Antes solução, Via Mangue é sinônimo de engarrafamento em horários de pico

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10/05/2017

 

Quando foi inaugurada, no início de 2016, a Via Mangue era uma promessa para desafogar o trânsito da Zona Sul do Recife, em Avenidas como Conselheiro Aguiar, Boa Viagem e Domingos Ferreira. Mas o que parecia solução, agora tem se tornado um problema, principalmente, nos horários de pico, entre as 7h30 e 9h30 e durante o fim da tarde, a partir das 17h. Segundo a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), 66 mil veículos trafegam diariamente na via expressa.

Apesar de perceber uma melhoria no tráfego nas avenidas da Zona Sul do Recife, a médica Gabriele, 34 anos, moradora do bairro de Boa Viagem, relata que, nos últimos seis meses, tem sido difícil chegar ao trabalho. "Depois que começaram as aulas, para chegar ao trabalho nesse horário, entre 7h30 e 8h, tem sido complicado". A bancária Valkíria Cavalcante, de 28 anos, pondera: "Quando (a Via Mangue) foi inaugurada, foi nítida a melhora nas avenidas Conselheiro Aguiar e Boa Viagem". Mas com a via expressa cada vez mais cheia e com retenções, faz com que todos que precisam cruzar a Zona Sul voltem ao costume de sair mais cedo de casa.

Com a execução da Via Mangue, a Avenida Conselheiro Aguiar ganhou um trecho de 5,8 quilômetros de faixa exclusiva para ônibus, em janeiro de 2016. O trecho entre a Barão de Souza Leão e a Antônio de Góes ficou mais livre. Mas os usuários das linhas ônibus que circulam na região relatam que o trecho da Avenida Antônio de Góes acaba atrapalhando o percurso, por causa do fluxo intenso de veículos.

A estudante Giovana Ferreira, 19 anos, declara que, apesar de haver uma melhora com a faixa, demora 45 minutos de sua residência, em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, para o Derby. "O problema é que a Antonio de Goes é um grande funil. Não importa se você vem pela Conselheiro Aguiar ou pela Via Mangue, no final, todo o fluxo se encontra na ponte. A Via Mangue foi muito eficaz, mas o número de carros continua crescendo. Daqui a alguns anos, já precisaremos de outra rota alternativa", relatou.

Na tentativa de diminuir os engarrafamentos na área, a CTTU vai reprogramar a sinalização na saída da Via Mangue, no bairro do Pina. A ação vai ser realizada a partir desta quarta-feira (10), no sentido Centro. A implantação do semáforo vai acontecer na entrada do túnel do Pina, onde há o maior número de engarrafamentos pela manhã. A sinalização semafórica vai ficar a uma distância de 140 metros do semáforo 103, na Avenida Antônio de Góes. Segundo a Autarquia, os dois semáforos vão funcionar em sincronia, para que os condutores possam ter acesso à Avenida Antônio de Góes de forma mais ágil no tempo de abertura.

"Quem planta via, colhe congestionamento"

O professor Leonardo Meira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), especialista em mobilidade, comenta que isto é reflexo de criar obras em vez de dar alternativas. "Tem um ditado que se diz muito na Alemanha: quem planta via, colhe congestionamento", diz o professor, que complementa: "A frota de carros continua crescendo. E cresce de uma forma que a infraestrutura não consegue acompanhar".

O especialista conta que nenhuma cidade no mundo, hoje, pensa em criar novas vias, e sim em buscar conceder sistemas de transporte público de qualidade. Assim como melhorar as calçadas e ciclovias: "Não é proibir que se tenha carros, e sim que as pessoas tenham opções para se deslocar de outras formas".

Ele cita o exemplo de Bogotá, na Colômbia, que conta com faixas exclusivas para tráfego de ônibus: "Lá a viagem de transporte público tem tempo menor que a de automóvel. Imagina o quanto que se economizaria de tempo se tivesse faixa exclusiva numa (Avenida) Agamenon Magalhães", concluiu.

Histórico da Via Mangue

A Via Mangue demorou muito pra sair do papel. Desde que começaram as primeiras menções oficiais ao projeto, intitulado de Linha Verde, lá em 1999, se passaram 17 anos e muitas mudanças - de governo municipal e de planejamento da estrutura. No primeiro momento, a então Linha Verde, concebida por Roberto Magalhães (então PFL, hoje DEM), prefeito do Recife entre 1997 e 2000, previa a criação de pedágios para se sustentar e a previsão de inauguração era para 2002.

Com a chegada de João Paulo (PT) à prefeitura (período que durou de 2001 até 2008), houve as reavaliações do projeto, que passou a se chamar Via Mangue. No entanto, somente o túnel que passa sob a Avenida Herculano Bandeira, no Pina, que foi entregue, nos últimos momentos de sua gestão. A obra ainda precisou passar por mais dois prefeitos - João da Costa (PT) e Geraldo Júlio (PSB) até ser concluída em definitivo, em janeiro de 2016.

 

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