Literatura Fantástica conduz debates em congresso na UFPE

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05/12/2017


A literatura fantástica não tem nada a ver com escapismo e fuga da realidade, ao contrário do que muita gente pensa e propaga. Foram justamente os autores realistas, ainda lá pelo século 19, que espalharam essa conversa mole para diminuir a importância e segregar o gênero.

"Os autores realistas não compreendiam o alcance das obras românticas não miméticas, que valorizavam um princípio imaginativo - a literatura fantástica, a ficção científica, os contos de fadas, os romances de horror", diz o professor de Literatura da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), André de Sena.

Ele é coordenador do 7º Congresso de Literatura Fantástica (7º Clif-PE), idealizado justamente para discutir o assunto junto a estudiosos de Literatura fantástica de todo o País. O evento, organizado pelo grupo de estudos Belvidera - Núcleo de Estudos Oitocentistas, é gratuito, começa nesta terça-feira (5) e segue até quinta-feira (7), no Centro de Artes e Comunicação (CAC/ UFPE), com vários debates.

Sena ressalta que é a liberdade proporcionada pela imaginação e desapegada das convenções realistas que prova a riqueza dos gêneros a serem abordados no congresso. "A noção de arte muda a partir do século 19 graças a essa presença da liberdade criativa e autoral, vigente inclusive nos dias atuais, pós-românticos. Toda obra artística, seja ela mimética ou imaginativa, pode ser vista como uma ampliação da dita 'realidade'", esclarece o professor.

O romance de horror e seus similares estão, inclusive, em alta, com uma produção bastante prolífica, não apenas em publicações impressas. Basta olhar para as refilmagens de filmes de horror e séries como "Stranger Things", "Penny Dreadful" e "The Walking Dead".

"Há um número incrível de escritores contemporâneos brasileiros discípulos de E. T. A. Hoffmann, Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft, Stephen King e tantos outros mestres do horror e fantástico", argumenta André.
Mesmo assim, o preconceito com o gênero ainda assombra a cultura brasileira. Mas literatura de horror nos Estados Unidos e na França, por exemplo, é levado a sério. É tradição que vem do estilo gótico.

"No caso brasileiro, como tivemos um movimento romântico pautado na construção de uma identidade, portanto focado numa apreensão de real, as obras imaginativas surgem como uma espécie de contraproposta estética libertária e iconoclasta. Não pudemos ser iconoclastas numa realidade em que tudo estava por se fazer. Assim, as raras obras imaginativas que o nosso romantismo gerou, com o tempo foram associadas - de maneira pejorativa - a um certo instinto de rebeldia que era tido como alienação cultural, cópia de modelos estrangeiros", justifica o acadêmico.

Esse pensamento vem do colonizador, que desenhou e descreveu o Brasil com exotismo típico e supostamente realista, para difereçar do europeu. "No Brasil, até hoje, quando assisto a filmes de horror ou de super-heróis, sempre ouço comentários do tipo 'que mentira!, impossível!, que filme mentiroso!' (risos). O pacto ficcional ainda não foi introjetado. E este pacto não serve apenas para contos de ficção científica ou filmes de horror, mas também para as obras ditas 'realistas'. É por isso que num país como o nosso, os gêneros/modos imaginativos são associados a uma arte menor, coisa de adolescente, quando, na verdade, ampliam a noção de real com fartas doses de criatividade", alfineta.

Programação completa 7º CLIF-PE no link da matéria.

 

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