Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo
Doutorando do LEPEC participa do I Congreso Internacional de Comunalidad: Luchas y estrategias comunitarias: horizontes políticos más allá del capital PDF Imprimir E-mail

Doutorando do LEPEC participa do I Congreso Internacional de Comunalidad: Luchas y estrategias comunitarias: horizontes políticos más allá del capital que ocorrerá em Puebla, México, no período de 26 a 29 de outubro de 2015.

O doutorando Saulo Barros da Costa do PPGEO/UFPE, vinculado ao Laboratório de Estudos do Espaço Agrário e Campesinato (LEPEC) participará doI Congreso Internacional de Comunalidad: Luchas y estrategias comunitarias: horizontes políticos más allá del capital em Puebla, México.

Na ocasião apresentará trabalho científico na mesa redonda: “Territorialidades múltiples y luchas colectivas que construyen territorios comunitários”, onde discutirá acerca da «Autonomia camponesa no Baixo Paranaíba maranhense, Nordeste, Brasil: conflitos, processos de luta e garantia territorial».

Neste evento participarão também pesquisadores internacionais como: os reconhecidos Enrique Leff e Raúl Zibechi que desenvolvem pesquisas numa perspectiva pró-meridional. No mesmo evento participarão: Daniele Fini, Instituto de Ciencias Sociales y Humanidades, BUAP, Efraín León Hernández, Facultad de Filosofía y Letras, UNAM. Gabino Giovanni Velázquez, Universidad Nacional Autónoma de México, Iracema Gavilán Galicia, Universidad Nacional Autónoma de México, Claudia López e Andrés Jiménez Gómez Universidad de Antioquia, Colombia, José Guillermo Contreras, Universidad del Tolima, Colombia, Rodolfo Oliveros, Escuela Nacional de Antropología e Historia de Argentina.

Maiores informações sobre o evento consultar:

http://www.congresocomunalidad2015.org/

 

 
I Encontro Nacional de Agricultura Urbana PDF Imprimir E-mail
CONVITE

Estamos a poucos dias de começar o I Encontro Nacional de Agricultura Urbana, que tem como tema Agroecologia e Direito à Cidade: Cultivando Saúde e Comida de Verdade. É com imenso prazer, que nós do Coletivo Nacional de Agricultura Urbana, junto com a Articulação Nacional de Agroecologia e o Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional convidamos a todas e todos para participarem dos espaços abertos do I Encontro Nacional de Agricultura Urbana (ENAU), a acontecer entre os dias 21 e 24 de outubro de 2015 na cidade do Rio de Janeiro, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

O evento é um desdobramento do I Seminário Nacional de Agricultura Urbana, que aconteceu em 2014, durante o III Encontro Nacional de Agroecologia e que marcou a criação do Coletivo Nacional de Agricultura Urbana (CNAU), fruto da interação entre organizações da sociedade civil que promovem e incentivam a agricultura urbana no Brasil.

O objetivo do I ENAU é fomentar a troca entre diferentes agricultores/as urbanos, dar visibilidade e fortalecer as experiências em agricultura urbana, construindo uma rede ampla de agricultura urbana no Brasil. Serão reunidos agricultores/as familiares urbanos/as, assessores/as técnicos/as de organizações que apoiam experiências em todas as regiões do Brasil, professores/as universitários/as, estudantes, juventude da cidade e do campo e gestores/as públicos/as.

Eventos abertos ao público:

Feira:

A “Feira Agroecológica e Cultural: Cultivando Saberes e Sabores nas Cidades”, será um espaço para exposição e vendas de produtos da agricultura urbana de todo Brasil. Agricultores/as urbanos/as mostrarão a diversidade e os sotaques regionais da agricultura urbana brasileira. A feira acontece no dia 21, o dia todo; no dia 22, ocorrerá das 17 às 21h; no dia 23 a partir das 12h.

Painéis Temáticos:

  • Painel I: De que Agricultura Urbana estamos falando?: Um panorama brasileiro

21 de outubro – 14h na Capela Ecumênica (Entrada da UERJ – metrô maracanã)

  • Painel II: Direito à cidade e comida de verdade

22 de outubro – 8h30 na Capela Ecumênica (Entrada da UERJ – metrô maracanã)

  • Painel III: Qual Política de Agricultura Urbana queremos?

23 de outubro – 8h30 na Capela Ecumênica (Entrada da UERJ – metrô maracanã)


Mais informações, visite nossos canais de comunicação:

https://www.facebook.com/cnagricurbana?fref=ts

http://www.enau.org/

http://www.agroecologia.org.br/

 
Seminário Promove Encontro e Fortalece a Rede de Núcleos de Agroecologia da Região Nordeste (RENDA/NE) PDF Imprimir E-mail

Seminário Promove Encontro e Fortalece a Rede de Núcleos

de Agroecologia da Região Nordeste (RENDA/NE)

 
Por Uschi Silva
 
I Seminário da RENDA/NE articula núcleos de agroecologia de diferentes  territórios do  nordeste
 
Bolo de macaxeira e batata doce, pães de cenoura, cebola e mandioca, pastinhas, biscoitos, doce de leite, frutas da época, doce de banana, suco de acerola e um café quentinho. Assim, num ambiente permeado de sabores, vindos da produção agroecológica da região metropolitana de Recife e da Feira Agroecológica das Graças, em Recife, as pessoas começaram a se conhecer e se reconhecer enquanto Rede de Núcleos de Agroecologia. Assim foi o início do I Seminário Regional da Rede de Núcleos de Agroecologia do Nordeste, apoiado pela Chamada MDA/CNPq Nº 39/2014.
 
A atividade ocorreu entre os dias 01 e 02 de setembro, na Universidade Federal de Pernambuco,Departamento de Geografia, em Recife e reuniu cerca de 40 pessoas, entre professores, pesquisadores, bolsistas, estudantes e técnicos. O objetivo principal foi aproximar os núcleos, traçar estratégias de comunicação em rede e debater as ações para a construção do conhecimento agroecológico nas Instituições de ensino, pesquisa e extensão da região Nordeste. Além das diretrizes políticas que orientam as ações dos Núcleos de Agroecologia (NEAs) e os Centro Vocacionais Tecnológicos (CVTs) nos territórios, foram aprofundadas questões importantes como a sistematização de experiências e a construção de uma agenda estratégica.
 
Tecendo Redes: os desafios, as fragilidades e os avanços na construção do conhecimento agroecológico nas instituições de ensino, pesquisa e extensão
 
 O primeiro dia foi dedicado ao reconhecimento mútuo. Uma instalação pedagógica, montada no centro da roda, evidenciou as experiências de cada território. Do Maranhão veio o licor de mangaba, as sementes crioulas e o foco com o trabalho no extrativismo; Já o Piauí mostrou o trabalho com as feiras agroecológicas, dinamizada pelo núcleo Cajuí. O Ceará visibilizou a atuação com a residência agrária em assentamentos rurais e o jogo pedagógico, construído junto com trabalhadores e trabalhadoras rurais impactados pelo uso dos agrotóxicos na região do baixo Jaguaribe, afirmando a agroecologia como contraponto ao modelo do agronegócio.  Do Rio Grande do Norte vieram  as sementes crioulas e de adubação verde. Depois foi a vez da Paraíba, com o grupo NERA e a rica atuação com os movimentos sociais do Polo da Borborema. Pernambuco  ressaltou as experiências na Zona da Mata, nos sertões do Pajeú, Araripe e São Francisco, e a organização da II Jornada dos Povos de PE.
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Instalação Pedagógica com as experiências dos territórios.

A instalação foi crescendo com a contribuição de Alagoas, que mostrou o cultivo de hortaliças em quintais urbanos, na cidade de Murici, além do trabalho com as sementes nativas e de adubação verde; Sergipe demonstrou que as pesquisas participativas tem sido importantes para a construção da agroecologia na Embrapa Tabuleiros Costeiros, na Rede Sergipana de Agroecologia (RESEA) e  na parceria com os movimentos sociais rurais; a Bahia, último estado a se apresentar, enriqueceu a roda com os trabalhos em Feira de Santana e Salvador junto das comunidades quilombolas e dos  assentamentos rurais, além de ressaltar a participação dos núcleos de agroecologia no Fórum Baiano de combates aos agrotóxicos e no lançamento do dossiê da ABRASCO.
 
 A diversidade no centro da roda evidenciou os desafios, as fragilidades e os avanços na construção do conhecimento agroecológico dentro das Instituições de Ensino Superior (IES), tema central debatido nos grupos de trabalho. Foram apontados como desafios para a construção do conhecimento agroecológico a necessidade dos NEAs e CVTs se aproximarem mais dos movimentos sociais para construírem o diálogo de saberes e assim terem melhor compreensão do sentido político da agroecologia. Dentre as fragilidades, o modelo de produtividade adotado nas Universidades foi apontado como grande problema, pois se choca com as as atividades e a temporalidade das pesquisas agroecológicas. Além disso, no âmbito do ensino, os professores envolvidos na educação e nos cursos de agroecologia ainda carecem de uma formação voltada para agroecologia. Por fim, as chamadas públicas apoiadas por editais do MDA/CNPq para NEAs e CVTs e a criação de disciplinas voltadas a formação em agroecologia foram apontados como avanços importantes.
 
 
Embora as chamadas públicas tenham sido um incentivo para a formação e a institucionalização dos NEAs e CVTs, a situação das universidades é preocupante. Segundo Altino Bonfim, coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Agroecologia em Rede/Agrorede da UFBA e do comando de greve local, “está em curso um projeto amplo de privatização das universidades públicas associada à terceirização. O recente corte de recursos da pós-graduação de 75% é um fato concreto que, segundo o professor teria duas implicações: a progressiva cobrança pelos cursos de pós-graduação e a crescente necessidade de buscar financiamentos da iniciativa privada, onde a pesquisa passaria a atender, principalmente, aos interesses do mercado”. Neste contexto, de sucateamento do ensino público superior que a RENDA/NE se constitui, também, como um importante espaço de luta, apoiando a greve dos servidores e professores por uma universidade pública e de qualidade.
 
De acordo com Mônica Cox, Professora da Geografia (UFPE) e coordenadora do Projeto RENDA/NE, “o seminário é um espaço de firmar as trocas e intercâmbios entre os vários grupos dedicados à construção da Agroecologia nas instituições de ensino, pesquisa e extensão, aprender com as experiências de cada um e nos fortalecer nos processos de construção do conhecimento agroecológico a partir dos núcleos e coletivos em diálogo com a dinâmica social de cada estado. Aí está a “vividez” da rede, da RENDA/NE, construir as tramas dessa renda, formando uma rede que se comunique e balance a partir do movimento nos distintos territórios e daí na região como um todo”, disse a professora Mônica.
 
 
Na manhã do dia 02 foi facilitada pela diretora do Centro de Formação em Economia Solidária (CFES/NE), Alzira Medeiros, a oficina “Sistematização de Experiências”. Perguntas como “o que é sistematização? De onde partir e com quem construir esses conhecimentos? Que suportes existem que se aproximam do que pensamos como produção de conhecimento? Como a gente da voz a estes sujeitos que constroem a agroecologia no seu dia a dia?” ganharam centralidade nos debates ao longo da manhã. Os participantes colocaram a dificuldade da academia de se abrir para uma metodologia inovadora. Mayara Melo, do Núcleo TRAMAS/Reaja (UFC), diz que o “núcleo vem trabalhando com sistematização e isto tem sido um exercício de reflexão sobre as próprias práticas. Ela afirma ainda que o processo tem levado a reflexão sobre a construção com os movimentos sociais e afirmação do diálogo dos saberes”.
 
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Pergunta orientadora para o debate no contexto da agroecologia.

Para Alzira Medeiros, “a sistematização tem por objetivo construir novos conhecimentos, reconhecendo ou referendando saberes invisibilizados, onde os sujeitos, muitas vezes, não possuem consciência do seu próprio conhecimento. Para a sistematização todos os saberes são conhecimentos e a pesquisa se insere também no campo da militância num processo contínuo de ação e reflexão”.
 
A professora Maria Virgínia Aguiar do Núcleo de Agroecologia e Campesinato (NAC-UFRPE) e da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), afirma que já “estamos organizados e organizadas em Rede e devemos valorizar nossas experiências para avançar, compreendendo principalmente que a comunicação é um processo importante para isto e, que tem dois movimentos: para dentro e para fora”. Nesse sentido, um primeiro passo foi dado na construção de uma agenda estratégica onde os NEAs e CVTs intercambiaram as atividades que irão realizar, tais como seminários, caravanas agroecológicas e culturais, cursos de formação, encontros estaduais, entre outras, além disso uma comissão de comunicação ficou responsável por agregar e sistematizar as informações do que já vem sendo feito, dando prioridade neste momento em firmar a comunicação em rede.
 
 
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Rendeiras e rendeiros participantes do seminário.
Ao final do encontro os participantes se chamavam por rendeiros e rendeiras, demonstrando que o Seminário RENDA/NE foi o início de convergências de ideias, intercâmbios de experiências,  reconhecimento e afirmação da Rede. O desafio está posto, a rede já está balançando como brincaram alguns participantes e aos poucos as mensagens que iam chegando: “Paraíba na estrada, cheia de amor e gratidão!”; “povo da Bahia no aeroporto, após este lindo encontro que renova nossas esperanças!”; “Maranhão na estrada!”; “gratidão pelos aprendizados!”, traziam a clareza de que construir agroecologia nos IES perpassa também por momentos como estes. Assim  terminou o seminário, com animação e disposição para o próximo encontro da RENDA/NE que já está próximo: Rumo IX Congresso Brasileirode Agroecologia em Belém do Pará.
 
 
Seminário realizado em Delmiro Gouveia, no estado de Alagoas, debateu sobre o tema e lançou a 7ª Romaria das Águas e da Terra. PDF Imprimir E-mail

Seminário realizado em Delmiro Gouveia, no estado de Alagoas, debateu sobre o tema e lançou a 7ª Romaria das Águas e da Terra.

(Fonte: CPT Alagoas)

O canal do sertão é uma das maiores obras de engenharia hídrica do mundo, que, em teoria, pretende levar água tratada para cerca de um milhão de pessoas em Alagoas em quase metade dos municípios Alagoanos. Entretanto, o que se pode observar nesses dois anos, em que os primeiros 65 km do Canal foram inaugurados, é que sua utilidade ainda não alcançou o povo pobre do sertão, pelo contrário, só tem privilegiado os grandes proprietários de terra, consolidando o poder econômico das elites locais.

Essa discussão foi o tema do Seminário “O Canal do Sertão: para que? Para quem?”, realizado no dia 28 de agosto, no Campus de Delmiro Gouveia da Universidade Federal de Alagoas. A atividade foi o pontapé para a 7º Romaria das Águas e da Terra, que será realizada nos dias 26 e 27 de setembro, também em Delmiro.

Mais de 500 pessoas, entre assentados, acampados, indígenas, quilombolas, alunos da UFAL e de colégios estaduais, lotaram o auditório Graciliano Ramos para ouvir o professor e geografo Cláudio Ubiratan da UFPE, os membros do Grupo de Estudos Agrários e Socioterritoriais (GEAST), Wanúbya Menezes e Felipe Ferreira, e o monge missionário do campo, João Batista, debaterem sobre a problemática das águas no sertão.

De acordo com os estudos realizados pelo GEAST, sobre o uso das águas pela população que vivem nas proximidades do Canal do Sertão, só os grandes proprietários rurais e latifundiários estão, efetivamente, sendo beneficiados pela obra.

“Na contramão do que foi possível observar nas pequenas propriedades, assentamentos e acampamentos, em uma grande propriedade do município de Delmiro Gouveia já se vem fazendo uso do Canal de forma mais efetiva, e com uma produção monocultora de agricultura irrigada considerável, com aparatos tecnológicos muito mais avançados”, afirmou Wanúbya Menezes, mestranda em Geografia pela UFAL.

O Grupo tem se dedicado a realizar visitas aos proprietários rurais (grandes e pequenos) e estudar sua relação com obra hídrica. Eles perceberam que o projeto não atende as necessidades dos camponeses e dos sem-terra.

“Alguns poucos pequenos ou médios proprietários rurais que margeiam o Canal do Sertão nos municípios de Delmiro Gouveia e Água Branca e que conseguiram custear o equipamento necessário para desenvolver algum tipo de cultura irrigada usam o Canal de forma improvisada, devido ao alto custo dos equipamentos e a falta de assistência e orientação técnica. A situação se agrava nos assentamentos, onde são raros os casos dos assentados que fazem uso do Canal, mesmo para o consumo humano”, complementou a geógrafa.

Os demais palestrantes também foram uníssonos em defender que para alterar o destino da água do canal é necessário intensificar a luta pela terra nas suas margens. O professor e Geografo Cláudio Ubiratan da UFPE afirmou que “o canal do sertão faz parte de uma estratégia do capital. O canal encontra-se dentro de um projeto maior, o mesmo da transposição das águas do Rio São Francisco”.

Por sua vez, o monge João Batista enfatizou que a água e bem da humanidade. “Devemos prezar pela vida dos mais pobres. Estamos diante de uma obra bilionária que não tem melhorado as condições de vida do povo, permitindo um maior acesso à água. Isso nos faz lembrar que também nesse projeto o povo não foi ouvido. Mas, agora, é precisamos lutar para garantir o nosso direito”, concluiu o monge.

Definições

O Seminário concluiu que é preciso a união e organização de vários setores da sociedade na defesa da agricultura camponesa e das águas. Nesse sentido, a CPT, a UFAL, a paróquia nossa senhora do Rosário, os indígenas, os quilombolas e os assentados conformarão um comitê popular e redigirão de um manifesto sobre o tema. O comitê realizará sua primeira reunião no próximo dia 10, às 14h30, no salão paroquial de Delmiro Gouveia.

Quanto à Romaria das Águas e da Terra, todos os presentes se comprometeram a se fazer presentes e consolidar a atividade como um espaço de fé e de luta contra o atual destino atual das águas do canal do sertão. O manifesto do comitê popular será lançando na romaria no dia 26 de setembro.

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Por uma leitura das (ir)racionalidades do capital nos tempos e espaço da barbárie PDF Imprimir E-mail
Por uma leitura das (ir)racionalidades do capital nos tempos e espaço da barbárie
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Por Claudemir Martins Cosme[1]

Professor do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) – Campus Piranhas

De 16 a 22 de agosto de 2015, cursei, como aluno de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco, a disciplina “Espaço, Poder e Política no Mundo Agrário”, ministrada pelo Prof. Cláudio Ubiratan Gonçalves. Uma oportunidade ímpar pelos seguintes motivos, que pretendo entrelaça-los nestes escritos: a) permitiu conhecer a luta e a resistência do Campesinato Quilombola pelo seu território, no município de Brejo Grande, Território do Baixo São Francisco, Estado de Sergipe e, b) possibilitou participar do III Encontro Nacional do Grupo de Pesquisa “Estado, Capital, Trabalho (GPECT), da Universidade Federal de Sergipe (UFS), com a temática “ As (ir)racionalidades do capital nos tempos e espaço da barbárie”, título que incentivou e que dá nome a esta breve nota.

Na primeira parte da disciplina, foi possível conhecer de perto a resistência dos Quilombolas da comunidade de Brejão dos Negros, localizada acerca de 8 km da sede do município de Brejo Grande. Quatrocentas e dez famílias quilombolas ribeirinhas do Rio São Francisco, praticantes da agricultura e da pesca na foz do São Francisco, portanto com relações umbilicais com a terra e com a água, bravamente, travam uma luta, insubmissa e emancipatória, contra a sanha insaciável de uma meia dúzia de proprietários de terra, que só visam ao lucro a qualquer preço. No espaço agrário em questão, especialmente, nas comunidades quilombolas visitadas, água e petróleo estão presentes, o que aguça o espírito economicista dos capitalistas rentistas[2]. Sem nenhuma preocupação, estes arquitetam planos perversos para arrancar, de qualquer forma, as famílias quilombolas das terras. Famílias que há dezenas de anos, na condição de moradores de condição, meeiro, parceiros, entre outros, habitaram os engenhos que haviam na região e, simplesmente, na calada da noite se veem frente as tentativas de expulsarem-nas das suas terras ancestrais. Na busca pela existência e preservação de seus saberes, sua cultura, seu modo de vida, sua relação com a natureza, enfim, suas relações entre os homens, mulheres e crianças, diametralmente opostas às relações do mundo do capital, lutam e resistem, diuturnamente, na busca pela vida e, mais, por outra forma de viver e se relacionar com a natureza e com os outros[3].

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Figura 01 – Momento na Comunidade Quilombola de Resina – Brejo Grande – SE. Foto: Claudemir Martins Cosme, Trabalho de campo, 2015.

Face esta realidade aludida, a participação no III Encontro Nacional do Grupo de Pesquisa “Estado, Capital, Trabalho”, foi um momento singular para refletir acerca das inquietações suscitadas no momento de campo e, assim, buscar compreender a luta e resistência dos Quilombolas em tela. Um evento, onde a centralidade era refletir, como o próprio tema já explicitava, as barbáries e as irracionalidades do capital, a partir do pensamento e da obra do filósofo alemão Karl Marx. Destarte, através do seu método, o materialismo histórico e dialético, intelectuais de referência nas suas áreas de atuação, desde a Coordenadora do GPECT e do evento, a Profa. Alexandrina Luz Conceição, aos expositores das mesas, os professores Ricardo Luiz Coltro Antunes, com a temática “As (ir) racionalidades do capital nos tempos e espaço da barbárie”, Ivo Tonet, debatendo “Educação, ideologia e poder” e Ariovaldo Umbelino de Oliveira, discutindo “Reforma agrária: a luta pela terra e território nos tempos e espaços das (ir)racionalidades do capital”, deram uma mostra da atualidade e relevância do edifício teórico e filosófico deixado por Karl Marx, numa perspectiva de se compreender as contradições da sociedade neste início de século XXI e propor mudanças estruturais por meio da crítica radical. A presença do representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) e da Profa. Raimunda Aurea de Souza, na mesa redonda intitulada: “Territórios ameaçados: conflitos e resistências”, bem como, o comparecimento de pesquisadores de diversas partes do país discutindo nos Grupos de Trabalhos e realizando intervenções nos debates, contribuíram em muito para aprofundar a reflexão e expor as contradições políticas da sociedade brasileira no momento atual[4].

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Figura 02 – Conferência de abertura do Encontro proferida pelo Prof. Ricardo Antunes, UFS. Foto: Claudemir Martins Cosme, 2015.

Neste bojo, entrelaçando o momento de campo junto aos Quilombolas e a reflexão empreendida a partir do materialismo histórico e dialético durante o evento, é que a realidade vai sendo decifrada. Neste momento, foi possível entender a contradição da ação do Estado e dos diferentes governos no trato da questão agrária, especificamente, nos conflitos territoriais entre a classe camponesa e os proprietários capitalistas rentistas. Contradição que se acirra quando percebemos uma ação do Estado, através dos governos e do judiciário, direcionada a não ferir os interesses destes últimos, a exemplo do próprio conflito envolvendo os Quilombolas de Brejão dos Negros.

Mais do que nunca, na batalha das ideias que vivemos, seja na academia, na mídia e nas frações territoriais em disputas Brasil a fora, ficou evidente nas discussões do Encontro, que devemos sim atualizar e renovar sempre o pensamento do filósofo alemão, ao invés de secundarizar os seus escritos, como querem os ideólogos da manutenção do status quo. É preciso perceber o potencial da ocular do materialismo histórico e dialético para a leitura do desenvolvimento contraditório do capital, bem como, é mister encarar os desafios de interpretar as lutas e resistências de sujeitos sociais como os quilombolas sergipanos.

Assim, para aqueles que querem enveredar por meio da crítica radical e fazer proposições de mudanças estruturais, consequentemente, de ruptura com as contradições da sociedade atual, o entendimento e a discussão de algumas categorias centrais da obra de Karl Marx é condição sine qua non para refletir sobre as contradições da sociedade neste início de século XXI. Sendo mais direto, se queremos enveredar através da crítica radical, é preciso ter em mente que categorias/conceitos como: classe social, trabalho, Estado, renda da terra, capital, modo de produção, revolução, devem estar, ou melhor, retornar para o centro das pesquisas e estudos sob pena, na ausência destes, de escamotearmos os processos que produzem e são produzidos no ato de construção das frações territoriais de resistências contra hegemônicas, levadas a cabo pelos diversos sujeitos sociais em luta contra as (ir) racionalidade e as barbáries cometidas pelo capital na sociedade contemporânea.

Referências

MARTINS, José de Souza. Os camponeses e a política no Brasil: as lutas sociais no campo e seu lugar no processo político. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 1981.

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Modo capitalista de produção, agricultura e reforma agrária. São Paulo: FFLCH/Labur Edições, 2007.Disponívelem:. Acesso em: 30 ago. 2015.


[1] Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco. Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com mestrado sanduíche na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Graduado em Licenciatura Plena em Geografia pela Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIDAM)/Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Graduado em Tecnólogo em Recursos Hídricos/Irrigação pelo Instituto Centro de Ensino Tecnológico (CENTEC). Pesquisador membro do Laboratório de Pesquisas e Estudos sobre o Espaço Agrário e Campesinato (LEPEC) e do Núcleo de Agroecologia, ambos do PPGEO/UFPE.

[2] Interpreto o desenvolvimento do capitalismo no Brasil a partir da leitura de Martins (1981, p. 177), quando afirma que “comprando a terra, para explorar ou vender, ou subordinando a produção do tipo camponês, o capital mostra-se fundamentalmente interessado na sujeição da renda da terra, que é a condição pra que possa sujeitar também o trabalho que se dá na terra”. Bem como, de Oliveira (2007, p. 57), que na mesma linha do referido autor, assevera que “[...] no modo capitalista de produção a terra, embora não tenha valor (pois não é produto do trabalho humano) tem um preço, e a sua compra dá ao proprietário o direito de cobrar da sociedade em geral a renda que ele pode vir a dar. Em uma palavra, ao comprar a terra compra-se o direito de auferir a renda da terra”.

[3] Desde meados de 2000, com apoio da Igreja Católica, os descendentes de escravos fugidos, dos cerca de 20 engenhos da região e que hoje formam a Comunidade de Brejão dos Negros, vem construindo sua história e sua identidade Quilombola, conquistando já em 2006 o certificado da Fundação Cultural Palmares. Não obstante, a luta é árdua contra a intimidação e a violência por parte dos latifundiários, bem como, contra os desmandos, a complacência e a omissão dos governantes e do judiciário, além do preconceito de parte dos habitantes da cidades e da própria comunidade. Para maiores informações sobre a luta dos quilombolas em questão acessar a reportagem “Brejão dos Negros: cercas cortadas mantêm conflitos”. Disponível em:. Acesso em: 30 ago. 2015. Também o documentário: "Brejão dos Negros - Memória e Identidade". Disponível em: . Acesso em 30 ago. 2015.

[4] O evento vem se consolidado no cenário nacional pela profundidade das discussões. A organização do mesmo se dá a partir de grupos de trabalhos, onde ocorre uma discussão coletiva dos trabalhos inscritos no evento, mesas redondas com abertura para o diálogo com os participantes. O Encontro ocorreu de 19 a 21 juntamente com o IX Fórum “Estado, capital, trabalho”, organizado pelo Grupo de Pesquisa Estado, Capital, Trabalho (GPECT), sob a Coordenação da Profa. Dra. Alexandrina Luz Conceição, na Universidade Federal de Sergipe. Para mais detalhes acessar o site: <https://engpect.wordpress.com>.

 
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