Vozes do Carnaval de Olinda

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O projeto "Vozes do Carnaval de Olinda", foi criado em 2018, pelo Prof. Dr. Severino Vicente da Silva, estando ainda em andamento. A seguir, alguns aspectos do mesmo:

A cada ano mais de um milhão de pessoas sequenciam-se nas ladeiras e ruas olindenses celebrando o festival da vida a que chamamos de carnaval. É uma tradição muito antiga, e em Olinda, como no restante do Brasil, foi recriada no final do século XIX e início do século XX. Uma ação das populações mais pobres que se afirma desde os anos posteriores à Abolição da escravidão e a experiência nos anos iniciais da República. Esses acontecimentos são importantes na construção da sociedade brasileira. O primeiro, a Abolição da Escravatura é importante porque trouxe a possibilidade, para que uma parte dos brasileiros, aqueles recentemente livres, pudesse de viver com mais gosto a condição humana da liberdade, ainda que de maneira incompleta. E foi nessa condição que o povo recriou o entrudo dos portugueses e começou a tomar as ruas das cidades, especialmente as capitais de províncias que depois vieram a serem ditos Estados. Esse fenômeno social ocorreu em todas as regiões do Brasil. E a proclamação da República que, para um dos seus líderes, deixou o povo de fora, ‘bestificados’ diante dos acontecimentos que se desenrolavam à sua vista sem os compreender, criou o espaço social para surgissem formas de organizações nas quais os sentimentos de autonomia e autoestima foram crescendo, embora não fossem vistos pelos que os escravizaram e os dominavam até recentemente. E se a “aristocracia” fazia seus bailes em salões, apartados desse povo, ele foi se assenhorando das ruas e faziam seus próprios bailes, com os mais diversos ritmos, instrumentos e balanços corporais. Assim foram dando nova vida ao entrudo.

Na cidade de Olinda, primeira capital de Pernambuco, a passagem para o século XX foi de criação popular; aos poucos foram sendo formadas brincadeiras que se tornaram tradições e representações da cidade. O carnaval de rua foi sendo criado pelo povo que vivia na periferia da “cidade histórica”, substituindo brincadeiras e personagens trazidos pelos portugueses, é que tais personagens que não mais representavam o sentimento dos moradores das periferias, dos antigos escravos, dos trabalhadores de ganho. No Largo de Guadalupe, Zé pereira foi substituído pelo mascate do CARIRI.

A cada ano o povo foi criando novos personagens para seu carnaval. Ele sofreu modificações ao longo do século e terminou por seduzir a população da “cidade histórica” que, por sua vez foi se recriando a partir de suas tradições religiosas e profanas. Bandas que acompanhavam as tradicionais procissões que marcavam a religiosidade da cidade viram seus músicos acompanharem os passos de foliões, esses que loucamente dançam na cidade que vinha de uma decadência secular. O carnaval como o oceano que banha as praias, teve momentos de maré alta e de maré baixa. O povo sempre tomou banho de maré. E as marés sempre renovam as areias que servem de piso e o mangue, fonte da vida.

Quase nunca sabemos o que ocorreu no passado, especialmente o passado da gente mais simples, que não sabe ler ou escrever; por isso é necessário, vez por outra fazer a oitiva, ouvir o que se fala quando se ativa a memória. Povo analfabeto, malamente alfabetizado, esconde os seus segredos na memória, sabe de cor a sua história. Quando morre um ancião nessa sociedade, some uma biblioteca. E, o culto que nosso tempo devota à juventude enquanto esquece os mais velhos, parece ser importante ouvir e guardar palavras que não são postas na imprensa, mas que devemos cuidar e deixa-las no Laboratório de História Oral e Imagem à disposição de atuais e futuros pesquisadores da cultura brasileira, especialmente as palavras daqueles que quase são invisíveis e são vistos quando se escondem em fantasias.

Este projeto deseja ouvir algumas vozes representativas da saga do carnaval olindense. Especialmente o que se faz a partir de grupos de amigos, aqueles grupos que se formaram antes que as sociedades os tornassem espetáculos, aqueles grupos do tempo em que dançavam, cantavam e desfilavam apenas para os vizinhos, sem as multidões que se formam para vê-los passar, mas, por serem tão grandes, já não permitem as evoluções dos desfilantes. Queremos ouvir essas vozes, queremos que elas nos contem como eles surgiram; que eles nos digam o que se lembram; o que recordam do fizeram ou do ouviram que seus avós costumavam fazer...

 

Entrevistas do projeto Vozes Do Carnaval De Olinda:

Amaro Índio Ezequiel

José Ataíde de Melo

Plínio Victor

Romildo Canuto de Santana Filho

 

Para saber mais sobre projetos e ideias do Prof. Severino Vicente, acesse:

http://www.biuvicente.com/

 

 

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desde 03/09/2018