Livro editado pela Cepe conta a história do Brasil holandês antes da chegada de Nassau

Imprimir

21/11/2022

A Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) lança, nesta terça-feira (22), a partir das 19h, o livro “As memórias de Krzysztof Arciszewski (1630-1637): Um polonês a serviço da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil”, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe). Organizada e traduzida pelos especialistas em história do Brasil holandês Bruno Miranda e Lucia Xavier, a publicação conta com textos inéditos com tradução do neerlandês para o português. A pesquisa que resultou no livro foi financiada pelo Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba, e pelo Arquivo Nacional da Haia, nos Países Baixos. O lançamento contará com bate-papo entre os autores e o professor George Cabral (UFPE), membro da Academia Pernambucana de Letras (APL), e do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco (Iphan).

“As Memórias de Arciszewski constituem um documento de interesse para historiadores e amantes da História que se dedicam ao estudo da presença neerlandesa no Brasil e a temas relativos à história do Brasil colonial e a expansão ultramarina europeia. O texto evidencia também antigos vínculos históricos do Brasil com os Países Baixos e a Polônia no século XVII”, declara a historiadora.

A publicação de 222 páginas é inédita em língua portuguesa, e traz duas partes, a primeira com a análise crítica dos autores e o processo de produção do livro, e a segunda reproduz o memorial escrito por Krzysztof, sob encomenda dos comandantes da companhia, como é comum numa troca de comandos. Ainda que não fosse Arciszewski o governador no período, ele foi escolhido para o relato devido à sua erudição e amplo conhecimento de nossas terras, do litoral ao interior.

Em seu memorial, o polonês revela detalhes sobre os erros das ações militares; sugere a melhor forma de administrar o território; esmiúça as relações entre os holandeses e os outros europeus que por aqui já haviam se estabelecido, e entre estes e os índios e os escravos. E chega a defender que Itamaracá seria melhor região para fixar residência do que Recife. “É um importante relato para entender a história e a logística e o impacto das guerras na sociedade”, resume Bruno que, ao lado de Lucia, trabalhou três mil horas em dez meses para finalizar a obra, cuja importância se reflete na dificuldade de sua feitura.

Os autores já haviam utilizado trechos do memorial de Arciszewski em suas pesquisas. Mas para compilar tudo em um livro, foi necessário contar com tradução do neerlandês arcaico para o contemporâneo, e deste para o português. Uma tradução difícil também porque, dada a erudição de Krzysztof, não era incomum encontrar palavras mais rebuscadas e citações políticas em latim. Os historiadores tiveram ainda que traduzir as três versões do relato existentes – duas manuscritas e uma impressa -, pois há divergências em alguns fatos. Daí a presença essencial das diversas notas explicativas que o livro apresenta, como forma de esclarecer iniciados e iniciantes no assunto.

Figura amarga e extremamente sincera, Krzysztof desde cedo já demonstrava interesse em treinos militares. Tanto é que conquista admiração de seus superiores, mas não é muito apreciado no trato pessoal. Assim foi com o conde Nassau. A história oficial diz que Nassau e Arciszewski tinham boas relações, tanto que foi ele quem guiou o nobre quando de sua chegada ao Brasil. Mais tarde, em 1639, o polonês foi expulso da colônia. O motivo é que é um mistério. “Sabe-se somente que Nassau pediu ao conselho para escolher entre ele e o militar. Quanto à causa, só especulações. Há quem diga, por exemplo, que Arciszewski era um espião”, conta Lucia.

SOBRE OS AUTORES

Bruno Miranda é licenciado (2003) e mestre (2006) em História pela Universidade Federal de Pernambuco e doutor em História pela Universidade de Leiden, Países Baixos (2011). É professor do Departamento de História da Universidade Federal Rural de Pernambuco, membro associado do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano e editor da revista do instituto, desde 2014. Tem publicado sobre o Brasil holandês e outros temas em revistas especializadas do Brasil e do exterior e é autor de livros como Peter Hansen Hajstrup: Viagem ao Brasil, 1644-1654 (Cepe, 2016). A obra, finalista do Prêmio Jabuti 2017 na categoria Ciências Humanas, foi escrita em conjunto com o professor emérito da Universidade de Leiden, Benjamin NicolaasTeensma, e por Lucia Furquim Werneck Xavier.

Lucia Xavier é licenciada em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (1995), mestre em História Social pela Universidade Erasmus em Roterdã (2007) e doutora em Arqueologia pela Universidade de Leiden, Países Baixos (2018). Atuou como pesquisadora do Projeto Resgate de Documentação Barão do Rio Branco, da Secretaria Especial da Cultura e do Ministério do Turismo, em parceria com a Universidade de Leiden, entre 2007 e 2018. Atualmente é pesquisadora associada no projeto Modus Scribendi (UFBA – CNPQ) e no Laboratório de Humanidades Digitais (USP).

Serviço


Lançamento do livro “As memórias de Krzysztof Arciszewski (1630-1637): Um polonês a serviço da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil (Cepe Editora)”


Quando: 22 de novembro de 2022 (terça-feira), às 19h


Onde: Museu do Estado de Pernambuco – MEPE (Avenida Rui Barbosa, 960, Graças – Recife/PE)


Preço: R$ 60 (livro impresso); R$ 24 (e-book)

Link da Matéria