Ano VIII - Nº 93 - Janeiro/2002












 

Direto do quintal para a sua farmácia

Estudo do Departamento de Farmácia, em conjunto com pesquisadores da Bahia e Paraíba, identificou o caju e a romã como cosméticos de qualidade

Anderson Lima


Já pensou em usar gel de Punica granatum para combater espinhas, ou de Amacardium occidentali para tirar o brilho do rosto? Calma. Apesar dos nomes, não se trata de novos medicamentos genéricos, mas de suas plantas que podem ser encontradas no quintal da maioria das casas brasileiras: a romã e o caju roxo. Isto se tornou possível graças aos esforços de profissionais dos estados de Pernambuco, da Paraíba e da Bahia. Aqui no Estado, os trabalhos são realizados pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares de Plantas Medicinais (Gemplam), formado por alunos de graduação, mestrado e doutorado, técnicos e professores do Departamento de Farmácia da UFPE. A cooperação entre as equipes renderá ainda a aplicação por três meses do gel da goiaba vermelha no público infantil do Instituto Materno-Infantil de Pernambuco, Imip, na forma de um gel bucal contra a periodontite, aplicações também estudadas para os géis de romã e caju.

Romã - O gel da romã, que começou a ser estudado em 1995, foi o primeiro produto a ser obtido dessa parceria, e apresenta duas aplicações práticas: "Ele previne o aparecimento de acnes e também favorece a adstringência da pele. Indiretamente ele se torna um 'hidratante'", explica a professora Jane Sheila Higino, coordenadora da produção do gel.
Essa ação hidratante, como explica Jane Sheila, ocorre devido à ação emulsificante do gel (ele age como um detergente diluindo a gordura) o que faz com que a oleosidade diminua e a umidade natural da pele aflore. O exame toxológico do produto já foi concluído e o produto já está em vias de ser comercializado. Já o gel do cajueiro roxo, que consumiu um ano de pesquisas até ficar pronto, além das aplicações semelhantes ao extrato da romã, também pode ser utilizado no combate de infecções oportunistas. Mesma atuação apresentada pelo gel da goiaba vermelha (Psidium guayava) que age contra microorganismos (a exemplo das bactérias) que provoquem infecções oportunistas difíceis de serem curadas e que podem levar a conseqüências mais graves ao organismo, como o câncer do colo do útero. Sua aplicação se daria, em especial, em pacientes com HIV ou que se tratam com radioterapia ou quimioterapia, uma vez que seus sistemas imunológicos estariam debilitados.

Os estudos foram iniciados em Pernambuco, mas os testes clínicos, como a aplicação odontológica do produto, tiveram origem no Estado da Paraíba. Como parte da parceria estabelecida entre as instituições, toda a matéria-prima necessária para os estudos é fornecida pelo Departamento de Farmácia da UFPE. Os trabalhos já deram origem a duas teses de mestrado e mais outras três de doutorado.

 

É natural, mas requer precauções

As atividades desenvolvidas pelos profissionais do Departamento de Farmácia da Universidade não ficam apenas na preparação dos géis. Os trabalhos já renderam inclusive um projeto de extensão, já convertido em uma disciplina da graduação, que consiste na conscientização da comunidade desde a implantação de hortas medicinais até a preparação dos fitoterápicos. "Informamos a população da forma correta de agir e, principalmente, dos cuidados. Eles têm que ter com o medicamento natural o mesmo respeito que têm com o medicamento alopático, que se compra nas farmácias. Pois, do mesmo jeito que se tem riscos com o medicamento comprado na farmácia, também se tem riscos com o medicamento natural", alerta a professora Jane Sheila.
Mas por que produzir o gel e não apenas consumir um chá das folhas da planta? "Com o medicamento, a pessoa tem condições de determinar uma mesma concentração a cada aplicação e estabilidade. Com a infusão, o popular chazinho, nós temos folhas idênticas, mas o que garante que a concentração nas duas seja a mesma? Como você vai garantir que a folha extraída da planta do quintal tenha a mesma concentração na mesma planta cultivada na frente do jardim? Se eu fizer o gel não haverá esse problema. Isto é importante para tratar os microorganismos", conclui Jane Sheila.
A respeito dessa conscientização da comunidade, a professora adianta que o Departamento de Farmácia possui um projeto já aprovado junto à Prefeitura da Cidade do Recife sobre fitoterapia. O trabalho prevê a implantação das hortas e treinamento dos agentes de saúde.