A hora de decidir a profissão

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26/11/17

“O que você vai ser quando crescer?” Essa pergunta nos acompanha desde pequenos, quando entendemos o valor de se ter uma ocupação. Somos avisados de que, ao término da jornada escolar, teremos que escolher nossas profissões por meio do vestibular. Com a entrada no ensino médio, a pressão e a necessidade de já ter, no mínimo, uma área de preferência (exatas, humanas ou saúde) se potencializam. É nessa época que a dúvida se torna ainda mais evidente, principalmente pela maratona enfrentada pelos feras nos testes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e de outros vestibulares, como o Sistema Seriado de Avaliação (SSA) da Universidade de Pernambuco (UPE), que chega ao fim nos dias 3 e 4 de dezembro. Mesmo após as avaliações, o questionamento persiste até o encerramento das inscrições do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), em janeiro, que é quando o candidato tem que decidir o curso. Para encontrar a resposta, é preciso que o jovem trilhe uma jornada de autoconhecimento e avaliação de aptidões. Na cabeça dos vestibulandos, o ambiente se torna uma corrida para uma vaga nas universidades públicas, e titubear na escolha profissional pode comprometer completamente seu futuro.

De acordo com o Ministério da Educação (MEC), o Brasil teve aproximadamente 6,7 milhões de inscritos no Enem deste ano. Segundo a entidade, o maior número de inscritos no Sistema de Seleção Unificada (SiSU) 2017.2 veio do Nordeste, tornando a pressão ainda maior para os jovens pernambucanos. Estima-se que, no Estado, serão um pouco mais que as 14.785 vagas ofertadas para as instituições públicas, no início deste ano.

A mudança de curso após o ingresso é um trâmite que vem crescendo dentro das universidades. Na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), todos os anos são ofertadas vagas para transferências internas. A facilidade para conseguir a alteração varia de acordo com a competitividade e os números de evasão de cada curso. O último processo aberto registrou 127 mudanças de curso. O número de evasão em todos os campi da UFPE é significante. Os dados mostram um aumento das desistências nas universidades.

Segundo a UFPE, em 2015, 5.376 aluno deixaram seus cursos. Em 2016, essa fatia cresceu para 6.656. A universidade lembrou que a quantidade de vagas também aumentou, e o dado expressa diversos fatores que levam à fuga dos discentes. Assim também é na UPE, onde as mudanças internas também tem aumentado. Em 2015, foram 65. Já em 2017, o número piorou, acumulando 95 desistentes.

O estudante Eduardo Carvalho, 24 anos, é um exemplo desse processo. Depois de estudar física na UFPE por três anos, mudou de curso ao perceber que sentia falta de matérias mais humanas em sua grade curricular. Dessa forma, solicitou a transferência e está há dois anos no curso de economia, na mesma universidade. “É um recomeço, mas conheço muita gente que, diferentemente de mim, não está muito feliz com a mudança e até está desestimulada por ter mudado. No meu caso, a mudança me estimulou”, avalia.
Esse conjunto de fatores preocupa pedagogos e psicólogos de escolas particulares, e públicas, que buscam aproximar o aluno do universo das profissões. Testes vocacionais que antes eram usados como decisivos nas escolhas, agora se tornam apenas norteadores da área de conhecimento. “O teste é muito raso. Ele faz parte do processo de orientação profissional. Envolve toda uma construção com o estudante, e com a família também. Para que possa tentar entender de onde vem essa vontade de fazer determinado curso que deseja. Não é só avaliar aptidões”, destaca a orientadora educacional do Colégio São Luís Marista, Isabela Menezes.

A realização profissional depende de um processo de amadurecimento do jovem e, principalmente, do interesse do aluno em descobrir seu caminho. No colégio Marista, atividades que ocorrem ao longo do ensino médio servem para nortear os estudantes. Além de olimpíadas de conhecimento e atendimentos com psicopedagogos, há feiras de profissões e visitas técnicas. “A cada oportunidade dessa, o estudante vai assegurar sua escolha. E deve ampliar seu leque de conhecimento sobre as profissões”, observa a orientadora.

Beatriz Moraes, 17, estudante do 2º ano, tem aproveitado os contatos com outras profissões desde que entrou no ensino médio. Nesse período, já quis ser médica, depois conheceu o direito e hoje está próxima da publicidade. Tudo por meio das dinâmicas que se somaram às feiras de profissões realizadas no seu colégio. Agora, está na dúvida entre publicidade e administração. “Daria para mim mais uns três anos para poder decidir com certeza o que eu quero”, confessa.

A incerteza de Beatriz destoa da segurança de Pedro Branco, 16. “Sempre quis me tornar médico. Acho uma profissão muito bela por cuidar e salvar vidas”, ressalta o jovem. Ele estuda na mesma série e colégio que Beatriz, mas já decidiu desde cedo o curso que deseja. Sempre engajado em olimpíadas de conhecimento, Pedro experimentou participar de duas edições do Enem. O adolescente conta que se dedica a “preencher o vazio com o conhecimento”. O interesse rendeu bons frutos e ele se destacou no simulado do Enem de seu colégio. A avaliação envolvia as escolas da rede Marista e Pedro tirou a maior nota entre todas as séries.

Nas escolas públicas, essas ações são bem mais limitadas. Há três anos, o projeto “De olho no Futuro” vem desenvolvendo ações educativas e motivacionais em 12 escolas de Pernambuco. A iniciativa tenta conscientizar os jovens sobre a importância de projetarem seu futuro. Trazendo debates e orientando sobre os caminhos da qualificação, escolha profissional e empregabilidade. “Muitos desses jovens de escolas públicas consideram que concluir o ensino médio é o ápice de sua vida estudantil. Com o projeto mostramos que não só é capaz de alçar um futuro de formação após o ensino, como apontamos que existem meios possíveis para que ele alcance isso”, conta a idealizadora do projeto, a analista educacional Valéria Oliveira.

A realidade de uma formação universitária parece distante para muitos. O morador do lixão de Aguazinha Tiago Oliveira, 17, estudante do 3º ano da Escola Professor Estevão Pinto, em Olinda, participou do programa e agora se sente ainda mais próximo da sua futura profissão. Sempre muito dedicado aos estudos, e com pais sem escolaridade concluída, Tiago teve que explicar à mãe o que era o Enem quando foi se inscrever. “Disse que era um exame para eu entrar na universidade e que a inscrição iria ser paga pelo Governo, para ficar mais fácil de entender.” Tiago sempre buscou meios de encontrar uma profissão, trabalhando desde cedo e pesquisando sobre a carreira que quer seguir. Para ele, um bom estudante busca caminhos para que ele mesmo encontre a vocação. “Quem faz a diferença é o aluno, e não o colégio onde estuda.”

Para entrar no caminho
“O que é que eu quero construir para minha vida? O que é que eu busco? Onde vou me sentir satisfeito e realizado?” O professor da UFPE e mestre em psicologia clínica, Sílvio Ferreira, aponta essas três perguntas como essenciais para serem respondidas na escolha da profissão. O conselho serve não só para o âmbito profissional, mas para a vida. “A maioria de nós atende às expectativas do outro. Esse outro não é um alguém em particular, mas está posto como solicitações e exigências da sociedade”, explica.
De acordo com ele, essas expectativas são geradas ao longo da vida, principalmente dentro de casa, onde os pais repassam esses anseios sociais para os filhos. “Depois a criança vai ver que sua vontade é mais ampla e que seus interesses podem coincidir, ou não, com interesse de seus pais”, diz Sílvio, ao exemplificar um caso de um dos seus pacientes que foi instruído desde cedo a seguir carreira médica.

O paciente de Sílvio tentou por cinco anos medicina, mas não foi aprovado, mesmo sendo apontado como um dos três mais cotados no cursinho pré-vestibular que fazia. “O inconsciente dessa pessoa criou um mecanismo de auto sabotamento para não afirmar uma vontade que era dos pais”, avalia. “Ele era apaixonado por leitura e entre ele e a vontade dos pais, ele estava pagando o preço de reprovação a cada ano”, desvenda o psicólogo, que anos depois encontrou seu paciente formado no curso de direito.
O clínico ainda aponta as escolas secundárias importantes nessa formação educacional que leva ao encontro com a profissão. “Nesse processo que seja levado ao jovem a possibilidade dele enxergar mais e mais o mundo, além das experiências concretas do cotidiano.” Ele destacou que dúvidas profissionais surgem por vários motivos, mas no geral se tratam de conflitos de interesses. Perdurar isso podem gerar mazelas psicológicas.

A estudante de nutrição há 2 anos, Lorena Leal se manteve no ritmo de vestibular quando entrou na universidade. Mas a dúvida latente em sua cabeça levou a beira de um colapso e ela trancou o curso antes que suas crises de ansiedade se tornassem algo mais forte. “Agora eu parei para respirar. Desde os 15 anos, quando fiz vestibular, que permanecia no mesmo ritmo. Isso junto com a pressão de estar no curso certo me levou a ter crises de ansiedade. e só em pensar nas tarefas da faculdade eu ficava nervosa”, diz. “Precisei parar e repensar o que estou fazendo.”

Coaching
A jornada para se encontrar profissionalmente é um problema de construção social do indivíduo. Uma nova forma de lidar com essa incerteza tem ganhado espaço entre os que já são formados, este é o método coaching. O processo se baseia em um coachee (orientador no processo) que ajuda uma pessoa a conquistar aquele objetivo que por algum motivo não tenha conseguido sozinho. Seja na carreira, na área da saúde, produtividade, relacionamento ou equilíbrio financeiro.

Com o aumento na competitividade e o surgimento de novas profissões o método tem sido mais usado para traçar carreiras profissionais. “O processo de coaching é para identificar as principais habilidades, os pontos fortes, os pontos de melhoria, o que realmente te faz feliz, pra aí sim, desenvolver uma carreira”, explica o publicitário de formação, fundador do Divulga Recife, e hoje, coachee, Gabriel Sales, de 25 anos.
Para especialistas esse processo de identificar desejos pode ser confuso. “Esses desejos da pessoa não quer dizer que sejam delas, às vezes é um desejo que ela toma como seu mas está todo embaralhado em meio ao desejo de outros”, alerta o psicólogo Silvio Ferreira, que acredita que este método pode tornar ainda mais nebuloso o processo de autoconhecimento.

Passar por um processo de coaching o investimento varia. No cenário nacional os valores ficam entre R$2.000 a R$8.000 para processos de coaching individual e de R$600 a R$2.000,00 para processos em grupo de aproximadamente 8 pessoas. “O que determina o valor que um coach cobra atualmente são os seus resultados e o know how no nicho específico em que ele atua”, conta Gabriel.

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