Neta de Miguel Arraes é trunfo eleitoral do PT

Imprimir

17/06/2018


SÃO PAULO — Impulsionada pelo sobrenome do avô e pela alta popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva em Pernambuco, a vereadora Marília Arraes, de apenas 34 anos e novata no PT, conseguiu transformar uma campanha que “tinha tudo para dar errado” em trunfo do partido para tentar romper o isolamento na disputa presidencial deste ano. Seu bom desempenho é hoje uma ameaça ao projeto de reeleição do governador Paulo Câmara, que tenta fazer com que seu partido — o PSB — passe a, pelo menos, discutir uma possibilidade de aliança com os petistas no plano nacional.

Apesar de poder ajudar o candidato a presidente do PT, a retirada da candidatura de Marília está longe de ser um consenso entre os dirigentes nacionais da legenda. A avaliação é que a vereadora pode representar uma renovação no momento em que sigla vive a maior crise de sua história. Na semana passada, a executiva petista formalizou em uma resolução o compromisso de tirar Marília da disputa se o PSB se juntar formalmente ao PT na disputa pela Presidência.

— A posição adotada se parece com as resoluções de eleições passadas que fizeram tanto mal ao PT. Foram desgastando a militância e afastando a base social. Será que não aprendem? É uma reincidência, não um erro juvenil. Está mais para senilidade — avalia Markus Sokol, um dos cinco integrantes da executiva petista que votaram contra a resolução.

Marília ingressou no PT em 2016. Até então, era filiada ao PSB, partido de seu avô Miguel Arraes, morto em 2005, e de seu primo Eduardo Campos, morto em 2014 — ela deixou a legenda por causa do rompimento da aliança com a então presidente Dilma Rousseff.

Para o cientista político Ernani Carvalho, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), caso seja mesmo candidata, Marília dividiria o eleitorado de esquerda no estado e facilitaria o caminho de outro pré-candidato ao governo, Armando Monteiro, do PTB.

— Ela (Marília) teria um forte poder de atração de votos que iriam para o Paulo Câmara e poderia desidratar a campanha dele.

Por causa da história, ligada a Arraes e Campos, e da máquina estadual, que controla desde 2007, é fundamental para o PSB manter o controle de Pernambuco este ano.

— É uma máquina partidária muito forte. Perder isso seria um desastre para o PSB — afirma Ernani Carvalho.

Marília começou a rodar o estado depois do Carnaval do ano passado. Em caravanas semelhantes às realizadas por Lula, mas com menos estrutura, mantém um ritmo intenso de visitas às cidades pernambucanas. No interior, se vale da memória que a população tem de Miguel Arraes. Já em Recife tem como foco o eleitorado feminista e jovem.

MARÍLIA ADMITE SAIR

Adversários, porém, minimizam o fenômeno Marília e atribuem parte de seu bom desempenho ao fato de não ter sido atacada até agora. Petistas defensores da sua saída da disputa dizem que, quando a campanha começar para valer, não haverá chance na disputa com Câmara em função da estrutura do PSB pernambucano. Na eleição de 2016, o partido elegeu prefeitos em 69 das 184 cidades do estado.

O presidente do PSB de Pernambuco, Sileno Guedes, critica os defensores da manutenção de Marília na disputa

— A pré-candidatura da vereadora não dialoga com a história do partido (PT). Não leva em consideração que não está se tratando de Pernambuco, e sim de um projeto nacional.

A petista admite retirar a candidatura se o PSB fechar um apoio formal na eleição presidencial, mas descarta subir no palanque de Câmara.

— Não tenho condições políticas de fazer campanha para Paulo Câmara, se hoje eu sou o principal nome de oposição.

 

Link da Matéria