Direto do quintal
para a sua farmácia
Estudo do Departamento de Farmácia,
em conjunto com pesquisadores da Bahia e Paraíba, identificou
o caju e a romã como cosméticos de qualidade
Anderson Lima
Já pensou em usar gel de Punica granatum para combater
espinhas, ou de Amacardium occidentali para tirar o brilho do
rosto? Calma. Apesar dos nomes, não se trata de novos medicamentos
genéricos, mas de suas plantas que podem ser encontradas
no quintal da maioria das casas brasileiras: a romã e o
caju roxo. Isto se tornou possível graças aos esforços
de profissionais dos estados de Pernambuco, da Paraíba
e da Bahia. Aqui no Estado, os trabalhos são realizados
pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares de Plantas Medicinais
(Gemplam), formado por alunos de graduação, mestrado
e doutorado, técnicos e professores do Departamento de
Farmácia da UFPE. A cooperação entre as equipes
renderá ainda a aplicação por três
meses do gel da goiaba vermelha no público infantil do
Instituto Materno-Infantil de Pernambuco, Imip, na forma de um
gel bucal contra a periodontite, aplicações também
estudadas para os géis de romã e caju.
Romã - O gel da romã, que começou a ser estudado
em 1995, foi o primeiro produto a ser obtido dessa parceria, e
apresenta duas aplicações práticas: "Ele
previne o aparecimento de acnes e também favorece a adstringência
da pele. Indiretamente ele se torna um 'hidratante'", explica
a professora Jane Sheila Higino, coordenadora da produção
do gel.
Essa ação hidratante, como explica Jane Sheila,
ocorre devido à ação emulsificante do gel
(ele age como um detergente diluindo a gordura) o que faz com
que a oleosidade diminua e a umidade natural da pele aflore. O
exame toxológico do produto já foi concluído
e o produto já está em vias de ser comercializado.
Já o gel do cajueiro roxo, que consumiu um ano de pesquisas
até ficar pronto, além das aplicações
semelhantes ao extrato da romã, também pode ser
utilizado no combate de infecções oportunistas.
Mesma atuação apresentada pelo gel da goiaba vermelha
(Psidium guayava) que age contra microorganismos (a exemplo das
bactérias) que provoquem infecções oportunistas
difíceis de serem curadas e que podem levar a conseqüências
mais graves ao organismo, como o câncer do colo do útero.
Sua aplicação se daria, em especial, em pacientes
com HIV ou que se tratam com radioterapia ou quimioterapia, uma
vez que seus sistemas imunológicos estariam debilitados.
Os estudos foram iniciados em Pernambuco, mas os testes clínicos,
como a aplicação odontológica do produto,
tiveram origem no Estado da Paraíba. Como parte da parceria
estabelecida entre as instituições, toda a matéria-prima
necessária para os estudos é fornecida pelo Departamento
de Farmácia da UFPE. Os trabalhos já deram origem
a duas teses de mestrado e mais outras três de doutorado.
É natural,
mas requer precauções
As atividades desenvolvidas pelos
profissionais do Departamento de Farmácia da Universidade
não ficam apenas na preparação dos géis.
Os trabalhos já renderam inclusive um projeto de extensão,
já convertido em uma disciplina da graduação,
que consiste na conscientização da comunidade desde
a implantação de hortas medicinais até a
preparação dos fitoterápicos. "Informamos
a população da forma correta de agir e, principalmente,
dos cuidados. Eles têm que ter com o medicamento natural
o mesmo respeito que têm com o medicamento alopático,
que se compra nas farmácias. Pois, do mesmo jeito que se
tem riscos com o medicamento comprado na farmácia, também
se tem riscos com o medicamento natural", alerta a professora
Jane Sheila.
Mas por que produzir o gel e não apenas consumir um chá
das folhas da planta? "Com o medicamento, a pessoa tem condições
de determinar uma mesma concentração a cada aplicação
e estabilidade. Com a infusão, o popular chazinho, nós
temos folhas idênticas, mas o que garante que a concentração
nas duas seja a mesma? Como você vai garantir que a folha
extraída da planta do quintal tenha a mesma concentração
na mesma planta cultivada na frente do jardim? Se eu fizer o gel
não haverá esse problema. Isto é importante
para tratar os microorganismos", conclui Jane Sheila.
A respeito dessa conscientização da comunidade,
a professora adianta que o Departamento de Farmácia possui
um projeto já aprovado junto à Prefeitura da Cidade
do Recife sobre fitoterapia. O trabalho prevê a implantação
das hortas e treinamento dos agentes de saúde.
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