Obra de José Guilherme Merquior é debatida no Recife nesta quarta

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13/09/2017

O que define um pensador como sendo clássico em sua área de pesquisa? Alguns dizem que a principal característica de um cânone é ter marcado sua época, outros que é sua universalidade, mas considerar determinado autor como sendo clássico advém também – e principalmente – da atualidade de seus escritos. José Guilherme Merquior está, para o pesquisador e professor de Literatura Comparada na UERJ, João Cezar de Castro Rocha, mais do nunca atual, integrando portanto o rol daqueles que permanecem contemporâneos mesmo décadas após sua morte (26 anos, no caso de Merquior).

João Cezar desembarca nesta quarta (13) no Recife para participar de uma série de eventos promovidos até sexta pela Editora UFPE. Um deles é a palestra O Pensamento de José Guilherme Merquior Como Resposta à Crise da Cultura que acontece nesta tarde, às 15h, na Fundação Joaquim Nabuco, com mediação de Eduardo César Maia. Há mais de 10 anos pesquisando sobre Merquior, o professor carioca propõe uma interpretação bem atual do pensamento de seu polêmico conterrâneo.

“Há, na obra de Merquior, um pensamento poderoso que não é de todo compreendido. Ele ajudou a fecundar uma estrutura que é própria do mundo contemporâneo”, explica. “A crise da cultura é um paradoxo no qual temos uma complexidade máxima no que se refere à criação de redes sociais, mas as estruturas dessas redes, a maneira como elas operam, apresentam um grande reducionismo. Vou propor essa análise a partir de ideias desenvolvidas por Merquior.”

Sobre Merquior

Nascido em 1941, José Guilherme foi crítico literário, sociólogo, diplomata e faleceu precocemente aos 49 anos em decorrência de um câncer de intestino. Em suas andanças pelo mundo, ele vivenciou dois dos grandes momentos sociopolíticos da segunda metade do  século 20 e que foram fundamentais para o entendimento de sua produção: o movimento de Maio de 1968, na França, e a Queda do Muro de Berlim, em 1989. “A maioria das pessoas rotula Merquior e não se aprofunda na obra dele, desqualicam-no como sendo de direita. Foi uma forma da cultura brasileira não enfrentá-lo como fenômeno do pensamento não só brasileiro, mas do século 20 de uma forma geral”, defende João Cezar.

O caráter polêmico do pensador foi ressaltado na década de 1980 com várias personalidades brasileiras, entre elas Caetano Veloso – a quem o diplomata chamou de “um pseudointelectual de miolo mole” – e Marilena Chauí, assim como sua aproximação com Fernando Collor. As questões relacionadas ao campo da estética cederam espaço nos estudos de Merquior à investigação do liberalismo. “Minha hipótese é que José Merquior, depois de muito participar do mundo das artes e da literatura, vislumbrou a possibilidade de ser um José Bonifácio no Brasil do século 20”, finaliza João Cezar.

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