A um mês do Enem e após mudança de gestores e de gráfica, governo garante prova 'sem surpresas'

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03.10.2019

Com trinta e um dias para o primeiro domingo de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a aluna Nicole Marie D’Elia está ansiosa. Além do desafio de tentar uma vaga no curso de Medicina, a estudante do Colégio Notre Dame, no Recreio, também acredita que as diversas mudanças na organização da avaliação este ano fizeram com que muitos candidatos se sentissem inseguros.

— Quero fazer Medicina, o que já é desafiador. Ao mesmo tempo, acredito que as mudanças no governo podem fazer com que a prova não seja exatamente como nos últimos anos. A gente estuda sem saber direito o que vai cair, já que as ideias deste governo são bem diferentes das dos anteriores. Além disso, teve mudança de gráfica, o que cria o medo de a prova vazar, como já aconteceu em edições anteriores — avalia Nicole.

As mudanças mencionadas por Nicole permearam o ano de preparação dos cerca de 5 milhões de candidatos que vão fazer o Enem, que acontece nos dias 3 e 10 de novembro (veja o calendário ao final da matéria) . O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia federal que organiza a prova, teve três presidentes ; a Diretoria de Avaliação da Educação Básica, setor dentro do Inep que cuida diretamente do Enem, contou com quatro diferentes diretores indicados para a função; e o próprio Ministério da Educação (MEC) teve dois titulares .

Em fevereiro deste ano, o governo federal anunciou a formação de uma comissão que avaliaria todos os itens do banco de questões do Enem . O grupo teria autorização para anular perguntas que expressassem “ideologia de gênero” ou tivessem “fundo ideológico”. Três meses depois, Marcus Vinicius Rodrigues, que presidia a autarquia à época, afirmou que a comissão não constatou “ideologia” alguma nos itens analisados.

Já a gráfica RR Donnelly, que tradicionalmente imprimia a prova desde 2009, depois que um vazamento fez com que o exame daquele ano fosse adiado, faliu . O esquema de segurança da empresa foi elogiado nas edições anteriores por diferentes governos e não houve vazamentos.

Em abril, o Tribunal de Contas da União (TCU) permitiu que o Inep fizesse um contrato com uma outra gráfica por não haver tempo suficiente para uma nova licitação. A empresa escolhida foi a Valid S.A., que tinha ficado em segundo lugar na última disputa pelo contrato.

“Não queremos questões polêmicas, mas sim medir (avaliar) educação”

ALEXANDRE LOPES

Presidente do Inep

O presidente do Inep, Alexandre Lopes, afirma que os alunos não devem se preocupar e que uma das metas nesta edição é não deixar espaço para eventualidades.

— O aluno tem que administrar sua ansiedade nesta reta final. Nós estamos trabalhando para que ele faça uma prova dentro do esperado — afirma.

‘Não queremos polêmica’

Lopes também comenta sobre possíveis mudanças no perfil das questões que serão cobradas:

— Queremos discutir educação, não polemizar com educação. Não queremos questões polêmicas, mas sim medir (avaliar) educação.

Mesmo sendo o terceiro presidente no cargo no governo Bolsonaro, Lopes não acredita que as mudanças internas gerem qualquer problema com a prova, especificamente por conta da qualidade técnica da equipe do Inep:

— Assumi (o Inep) tranquilo. Já tive equipes com o mesmo tamanho e orçamento. A equipe técnica sabe bem o procedimento que deve ser feito para a (preparação da) prova. O Enem é um enorme projeto e, para mim, tem sido muito estimulante.

O presidente do Inep também lembra que, nos próximos anos, o exame, gradualmente, passará a ser digital.

— Estamos trabalhando em três frentes: logística, pedagógica e tecnológica. Ano que vem, 1% dos candidatos fará a prova digital e, até 2026, teremos o Enem 100% digital, com quatro aplicações ao ano — afirma Lopes.

Cuidado redobrado
O presidente do Inep acredita que o novo modelo possibilitará ao mesmo tempo economia no exame e adaptar a prova à reforma do ensino médio.

Mas a especialista em avaliações educacionais e doutora pela UFPE Roberta Brandão diz ser preciso redobrar o cuidado em uma avaliação do tamanho do Enem. E que mudanças na organização e declarações polêmicas inevitavelmente geram instabilidade:

— Esta é a segunda maior avaliação educacional do planeta. Ela mexe com o sentimento de milhões de candidatos e de suas famílias. Declarações ganham uma dimensão muito maior do que em outras situações. Falas do presidente (Bolsonaro) e do ministro (da Educação, Abraham Weintraub) sobre possíveis mudanças na prova geram insegurança nos candidatos. Na reta final, é importante acalmar os ânimos para que os alunos possam dar o seu melhor. Sem interferências — afirma a professora.


As próximas datas do Exame

Cartão de Confirmação

A partir de 16 de outubro, os candidatos terão acesso ao cartão de confirmação com a indicação do local de prova.

Provas

Os exames serão realizados nos dias 3 e 10 de novembro, a partir das 13h30, horário de Brasília. Os candidatos devem chegar aos locais de prova até as 13h. No primeiro dia, serão aplicados os exames de Redação, Linguagens e Ciências Humanas. No segundo dia, as provas são de Matemática e Ciências da Natureza.

Publicação do gabarito

O gabarito oficial só será divulgado no dia 13 de novembro, três dias depois do último domingo de provas.

Resultados

O resultado para quem está concluindo o ensino médio será liberado em janeiro. Já para os treineiros, isso só acontecerá em março de 2020.

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