ELEIÇÕES 2022: veja como as campanhas de Lula e Bolsonaro chegam ao segundo turno e a análise de cientistas políticos sobre a disputa |
28/10/2022 O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) enfrentam-se neste domingo (30) no ato final de uma campanha eleitoral que, por si só, já é histórica. Pela primeira vez desde a redemocratização, ou o candidato à reeleição será derrotado ou o postulante que terminou o primeiro turno em segundo lugar chegará à última fase do pleito como vencedor. No dia 2 de outubro, após uma disputa marcada pela pequena apresentação de propostas, ações violentas com motivação política em todo o Brasil, ataques ao sistema de votação e fake news, Lula conquistou os votos de 57,2 milhões de eleitores (48,43%) e Bolsonaro foi o preferido de 51 milhões de pessoas (43,20%).
Após a votação, tornou-se mais nítida a divisão política do País, sobretudo pelo posicionamento assumido por políticos, partidos e personalidades. Lula, por exemplo, tem 11 siglas ao seu lado, além de ex-presidenciáveis, ex-presidentes da República, ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e artistas como Chico Buarque e Caetano Veloso.
Bolsonaro, por sua vez, possui cinco partidos alinhados com o seu projeto de reeleição e também recebeu apoios importantes, como o do seu ex-ministro e senador eleito Sergio Moro (União Brasil), de vários governadores e artistas como os sertanejos Gusttavo Lima, Chitãozinho, Latino, Leonardo e a atriz Cássia Kis. O ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), também disse que marchará com o militar da reserva neste segundo turno. "Vim com tranquilidade, com espírito muito livre, dizer que meu voto é Bolsonaro. E voto com muita tranquilidade, sabendo que ele tem, no campo econômico, muito mais semelhanças comigo do que o Lula tem", pontuou o tucano na última semana. Segundo Ernani Carvalho, professor do departamento de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o "muro de votos" que Lula construiu entre Bolsonaro e ele pode tornar-se um complicador nesta fase da campanha tanto para o petista quanto para o liberal. No caso do militar, a dificuldade maior seria transpor essa diferença, provocando uma virada. "Embora a literatura na área de comportamento político mostre que é possível tirar essa diferença, Bolsonaro vai ter muito trabalho para queimar essa gordura eleitoral de Lula", destaca o docente.
O cientista político Antônio Lucena, da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), lembra que os votos recebidos por candidatos como Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno também serão determinantes para o desfecho desta eleição. Tebet e Ciro declararam apoio a Lula no segundo turno. "Cerca de 70% dos eleitores de Simone Tebet dizem que votam em Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto em torno de 50% dos eleitores de Ciro estão transferindo seus votos também para Lula. Só esse movimento já seria suficiente para garantir a eleição dele. Se o candidato mantiver a base de votos que ele teve no primeiro turno, conseguir abocanhar esses votos de Simone Tebet e Ciro Gomes e houver uma abstenção relativamente baixa, o petista vence", frisou Lucena.
O posicionamento ocorreu depois de Moraes recusar-se a investigar a denúncia da equipe do presidente de que a campanha de Bolsonaro teria cerca de 154 mil inserções de rádio a menos do que Lula no Nordeste. Na ocasião, o liberal disse que iria recorrer da decisão e que não pretende jogar "fora das quatro linhas democráticas", mas informações de bastidores indicam que ele chegou a pensar em radicalizar seu discurso, mas foi demovido por assessores. Para Antônio Lucena, o presidente está tentando emular "o playbook que Donald Trump fez nos Estados Unidos", já que estaria prevendo uma derrota nas urnas, mas acontecimentos como o ataque do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) a policiais federais teriam criado um ambiente menos favorável entre os apoiadores do militar para movimentos deste tipo.
Lucena e Ernani Carvalho creem, no entanto, que os gestos de Bolsonaro não devem culminar em um acirramento maior ou generalizado dos ânimos nesta fase da campanha. |