Texto divulgado por Bolsonaro é estratégia populista e cria cortina de fumaça para denúncias contra Flávio, dizem analistas

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17.05.19

SÃO PAULO - Ao compartilhar em uma rede social um texto de autor desconhecido que diz que o Brasil está "ingovernável" , o presidente Jair Bolsonaro , segundo analistas políticos, adota estratégia populista , cria uma cortina de fumaç a para tirar do foco denúncias contra seu filho Flávio e ainda alimenta as críticas da sociedade ao Congresso e a diferentes instituições.

Num dos trechos, a carta diz: "Se não negocia com o Congresso, é amador e não sabe fazer política. Se negocia, sucumbiu à velha política. O que resta, se 100% dos caminhos estão errados na visão dos "ana(lfabe)listas políticos? A continuar tudo como está, as corporações vão comandar o governo Bolsonaro na marra e aprovar o mínimo para que o Brasil não quebre, apenas para continuarem mantendo seus privilégios".

— Ele (Bolsonaro) está testando elevar uma polarização para ver como a população reage. Vai culpar o Congresso e as instituições por tudo que não consegue fazer — afirmou o cientista político da Unicamp Oswaldo Amaral. — Parece um balão de ensaio para ver quantas pessoas vai arregimentar com esse tipo de discurso. Está colocando a figura dele contra as instituições democráticas e quer o apoio do povo para isso, o que é típico do populismo.

Para o professor de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Adriano Oliveira, a carta compartilhada pelo presidente é um "ataque frontal" contra as instituições e o sistema político brasileiro. Segundo ele, as atenções agora estarão voltadas para a reação dos chefes dos outros poderes.


— Ele é um soberano que não aceita questionamentos e não está apto para exercer o cargo e respeitar as instituições e os limites que elas impõem no exercício da governabilidade. E acima de tudo, o texto é contra o Congresso Nacional — diz Oliveira, que emenda:

— Ele segue não confiável para atender as demandas dos colegas da política. Está chegando em uma situação limite, ele chancelou um ataque frontal. Resta saber como Davi Acolumbre (presidente do Senado), Rodrigo Maia (presidente da Câmara) e Dias Toffoli (ministro do STF) reagirão.

O professor emérito de Cência Política da Universidade de Brasília, David Fleischer, avalia que a tática do presidente seria também uma reação ao caso do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que está na mira de uma investigação do Ministério Público do Rio e teve seu sigilo quebrado pela Justiça.

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