouvir recifenses sobre as posturas ideológicas e tendências eleitorais. Após entrevistar 623 pessoas, a partir dos 16 anos, as pessoas que se consideram sem ideologia política representam 55,5% dos ouvidos. O número cresce na faixa etária entre 16 e 24 anos (59,1%). Outros 14% se dizem alinhados à esquerda e 11,8% à direita.

Sobre as opções eleitorais, dois nomes aparecem: Lula e Bolsonaro. O ex-presidente lidera com 34% e o deputado federal vem na sequência com 7% das intenções. Entre os jovens, Lula ganharia com 31%, Bolsonaro tem 6% e fica na frente de Marina Silva (4%) e Geraldo Alckmin (2%).

Para o cientista político Adriano Oliveira, que coordenou o levantamento, Bolsonaro aparece em segundo, mesmo entre os jovens, não por um posicionamento extremista e sim pela negação à política. "Ele pensa: eu vou com Bolsonaro porque estou cheio do que está posto", avalia. No entanto, Adriano pontua que o "Bolsonarismo" só tem alguma chance de vingar, no caso de duas condições se combinarem: o enfraquecimento do Lulismo e a ausência do Dorismo ou de um candidato do PSDB na disputa presidencial.

 

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Abastecimento de água é normalizado em Penedo após infestação de vermes PDF Imprimir E-mail

07/05/2017

 

O abastecimento de água voltou ao normal no município de Penedo, interior de Alagoas, após a infestação de vermes nas águas do Rio São Francisco, o que levantou suspeitas da qualidade da água. Os animais reapareceram nas proximidades da Rocheira, local onde fica instalada a estação do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), que faz a captação do rio. Por duas vezes, o município ficou sem água nas torneiras.

Segundo informações do diretor do SAAE, Francisco Souza Guerra, análises de biólogos constataram que a água estava própria para o consumo. Ele tranquilizou a população, confirmando que 100% da cidade já se encontra abastecida.

Equipes do Instituto do Meio Ambiente (IMA), Vigilância Sanitária, Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) chegaram a ser deslocadas para analisar a situação.

COLETAS

Na sexta-feira (5), uma amostra de "minhocas d'água" foi estudada por uma equipe comandada pela Drª. Karla Paresque, profissional que possui bacharelado em Ciências Biológicas, mestrado em Biologia Animal pela Universidade Federal do Espírito Santo e doutorado em Zoologia pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Atualmente, ela é pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco.

"Não há nenhum motivo de preocupação. Os animais encontrados são poliquetas, parentes das minhocas terrestres, que não causam absolutamente nenhum mal aos seres humanos. Não causam doenças e nem parasitam humanos. O que pode ter ocorrido foi uma agregação reprodutiva. Eles normalmente vivem no sedimento e, em algumas ocasiões, podem migrar para a coluna d'água para se reproduzirem. É um fenômeno natural que sofre influência dos ciclos solar e lunar e das características do rio. Nenhuma substância desses animais irá reagir com cloro ou com qualquer coisa", disse a pesquisadora.

 

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Orla de Boa Viagem terá policiamento reforçado PDF Imprimir E-mail

05/05/2017

Um dia depois de dois alunos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) terem sido baleados na Praia de Boa Viagem durante um assalto nas imediações do 3º Jardim, a Polícia Militar de Pernambuco anunciou, na última quinta-feira (4), que começou a reforçar o policiamento na beira-mar. Segundo a corporação, a Operação Orla Segura contará com mais quatro viaturas circulando pelos oito quilômetros da Avenida Boa Viagem e ruas adjacentes, entre 18h e 0h, horário em que há mais assaltos, conforme a PM. O bairro é o mais populoso da capital pernambucana - cerca de 130 mil moradores, de um universo de 1,6 milhão de habitantes na cidade - e ponto turístico obrigatório de quem visita o Estado.

A polícia informou que, atualmente, a segurança na beira-mar é feita por quatro PMs em segway (veículo elétrico) no calçadão, uma dupla em motos e duas viaturas (uma da Patrulha do Bairro e outra da operação de combate a homicídios). Há também 16 câmeras da Secretaria de Defesa Social (SDS) para monitorar a avenida. "A área mais crítica fica entre o 1º e o 3º Jardim, principalmente no setor das quadras. Por isso manteremos três viaturas circulando e a quarta ficarão meia hora em cada um dos pontos estratégicos que consideramos serem mais vulneráveis", explicou o subcomandante do 19° Batalhão da PM, major Paulo Matos.
A reportagem do JC passou, ontem à noite, por volta das 21h, pelo trecho da Avenida Boa Viagem que vai do Parque Dona Lindu até o Pina. Em todo o trajeto, a equipe encontrou apenas uma viatura com três militares parados no 2º Jardim e uma dupla de PMs em segway nas proximidades do Restaurante Boi e Brasa, quase no fim da via. Para a cozinheira Vera Lúcia dos Santos, 38 anos, o número de policiais ainda não é suficiente para transmitir segurança à população. "Quase todos os dias caminho aqui no calçadão e tenho muito medo de assalto. Normalmente a polícia são aparece quando acontece alguma coisa, então não conseguimos nos sentir seguros."

PRISÃO

O major Paulo Matos disse que os dois rapazes que assaltaram os estudantes já foram identificados e que a prisão deles deve ocorrer em breve. Durante o assalto, o rapaz de 24 anos levou um tiro no abdome e a moça, de 19 anos, foi baleada de raspão na cabeça, além de ter levado murro no olho e coronhadas. Ambos estão internados no Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central da cidade, e estão com quadro estável, segundo a assessoria de imprensa da unidade de saúde.

Aluno do mestrado em oceanografia, o jovem foi submetido a uma cirurgia. Conforme o professor da UFPE Bruno Severo Gomes, que o visitou, o estudante perdeu 5 cm do intestino. A garota teve cortes no rosto, no couro cabeludo e um forte edema em um dos olhos. Uma tomografia não identificou lesões na cabeça, de acordo com a assessoria de imprensa.

O caso está sendo investigado pela titular da Delegacia de Boa Viagem, Beatriz Leite, que já dispõe de imagens das câmeras da SDS. As diligências começaram na quinta-feira.

 

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Após dez anos de lançamento, especialistas defendem recriação do Pacto Pela Vida PDF Imprimir E-mail

06/05/17

 

Era terça-feira, 8 de maio de 2007. No Palácio do Campo das Princesas, no Recife, o então governador Eduardo Campos lançava o Pacto Pela Vida. Ousado, o projeto definia como meta a redução anual de 12% no número de homicídios - os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI). Nascia com a participação de setores ouvidos em plenárias realizadas semanas antes e norteado pelo diagnóstico do Plano Estadual de Segurança Pública (Pesp), elaborado na ocasião.

Daí em diante, foi uma questão de tempo até os resultados aparecerem. Ano a ano, os índices de assassinatos foram caindo até serem os menores registrados nas últimas três décadas, em 2010. O projeto inspirou outras iniciativas pelo País e foi premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A população viveu uma sensação de segurança que não percebia havia tempos.

Nesta semana, quando completa dez anos, entretanto, o Pacto Pela Vida é outro: deixou para trás as curvas decrescentes que motivavam entrevistas eufóricas de representantes do Governo e passou a ser um dos “calos” da atual gestão. Os assassinatos crescem mês a mês e, até março deste ano, já haviam ultrapassado 1,5 mil casos, patamar que, na melhor época do programa, só era atingido em maio ou junho. Desde outubro de 2016, com a assunção de Angelo Gioia, o quinto secretário de Defesa Social desde 2007, intervenções mais abrangentes passaram a ser realizadas. As chefias das polícias Militar (PM) e Civil foram trocadas e a estrutura de investigação assumiu a intenção de se voltar a grupos de extermínio. Também foram anunciados investimentos de R$ 290,8 milhões para a segurança pública, o que contemplará a contratação de mais 4,5 mil policiais até o fim de 2018.

Mas, apesar dos primeiros esforços, os resultados ainda não apareceram. E, segundo especialistas, ex-gestores e pessoas que vivem o dia a dia das polícias, não devem aparecer se, em vez de ajustes, não houver um novo Pacto. Começar do zero é necessário, na visão deles, porque o contexto atual da economia e do crime é diferente de dez anos atrás. Fazer diferente disso seria como aplicar uma fórmula desatualizada sobre uma nova realidade. “Acredito que a gente precise de uma visão tão dinâmica quanto o próprio fenômeno da criminalidade. Mas não é uma questão só do Pacto Pela Vida. Num tempo em que cidades dos Estados Unidos já estão no policiamento preditivo, com programas que tentam identificar as manchas de criminalidade do futuro, aqui, todos os programas que temos são muito voltados ao passado, baseados em modelos de pesquisa que olham para trás”, avalia o consultor em segurança pública e coordenador da área temática de segurança pública do Projeto Brasília 2060, George Dantas.

Para a formulação do Pacto, em 2007, foi feito um diagnóstico que, inclusive, indicou a necessidade de mudança na classificação dos homicídios, na época, considerada falha. Também foram identificados os locais com maior incidência de mortes violentas, incluindo o Recife e mais cinco cidades da Região Metropolitana, além de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata, Caruaru e Garanhuns, no Agreste, e Petrolina, no Sertão. Na descrição do professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Criminalidade, Violência e Políticas Públicas de Segurança da mesma instituição, José Luiz Ratton, havia um conjunto de atores “trabalhando por menos CVLIs” nos primeiros anos do programa. “Reunir-se toda quinta-feira não é indicativo de que o Pacto funciona. O que há são ações dispersas, que não têm produzido efeito. Não há mais pactuação. O que existe hoje não é digno de ser chamado de pacto”, declara.

Ratton teve participação decisiva na formulação do plano de segurança e contribuiu com o Governo do Estado até 2012. Hoje, é crítico dos rumos que o projeto tomou. “É preciso chamar a sociedade civil, a universidade, o Tribunal de Justiça, a Defensoria Pública e outros atores para a repactuação, e focar nas investigações de homicídios. Já chegamos a ter um DHPP [Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa] com 41 delegados e 160 agentes. Também não se pode esquecer do sistema prisional e da Funase [Fundação de Atendimento Socioeducativo], que ficaram devendo nesse período, e de uma política de prevenção. O Estado tem o Programa Atitude, consagrado, mas com uma escala insuficiente para a demanda”, elenca.

É fato que a principal vitrine do Pacto pela Vida sempre foi a redução dos homicídios, que atingiu a meta em 2010, com uma queda de mais de 12% em relação aos indicadores de 2009. Mas, nos anos exitosos do programa, gestores da área de segurança e o próprio ex-governador Eduardo Campos também se orgulhavam de iniciativas que tiveram impacto positivo sobre outras modalidades, como os Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVP).

A reativação da Patrulha do Bairro da Polícia Militar, em 2012, foi um exemplo disso. O desafio do Pacto, de 2017 em diante, entretanto, inclui um cenário adverso e que, até bem pouco tempo, era restrito aos porões das cadeias ou ao Sudeste do País. É o crime organizado, com integrantes suspeitos, por exemplo, de participação no roubo à sede da empresa de segurança de valores Brinks, na capital pernambucana, em fevereiro.

O caso teve repercussão nacional não só pela violência da troca de tiros, em plena madrugada, na avenida Recife. Os criminosos portavam fuzis de uso restrito das Forças Armadas capazes de perfurar paredes de concreto e aço numa ação planejada, que muitos atribuem ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Na última quinta-feira, outro caso chamou atenção, desta vez, em Tamandaré, no Litoral Sul. Depois de explodir caixas eletrônicos de duas agências bancárias e instalar uma falsa bomba num alojamento de policiais, uma quadrilha seguiu até um rio e fugiu em lanchas. Mesmo usando um meio de transporte não tão comum e sujeitos a serem encontrados numa busca feita por helicópteros, os envolvidos não foram capturados.

Polícias como a do Rio Grande do Norte já encontraram indícios de que ações contra bancos e carros-fortes no Nordeste têm sido comandadas de dentro de presídios. Com o tráfico de drogas como braço econômico, facções criminosas têm evidenciado seu poder paralelo cada vez mais nas ruas, cenário que se intensificou após o suposto rompimento de uma espécie de trégua entre o PCC e o Comando Vermelho, em 2016.

“A ação das organizações criminosas, inclusive dentro de estabelecimentos prisionais, se baseia no negócio do narcotráfico, que é inseparável do negócio do tráfico de armas. São fenômenos que não se abateram. Parece que se agudizaram nesse período e não podem ser dissociados da questão das mortes violentas. O contexto é outro. Talvez essa seja uma saída para o Pacto pela Vida: dar tanta atenção a esses fenômenos, num eventual novo diagnóstico, como a que se deu aos CVLIs no levantamento feito dez anos atrás”, orienta o consultor em segurança George Dantas.

O delegado federal aposentado Wilson Damázio foi secretário de Defesa Social entre 2010 e 2013, o período mais exitoso do Pacto pela Vida. Na condição de quem já foi diretor do Departamento Nacional do Sistema Penitenciário (Depen), ele afirma que o programa pernambucano pode não ter “dado a mesma ênfase” ao sistema carcerário, algo na linha de análises que indicam que a polícia prendeu muito, mas as vagas nos presídios não acompanharam o mesmo ritmo de crescimento. “[O Centro Integrado de Ressocialização de] Itaquitinga era uma promessa muito forte que não se concretizou. Creio que seja preciso voltar o olhar para o sistema prisional”, avalia. “Concordo que tenha que haver um recomeço. A meta de redução de 12%, por exemplo, é muito pesada. É preciso refazer o diagnóstico, reforçar o que deu certo em oito anos e abandonar o que não deu”, completa.

Programa vive esgotamento similar ao das UPPs cariocas

Assim como o Pacto pela Vida, e guardadas as devidas proporções, a política de Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) nas comunidades do Rio de Janeiro também perdeu efetividade. Traficantes reassumiram o controle de vários pontos, e, nos confrontos com policiais, vidas têm se perdido. Os fenômenos teriam semelhanças? Políticas de segurança teriam prazo de validade?

Para o sociólogo José Luiz Ratton, não é uma questão de data para a perda de efeitos, mas, sim, do desmonte do que havia sido traçado. “Mudanças de um realidade histórica, como a de Pernambuco, no que se refere aos crimes violentos, não ocorrem em apenas oito anos. Se houve uma perda de efetividade do programa é porque ações foram descontinuadas. No Rio, também houve uma interrupção de processos que pareciam promissores.”

O número de homicídios voltou a subir em 2014, no início da crise econômica. Esse cenário costuma ser apontado por governantes como influenciador do crescimento da criminalidade. “Remeto-me ao conceito de que a diminuição da oferta de emprego pode tornar a prática de delitos mais atraente a determinados segmentos da população. Criar condições de saúde econômica e social que leve essas pessoas a negarem o crime é o desafio”, diz o consultor George Dantas. “A velha fórmula que prevê mais policiais e viaturas parece ser inviável no atual cenário econômico. É preciso investir em inteligência policial”, diz.

No aporte de R$ 290,8 milhões anunciado pelo Governo de Pernambuco para a segurança pública, também é contemplada a renovação de viaturas e outros equipamentos. Nos últimos dias, foi divulgada ainda a criação do Batalhão de Operações Especiais (Bope), com policiais ganhando mais gratificações. “Não adianta criar mais uma tropa reativa, sem foco em prevenção. Não acho que faltou dinheiro ao Pacto, mas é preciso gastar com qualidade, com boa aplicação do policiamento ostensivo nos pontos vulneráveis”, completa Ratton.

Desde dezembro de 2016, quando foram retiradas da mesa de negociações salariais para policiais e bombeiros militares, associações da categoria também subiram o tom das críticas ao Governo e iniciaram uma operação padrão que diminuiu o policiamento nas ruas. “Hoje, a PM do Rio está sem investimentos, e a UPP, sem força. Aqui, a tropa está desmotivada. A sociedade é que paga um preço alto”, diz o vice-presidente da Associação de Cabos e Soldados, Nadelson Leite.

Outro norte para o Pacto pela Vida é a necessidade de integração com ações federais, um desafio evidenciado, por exemplo, quando se percebe que, nos dez anos do projeto pernambucano, quatro planos nacionais de segurança já foram lançados, com pouca efetividade. “É preciso criar fontes de recursos. Investir em segurança tem que ser sagrado. Temos que trabalhar juntos, manter a chama viva da inteligência e integração policial. Não pode ser uma mera troca de informações. Tem que ser institucionalizado já nas academias”, avalia o ex-secretário de Defesa Social, Wilson Damázio.

 

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