Editorial: Os prejuízos econômicos em torno das eleições

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29/05/2018

A inércia do movimento de paralisia das cargas indica a diculdade para a volta ao que tínhamos como normalidade. Por mais turbulenta e insuciente que fosse, podemos chamá-la assim em comparação ao caos deixado pelos caminhoneiros e empresas transportadoras. Além dos prejuízos econômicos que se acumulam às tulhas, da perda de produtos perecíveis ao atraso na produção industrial, e que serão pagos, de outro modo, pela população, surgem contornos preocupantes para as eleições que se avizinham.

O maior efeito político de um movimento, aparentemente, sem bandeiras partidárias, não foi unir esquerda e direita para bradar a obviedade de um governo à deriva. Temer, Padilha, Marun e companhia estão à beira do precipício e nenhum deles pode impedir outubro chegar. O grande efeito da simpatia pelos caminhoneiros, turbinada pelo apoio de estrelas da música como Roberto Carlos e Sula Miranda, é o aumento do grau de risco do populismo. “As chances de venezuelização por aqui são mínimas devido ao nosso legado de pesos e contrapesos e nossa tradição parlamentar. Mas essa visão otimista perde força à luz da maré populista no mundo. Mesmo sem autoritarismo aberto, os populistas estão à porta e podem fazer enormes estragos”, escreveu no Twitter o cientista político Marcus André Melo, da UFPE.

Venezuela

A sombra da Venezuela paira sobre nós. Em profunda crise econômica e social enquanto os donos do poder não arredam pé, com o apoio de parcela da população apesar de problemas graves como o desabastecimento permanente, algo semelhante ao estilo Nicolás Maduro seria a pior versão do que nos aguarda, na perspectiva de ascensão do populismo. A advertência do professor Marcus André ressalta o avanço de uma onda populista sobre as nações, incluindo os Estados Unidos e a Europa. Há uma frustração geral com as instituições, e o modelo representativo desgastado põe os políticos de carreira em xeque. O discurso populista ganha fôlego, com guras carismáticas se aproveitando desse vácuo de lideranças nos governos e nos parlamentos. 

A “esquizofrenia teatral” que une os brasileiros, na expressão do colunista Igor Maciel, deste JC, tende a gerar perplexidades mais cedo ou mais tarde. Se for mais cedo, os eleitores poderão evitar um desastre nas urnas, impedindo os populistas que estão à espreita de entrar. Se for tarde, a situação deplorável que tem acompanhado o Brasil nos últimos anos pode continuar, ou piorar. “Nosso problema não é este governo cadente, mas sim que tipo de economia a sociedade quer”, escreveu Miriam Leitão, para o jornal O Globo. A economia subsidiada pelo governo é um mimo desejado por diversos setores, e tem encontrado expressão em mandatos populistas de esquerda e de direita. O problema com essa tradição, especialmente cara à América Latina, é o saco sem fundos de Estados endividados, corruptos e inecientes. O populismo vende um Estado que não existe. E o preço da ilusão é alto, demora gerações para ser pago.

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