Espetáculo ZOE discute possibilidades de vida animal e instintiva no ser humano

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15/06/2017

O ser humano é o único capaz de destruir sua própria espécie. Essa constatação assustadora, e a necessidade de criar alternativas orgânicas de convivência para evitar esse quadro, foram os pontos de partida para a criação do espetáculo de dança ZOE. A montagem, dirigida por Francini Barros e com elenco composto por Adelmo do Vale, Jorge Kildery, Maria Agrelli, Orun Santana, Rafael FX e Victor Lima, estreia na quinta, 15 de junho, às 20h, no Teatro Apolo.

De acordo com Francini, também professora do departamento de Dança da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a pesquisa para a produção foi balizada a partir dos conceitos discutidos no livro Homo sacer: o poder soberano e a vida nua, do filósofo italiano Giorgio Agamben. “Ele diz, nesse livro, que os gregos antigos usam duas palavras distintas para designar a vida: bios, a vida política qualificada e zoe, a vida animal. Esta última tem parâmetros como reprodução, território, prazer, dor, desejo. A ideia seria resgatar essa qualidade instintiva para a cena da dança. Se o ser humano se diz civilizado e pode se autodestruir, que civilização é essa?”.

A narrativa do espetáculo traz, de forma abstrata, acontecimentos que se desenrolam durante uma noite, desde o cair da tarde até o nascer do sol O escuro traz as inseguranças, as incertezas e o animal de cada bailarino. “Não nos atrelamos a nenhuma técnica específica. Embora a dramaturgia tenha sido minha, a criação foi muito colaborativa. Há muito espaço para improvisação, então cada dia de apresentações terá uma cara diferente”.

O processo de ensaios privilegiou exercícios para descondicionar o corpo e deixá-lo mais permeável a esses processos mais animais. O cenário, no entanto, foi pensado para causar um ruído conceitual. “Nós trazemos para a cena, por exemplo, o uso da tecnologia, que está no domínio do bios. Trabalhamos com dispositivos como o videomapping. Em paralelo, pesquisamos processos de domesticação, de como os homens frequentemente querem humanizar os animais, e tomamos inclusive exemplos da cultura pop e da TV. Um dos personagens estudados foi o Theon Greyjoy, de Game of Thrones, que vira praticamente um bicho por meio da dor, após sofrer torturas e mutilações”, detalha a diretora.

 

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