Praça da República reúne história e marcos do Recife; veja curiosidades

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15/11/22

Uma praça no bairro de Santo Antônio, no coração do Recife, guarda uma relação próxima com o feriado desta terça-feira (15). A Praça da República ganhou esse nome justamente por causa do fim do império. Antes disso, teve outros nomes e marcos históricos.

O g1 reuniu algumas curiosidades sobre esse local, que fica entre o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, o Palácio da Justiça e o Teatro de Santa Isabel. Confira:

Jardim inovador
No lugar em que atualmente ficam a praça e o Palácio do Campo das Princesas existiu um dos primeiros jardins planejados de grande porte das américas, construído por Maurício de Nassau. Lá foi erguido em 1642 o Palácio de Friburgo e é onde era mantido também um parque zoobotânico. O Palácio de Friburgo era onde funcionava a residência oficial construída pelo conde Maurício de Nassau.

“No tempo de Nassau, tinha um viveiro grande, peixes e um minizoológico, além de muitos coqueiros”, conta o historiador e integrante do Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco José Reinaldo Carneiro Leão.

Professora de arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ana Rita Sá ressalta que o espaço, na época do domínio holandês, era diferente do atual.

“Havia, inclusive, campos de jogo, pomar, plantas medicinais e animais. Era algo inédito. Era uma das primeiras intervenções das américas desse porte, diferenciado”, afirma a professora.

Com a expulsão dos holandeses no século 17, o local foi virando ruínas, até virar um amplo descampado, segundo os especialistas.

Revolução de 1817
Após a expulsão dos holandeses, o palácio continuou sendo usado, mas o parque foi destruído e virou um descampado (veja vídeo acima).

“Onde está aquela casa que a Polícia Militar usa [atualmente] era água. Foi tudo aterrado. Com o passar dos anos, foi entrando em ruínas e decadência. Deixaram estragar. Quando foi por volta de 1783, o então governador [José César Meneses] mandou derrubar e só ficou uma parte atrás que foi um erário régio”, contou o historiador. O erário régio era o nome dado, à época, ao tesouro público.

Ao longo dos anos, o espaço ganhou durante um tempo o nome de Praça do Palácio Velho e, em seguida, Campo do Erário e Campo da Honra, até se converter em Campos dos Mártires, em alusão à Revolução Pernambucana de 1817.

No século 19, a capitania de Pernambuco declarou-se independente e teve um governo republicano e libertário livre da Coroa Portuguesa por 70 dias. Foi no descampado onde anos depois seria construída a Praça da República que líderes da revolução foram enforcados.

“A maior parte dos revoltosos de 17 foram enforcados ali. Por isso, tem um monumento de Abelardo da Hora que olha para o Palácio da Justiça. Era para ser alto, mas o Patrimônio não deixou porque ia tapar a visão dos palácios”, relatou o conselheiro.

O monumento ao qual ele se refere é uma estátua que pode ser vista atualmente na Praça da República, bem diante do Palácio da Justiça. Nele, há uma homenagem a Antônio Henriques Rabelo, Padre Antônio Pereira, Amaro Gomes Coutinho, Domingos Teotônio Jorge, José de Barros Lima, o Leão Coroado, José Peregrino Xavier de Carvalho e o Vigário Tenório.

Visita de Dom Pedro II
Virando ruínas, ainda no século 18, o Palácio de Friburgo foi demolido. No local, Francisco do Rego Barros, o Conde da Boa Vista, mandou construir, entre 1841 e 1843, um novo palácio, em estilo neoclássico, que mais tarde seria chamado Palácio do Campo das Princesas, para ser a sede do governo. Foi construído pelo engenheiro Firmino Herculano de Morais Âncora.

O Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Tereza Cristina visitaram o Recife em novembro de 1859. Eles ficaram hospedados no palácio – que, depois, se chamaria Palácio do Campos das Princesas. Na época, ainda não havia uma praça, apenas o grande descampado.

Uma lenda urbana diz que o nome do local faz alusão ao fato de as filhas dos imperadores brincarem ali, o que não procede, conta o historiador. “O imperador nunca viaja com os herdeiros do trono. Até hoje é assim”, pontuou.

Dom Pedro e a esposa ficaram no palácio, que foi construído pelo Conde da Boa Vista, contou Reinaldo, acrescentando que era um casarão simples.

“Quando Pedro II vem para cá, a Intendência Municipal, em homenagem às filhas dos imperadores, resolveu dar o nome de campo das princesas. Não tinha nada de praça na frente, só o descampado”, relatou.


Jardim público
Nos meados do século 19, essa região passou por uma série de intervenções púbicas, com a construção do novo palácio do governo, o Teatro de Santa Isabel e o Liceu de Artes e Ofícios.

O jardim público no espaço onde hoje é a Praça da República foi construído em 1875. O projeto era dos engenheiros Emile Beringer e Victor Fournié, com um coreto de ferro. “É uma praça pública de referência grande para a cidade do Recife, foi estratégico demais”, apontou a professora da UFPE.

A professora afirma que mesmo o gradil atual é reflexo da influência da época, visto que parques públicos ingleses também são gradeados.

As guardiãs da praça são as deusas greco-romanas, representadas pelas estátuas de Ceres, a deusa da fertilidade; Diana, da caça; Flora, das flores; Minerva, das artes e ciências; Juno, rainha dos deuses do Olimpo; e Níobe, Vesta e Têmis, consideradas deusas da justiça.

O nome atual, Praça da República veio em 1890, com o fim do império e início da República no Brasil.

Intervenção de Burle Marx
Na década de 1920, a praça contava com eixos diagonais e passeios curvilíneos, bancos de cimento armado, vegetação de pequeno porte e palmeiras imperiais, além do coreto.

Em 1937, o paisagista Roberto Burle Marx reformou a Praça da República. Ele buscou respeitar o que já existia e a história do local, acrescentando elementos e plantas, explica a professora Ana Rita.

Uma das mudanças foi trazer coqueiros, cajueiros e mangabeiras, além de mudar o traçado, mantido até os dias atuais, em direção ao rio. “A intenção dele era de fazer essa ligação com o rio, sempre esse pensamento de trazer as águas”, apontou a professora.

Foi dele o projeto de retirar o coreto e substituir pela fonte monumental que existe até os dias atuais, outra alusão à questão das águas que cercam o espaço. A diferença, afirmou a professora, é que o paisagista tinha projetado a fonte com plantas, como a vitória-régia.

“Burle Marx respeitava muito a história da cidade. Os jardins contam também a história da cidade, mas é difícil o poder público compreender isso. Havia vitórias-régias na Praça do Derby também”, contou.

Os eixos desenhados por ele partem justamente do espelho d’água, fazendo ligação com os prédios históricos do entorno.

Em 2015, o Iphan tombou a Praça da República e o jardim do Palácio do Campo das Princesas por se tratar de uma obra prima de Burle Marx. Não à toa, os dois especialistas apontam que os dois jardins devem ser vistos como uma obra só.

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