Viih Tube cita problema de memória durante gravidez; por que isso acontece? |
19/11/2022 Grávida, Viih Tube fez um vídeo contando sobre os problemas de memória que está enfrentando. "A memória da grávida começa a falhar no segundo trimestre, tá? E me falaram que só piora", disse, brincando, no Instagram. No vídeo, publicado nesta quarta-feira (16), a influenciadora de 22 anos aparece em várias situações esquecendo o que ia fazer: "O que eu estava falando? O que eu vim pegar mesmo?" Gravidez impacta a memória? "Esse termo é utilizado para se referir a um conjunto de sintomas, como queixas de memória e desatenção. Essas alterações nem sempre vão trazer prejuízo e costumam ser transitórias", explica Catarina Moraes, psiquiatra, professora do curso de medicina da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e mestranda em neuropsiquiatria e ciências do comportamento. O que ocorre no cérebro de gestantes? "Algumas áreas do cérebro ficam mais atrofiadas e outras acabam ganhando ainda mais volume em função da chegada de um filho. Do ponto de vista evolutivo, isso acontece para preservação da espécie. A mulher, para proteger o bebê, assume determinadas funções e fica com um hiperfoco na criança", explica Camila Pupe, médica do Hospital Badim e professora de neurologia da UFF (Universidade Federal Fluminense). Moares explica que essas alterações cerebrais não são consideradas necessariamente patológicas e, muitas vezes, não vão trazer prejuízo. "Antigamente se acreditava que o cérebro, uma vez formado, era estático. Hoje em dia, a neurociência vem mostrando que o cérebro é extremamente plástico, dinâmico, constantemente modificado pela experiência e pelos estímulos —inclusive o hormonal, que ocorre na gravidez. Para otimizar o funcionamento, o cérebro escolhe manter algumas comunicações entre neurônios em detrimento de outras. Esse fenômeno é chamado de "poda neuronal". Dessa forma, sinapses menos utilizadas ou menos necessárias para o paciente são reduzidas". Pesquisas mostram que a gravidez traz reduções no volume de massa cinzenta, principalmente nas regiões do cérebro que respondem aos bebês. Além disso, as mudanças no volume preveem medidas de apego materno pós-parto, sugerindo um processo adaptativo que serve à transição para a maternidade, podendo durar, pelo menos, dois anos após a gravidez. Dessa forma, é esperado que o foco da atenção da mulher mude, gerando uma maior distração para questões profissionais, por exemplo, pois ocorre uma priorização da atenção para as necessidades dos filhos. Hormônios e acúmulo de tarefas Além da questão hormonal, é importante ressaltar outro fator importante que influi no "mommy brain": o acúmulo de tarefas, que acaba gerando uma sobrecarga física e mental em razão de todas as funções que a mulher acaba exercendo. Zago enfrenta o problema diariamente: cuida da casa e da saúde dos filhos; ajuda nos estudos; leva nas atividades extracurriculares; trabalha; estuda; além de manter uma vida conjugal e social. "Percebo os dias passando sem dar conta de que passaram. É tanta tarefa para um dia só que sinto que estou presa numa eterna segunda-feira", comenta. A gestação pode ser muito desafiadora, mesmo quando desejada, e o pós-parto traz toda uma mudança de rotina, de horas de sono e de funcionamento familiar. É compreensível que existam muitos fatores que possam favorecer o pior desempenho cognitivo. "O pós-parto é o período mais vulnerável na vida da mulher para o adoecimento mental, devido aos fatores psicológicos de ter de se adaptar a muitas situações diferentes como mudanças no corpo, mudança de rotina, de papel social, aumento de responsabilidades e acúmulo de tarefas. Assim é comum vivências de estresse, sobrecarga, autocobranças, blues puerperal e adoecimentos, como quadros depressivos, ansiosos, transtorno obsessivo-compulsivo, psicose", ressalta a psiquiatra Carla Zambaldi, professora-adjunta de neuropsiquiatria na UFPE (Universidade Federal do Pernambuco). A falta de apoio familiar, dificuldade de acesso a serviços de saúde mental e dificuldade financeira também podem influenciar nas perdas de memória e cognição. "Mommy brain" é algo ruim? "Muitas das alterações são uma otimização de função. Se você vê a interação de uma mãe e um bebê —não estou falando de uma mãe deprimida ou com transtorno de ansiedade, mas uma mãe com a saúde mental boa— mesmo ela cansada, com o sono partido, é possível ver uma sintonia. A mãe sabe quando o bebê quer mamar, está atenta a expressões faciais e barulhos. A mulher pode estar desatenta a ponto de deixar o celular na geladeira, mas o bebê faz uma vocalização diferente, e a mãe sabe o que é", afirma Moraes. É importante ressaltar que muitas vezes observa-se pelo viés da expectativa da produção intelectual e laboral, como no caso da mulher que teve filho há quatro meses e não está conseguindo ter o mesmo rendimento no doutorado ou na empresa que trabalha. "Entendo que isso às vezes pode ser complicado para algumas situações em que a mulher está envolvida, mas ao mesmo tempo, a atenção está direcionada para a criança. É estratégico porque a criança precisa da mãe", completa Moraes. Além disso, a mesma queixa cognitiva pode ser entendida de forma diferente em cada mulher, levando-se em conta o contexto, a expectativa profissional e o processo que a mãe está vivendo. "Se a gente vê uma mulher que está com quadro de depressão pós-parto, essa própria dificuldade de se concentrar pode ser muito mais assustadora. A mãe botou o celular no freezer e não estava encontrando, mas ela conta isso rindo. Já uma paciente deprimida pode ter vivido a mesma situação e pensar 'não sirvo mais para nada'", diz. Com o tempo, passa? No entanto, as mudanças cerebrais na mãe tendem a ser duradouras, e "pesquisas avaliaram que seis anos após o parto essas alterações são mantidas", comenta Zambaldi. |