Ano VIII - Nº 105 - Outubro/2002










 

Folhetos de aeronaves para emergências contêm falhas

A aviação civil internacional obriga as companhias aéreas a apresentar aos passageiros folhetos de instruções sobre procedimentos de emergência. Esse material, no entanto, muitas vezes dá informações que mais complicam do que ajudam. Essa foi a constatação da professora Carla Spinillo, do Departamento de Design da UFPE. Em sua pesquisa, a professora estudou especificamente as instruções gráficas de coletes salva-vidas, e encontrou vários problemas de representação.

Num primeiro momento, um grupo de 60 pessoas foi instruído a colocar o colete sem usar o folheto de informações. O resultado, já esperado, foi uma seqüência de erros dos usuários, numa tarefa que deveria ser feita em seis a sete passos, mas que foi concluída em até 52 passos. “Quando mostramos as instruções para um outro grupo, e depois pedimos para colocarem o colete, o resultado não foi muito diferente”, completa Carla Spinillo. “Apenas duas pessoas conseguiram executar a tarefa sem erros”, afirma a professora.

A professora conseguiu juntar materiais de diversas empresas aéreas internacionais e constatou praticamente os mesmos problemas nas instruções. “Um exemplo que foi identificado diz respeito ao momento de inflar o salva-vidas. A recomendação é que o passageiro só faça isso na saída da aeronave, para facilitar a locomoção. Mas apenas um dos 13 folhetos analisados traz essa recomendação de forma clara”, explica Carla Spinillo. Setas e números, que poderiam facilitar a leitura dos procedimentos, são ignorados, tornando a tarefa ainda mais complexa, principalmente em se tratando de vôos internacionais. “Em alguns países orientais, por exemplo, a leitura não é feita da esquerda para a direita, mas ao contrário, ou de baixo para cima. Deveria haver dispositivos para mostrar a ordem das figuras, já que não podem ser usadas palavras”, lembra.

A pesquisa já foi publicada e apresentada em diversos congressos internacionais. O próximo passo é entrar em contato com as companhias aéreas e com a Infraero para apresentar os resultados desse trabalho. Podem parecer meros detalhes de desenho, mas algumas pessoas no experimento levaram 20 minutos para vestir o colete, enquanto o tempo ideal seria algo entre um minuto e um minuto e meio. “Vidas podem ser salvas com apenas algumas modificações”, lembra a pesquisadora.