Pesquisa analisa
caráter simbólico de Win Wenders
Um cinema que reflete o olhar dos
anjos, ao falar sobre as misérias humanas e que ilustra
o movimento incessante dos acontecimentos no mundo globalizado
por meio de imagens lentas e em preto e branco. Esse caráter
simbólico e contraditório permeia toda a obra do
cineasta Win Wenders, autor de clássicos como Buena Vista
Social Club e Asas do Desejo, foi objeto de estudo da pesquisadora
Isabel Duarte, professora do Departamento de Comunicação
Social da UFPE. Isabel também analisou como o roteiro e
as estratégias de filmagem e fotografia dos filmes de Wenders
refletem a raiva e, ao mesmo tempo, o entusiasmo diante de avanços
como a Internet e a tecnologia eletrônica aplicada às
imagens.
Os filmes de Wenders
surgem, no fim dos anos 70, para acabar com a estagnação
do cinema alemão do pós-guerra, período em
que a maior parte dos filmes vistos na Alemanha eram importados
do gênero pornô. “Mas Win Wenders sabe que é
apenas uma mosca perturbadora da ordem social contemporânea,
na qual cultura se torna sinônimo de mercadoria e expressa
esse sentimento por meio das falas de seus personagens”,
explica. No filme O Estado das Coisas (1980), por exemplo,uma
das personagens comenta ironicamente que “a reflexão
é imprópria para o consumo, nesses tempos de McDonald’s”.
Apesar de ser um
crítico feroz do Capitalismo, o cineasta alemão
deixa passar nos seus filmes “uma certa euforia com as regalias
proporcionadas pela sociedade de consumo e com o potencial das
novas tecnologias, responsáveis, dentre outros fenômenos,
pelo encurtamento das distâncias”.
Essa crise de identidade
e de representação marca toda a filmografia wenderiana.
“Os personagens de Win Wenders são consumidores entusiásticos
de jogos eletrônicos, coca-cola e rock, mas também
enfrentam terrível solidão e vazio existencial”,
enfatiza. O movimento lento da câmera, filmando imagens
de personagens localizados em diversos lugares do mundo, é
uma tentativa, conforme a professora, de representar esse “falso
movimento”.
OLHAR DO ANJO - Uma
das alegorias que mais fascina Win Wenders é a do anjo,
utilizado para representar a capacidade que o cinema tem de fazer
visível o que nossos olhos não enxergam naturalmente.
“Para Wenders, assim como para o filósofo Walter
Benjamin, a imagem-câmera flagra o movimento secreto das
coisas, tendo, portanto, o poder de revelação”,
analisa.
“Wenders considera
a história como a narrativa dos vencidos, um movimento
inevitável em direção à catástrofe”.
Outra forma de camuflar a desgraça da humanidade seria
tratar o passado como algo que morreu. O cineasta verifica isso
na sociedade alemã que tenta esquecer o Nazismo. “Em
seus filmes, o autor ressalta a influência marcante do Nazismo
mesmo depois de tanto tempo. A identidade fragmentária
dos personagens (marginais, nômades, artistas, desempregados)
reflete também o trauma dos alemães com relação
ao fascismo na Alemanha. Livres de vínculos afetivos, sociais
ou institucionais, esses personagens acreditam estar distantes
do fantasma do totalitarismo”, conclui a professora.
|