Ano VIII - Nº 110 - Março-Abril/2003














 

Pesqueira recebe programas de saneamento

Equipe de professores ajuda a comunidade de Mutuca, em Pesqueira, a instalar dessalinizadores em poços subterrâneos e a implantar lagoas de estabilização para o tratamento de esgotos

Clécio Vidal

Uma equipe de professores do Centro de Tecnologia e Geociências (CTG) da UFPE participa de uma rede de ações de saneamento ambiental e racionalização do uso de recursos hídricos na comunidade de Mutuca, localizada a 18 km de Pesqueira (fronteira entre o Agreste e o Sertão pernambucanos). O grupo dará início à instalação de dessalinizadores nos poços subterrâneos.

O sal obtido poderá ser empregado, por exemplo, em criadouros de camarão ou peixe. Outra iniciativa em andamento é a implantação de lagoas de estabilização para o tratamento de esgotos. Os engenheiros têm em vista também recuperar a área onde existe um lixão.

A coordenadora dos projetos na área de Hidrologia, Suzana Montenegro, explica que o Grupo de Saneamento Ambiental da Universidade está atuando na revisão das barragens subterrâneas (escavadas no leito dos rios) de Mutuca, ensinando os moradores a resolver problemas estruturais. É necessário, por exemplo, o revolvimento periódico do solo, já que se retém mais água quando a terra não está compactada. “O melhor aproveitamento dos recursos hídricos, escassos no semi-árido, requer medidas simples. Os custos com grandes obras, como os reservatórios urbanos, são inviáveis em pequenos povoados”, analisa.

Os pesquisadores estão alertando a população sobre hábitos que podem provocar a salinização da água prejudicando a agricultura, a exemplo da irrigação com grandes aspersores. Segundo ela, o calor faz com que a água utilizada em quantidade elevada evapore rapidamente, sendo desperdiçada. Por se tratar de uma água salobra, quando ocorre a vaporização, o sal fica depositado no solo, danificando a plantação.

A solução para o problema, conforme a professora, é a irrigação localizada, com microaspersores “que podem ser feitos pelos próprios moradores com mangueiras que despejam água junto ás plantas”. Para diminuir a salinidade, serão instalados dessalinizadores. “Não basta tratar a água, é preciso também lidar com o sal que sobra. Para isso, plantaremos, no local, uma espécie chamada acroplex, conhecida popularmente como erva-sal, que se alimenta com o mineral, podendo, depois ser utilizada como forragem”, comenta.

Moradores de Mutuca aprendem a selecionar e coletar dejetos

Outro projeto que está começando a ser desenvolvido pela equipe do CTG é a reciclagem do lixo, com a participação dos moradores que estão recebendo orientação sobre como realizar a coleta seletiva dos dejetos.

De acordo com o professor José Mariano Aragão, coordenador das pesquisas, o principal objetivo é proporcionar mecanismos de saneamento que possam ser geridos de maneira autônoma pela comunidade, dentre os quais estão as lagoas de estabilização, cavidades para onde serão levados os esgotos do vilarejo. Construídos atualmente de forma improvisada, esses esgotos fazem a sujeira ficar a céu aberto ou se infiltrar no solo, prejudicando os lençóis freáticos.

O esgoto permanece aproximadamente sete dias nessas depressões, passando por um processo de purificação provocado por algas que se formam dentro do lago. “Essas algas realizam a fotossíntese, gerando oxigênio, que mantém vivos os microorganismos que consomem os dejetos contidos na água proveniente dos esgotos”, explica Aragão. “O mais importante é que todo o processo ocorre naturalmente, sem precisar de nenhum aditivo químico”, complementa.